ISCSPoiler – Estranha Forma de Vida estreia a 12 de outubro nos cinemas.

A curta metragem de Pedro Almodóvar, Estranha Forma de Vida, estreada em Cannes, apresenta-nos um diálogo entre dois ex amantes, no ano de 1910, 25 anos depois do seu primeiro encontro.

Ao som da melancólica melodia do fado português que dá nome à obra, por sua vez interpretado por Caetano Veloso, somos apresentados a Silva, interpretado por Pedro Pascal que chega, montado no seu cavalo, após ter completado a travessia do deserto que separa o seu rancho da cidade de Bitter Creek. O propósito desta viagem: reencontrar-se com Jake, interpretado por Ethan Hawke, o xerife da cidade, desta vez, e passado todos estes anos, assombrado por trágicas circunstâncias causadas pelo acontecimento de uma morte na cidade.

Nessa noite, os dois homens partilham um guisado de carne e, sentados à mesa de Jake, relembram os velhos tempos em que ambos trabalhavam como pistoleiros contratados. Comem, bebem e fazem amor. Ao nascer do sol, Silva continua apaixonado e emotivo, enquanto que Jake é consumido por uma frieza inquebrável, dando lugar a uma distância um tanto oposta do que havia sentido na noite anterior.

Num total de 30 escassos minutos que, por sua vez, passam a uma velocidade estonteante, Pedro Almodóvar transporta o espetador até aos tempos áureos dos cavalos e cowboys, através de um western, propondo-se a reescrever o género cinematográfico, à sua maneira, abordando temas modernos e contemporâneos, o amor e sexualidade, paixão e desejo.

É seguro afirmar que o tratamento de tais temas nas criações do realizador não são certamente novidade, atendendo às suas obras prévias, tais como Pain and Glory (2019) ou All about my mother (1999). Estranha Forma de Vida oferece uma abordagem queer a um género tão dominado pelo modelo do homem hétero e completamente viril como é o western, associado a guerras e a conquistas do Oeste, de certa forma, e citando o realizador, um pouco como uma “epopeia americana”, um género de uma Ilíada ou Odisseia do Novo Mundo.

Esta curta metragem oferece a representação de um romantic lead muito diferente daquilo que habitualmente pode ser visto nas salas de cinema. Não é retratado um amor jovial, ou um adolescente apaixonado, nem se pode contar com uma cena de amor explícita. Ao invés disso, são-nos apresentados dois homens completamente diferentes, maduros, na casa dos cinquenta, que partilham uma tensão sexual intensificada pela ânsia que sentem um pelo outro, dando lugar a uma sensualidade e erotismo implícitos.

Fonte: Esquire

Tal não seria possível sem as brilhantes performances dos grandes Pedro Pascal e Ethan Hawke que oferecem ao espetador uma química palpável e completamente hipnotizante, reforçando ainda toda a intensidade que esta obra promete. Algo que não pode passar despercebido é a participação do ator português José Condessa que, apesar de não disfrutar de um grande papel,  desempenha-o muito bem, dotado da skill e talento aos quais nos acostumou e, pondo, assim, mais um português no mapa de Hollywood.

Estranha Forma de Vida apresenta-se como uma curta metragem que se dedica à exploração do desejo masculino, dotada de um diálogo incrivelmente bem conseguido e adornada por uma cinematografia espetacular, contando com planos dos desertos do Oeste e com uma estética irrevogável, por sua vez transparecida nos cenários e na sua atenção ao detalhe, bem como nos figurinos das personagens, cujo estilo se deve à associação de Pedro Almodóvar a Anthony Vaccarello, head designer da Yves Saint Laurent que se uniu ao realizador na produção desta obra.

Desta forma, esta curta metragem de Pedro Almodóvar, que marca a sua segunda criação em língua inglesa, assume-se como o esforço do realizador de pegar no clássico western americano e abordá-lo à sua maneira, através de uma lente contemporânea e queer, resultando, assim, numa obra espetacular, de uma abordagem completamente original, ao retrato do desejo carnal masculino, neste caso, do homem mais velho, algo que não é muito comum, mas muito necessário no cinema destes tempos modernos.

Nota: 4/5

Escrito por: Inês Reis

Editado por: Diana Rebelo Trigueiro

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