Uma horta na Cidade Universitária?

No passado dia 28 de setembro tive o privilégio de participar em mais um dia aberto da HortaFCUL, que ocorre nas últimas quintas-feiras de cada mês, a partir das 15h.

Embora tenha usado a expressão “mais um dia”, as atividades proporcionadas por este projeto são tudo menos monótonas. Numa só tarde tive a oportunidade de: propagar Sálvia Ananás, de aprender mais sobre o processo de compostagem, de plantar diversas leguminosas -como tremoços e ervilhas- e ainda de estabelecer amizades com pessoas que estão sempre dispostas a ajudar e a partilhar conhecimentos.

Propagação de Sálvia Ananás, Fonte da imagem: Sofia Isidoro
Compostagem, Fonte da imagem: Sofia Isidoro
leguminosas antes de serem plantadas (Tremoços, ervilhas e favas), Fonte da imagem: Sofia Isidoro
A melhor foto que encontrei para descrever o ambiente que presenciei na Horta, Fonte de imagem: Sofia Isidoro

Mas afinal o que é que é a HortaFCUL?

A HortaFCUL é um projeto assente na permacultura urbana e começou em 2009, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Localiza-se na cidade universitária e o ponto de encontro para os dias abertos é o Permaculture Living Lab (Permalab).

Uma das entradas da HortaFCUL, Fonte da imagem: Sofia Isidoro

Este projeto foi iniciado por estudantes da FCUL, que, por um lado, visavam aproveitar e melhorar espaços verdes da universidade, de modo a torná-los mais produtivos, sustentáveis e biodiversos e, por outro, a construir uma comunidade que espalhasse a palavra sobre a importância da partilha e da sustentabilidade.

Na HortaFCUL, entendidos da área ensinam-nos a beneficiar da natureza sem a destruir, retirando o que precisamos dela enquanto, simultaneamente, contribuímos para a sua renovação.

A Horta não é exclusiva a estudantes, qualquer pessoa pode participar neste projeto, seja nos diversos dias abertos -gratuitos, sendo o próximo dia 26 de outubro– que são feitos, quer nos vários workshops que organizam, sendo os próximos em colaboração com os Jardins Abertos -nos dias 4 e 11 de novembro.

Investigador David Avelar a ensinar visitantes no dia aberto, Fonte da imagem: Sofia Isidoro

O que é a Permacultura?

Este artigo tem sobretudo o objetivo de dar a conhecer o tão importante projeto que a HortaFCUL tem vindo a desenvolver, no entanto diria que é pertinente e até essencial fazer uma (grande) tangente para explicar o que é a permacultura, dando então, neste momento do artigo, uma contextualização mais teórica da mesma.

Bill Mollison (conhecido como o “pai” da permacultura) refere-se à permacultura como um método para projetar sistemas sustentáveis de uso da terra.

Permacultura é o planeamento e a manutenção consciente de ecossistemas de agricultura produtivos, que tenham a diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. É a integração harmoniosa das pessoas e da paisagem, fornecendo alimento, energia, abrigo e outras necessidades, materiais ou não, de forma sustentável

Bill Mollison

Mollison defende ainda que não devemos trabalhar contra a Natureza, mas sim trabalhar com ela. Para isso, Bill refere que precisamos de a observar e de compreender os seus diversos sistemas, não nos limitando a exigir produtos de modo insustentável. Devemos permitir que os diversos sistemas se desenvolvam naturalmente, respeitando os diversos ciclos que se integram neles.

O conceito de permacultura é mais do que uma técnica de planeamento ambiental, é também, para muitos, um estilo de vida.

Foi no contexto de uma crise ambiental, causada pela excessiva mecanização e utilização de produtos químicos, que Bill Mollison e o seu aluno David Holmgren decidiram viajar por diversos países, estudando várias tradições ancestrais ligadas à produção de alimentos. A combinação destas técnicas ancestrais com uma ciência moderna deu então origem à permacultura, que nasceu nos anos 60 na Austrália.

Este sistema procura potencializar o desperdício e aproveitar diversos fatores naturais para a produção, não recorrendo a energias que não sejam sustentáveis. A permacultura tenta utilizar o que a rodeia a seu favor, criando um ciclo em que nada é lixo, tudo tem utilização. Deste modo, a saída de um componente não significa uma perda, mas sim uma oportunidade, na medida em que vai permitir fornecer os recursos para outro elemento. Para tornar a explicação mais palpável achei pertinente usar um dos vários projetos realizados pela HortaFCUL como exemplo: Uma carpete estragada, que teria sido vista como um desperdício  para muitos, aplicada ao sistema da permacultura não foi vista como uma perda, mas sim como uma oportunidade de fornecer recursos para outro componente. Esta carpete foi usada para criar uma plantação vertical e permitir que novas plantas encontrassem lá uma casa:

Parede vertical feita pela HortaFCUL, recorrendo a uma carpete que ia ser desperdiçada, Fonte da imagem: Sofia Isidoro

De um modo geral, com a permacultura responde-se a diversas necessidades, sejam estas alimentares, ou até de convivência. Esta técnica respeita o equilíbrio dos biomas enquanto potencializa as qualidades do local na qual está a ser aplicada, trabalhando sempre com os resíduos da etapa anterior.

De acordo com Fernando J.P. Neme, os principais objetivos da permacultura são:

“cuidar da terra, cuidar da pessoa, produzir fartura, não poluir, mitigar e compensar, cultivar alimentos saudáveis, captar e usar a água de forma responsável, construir inserindo-se na paisagem, preferir o uso de energia renovável de fonte limpa, fomentar o comércio justo e solidário, entre outras ações socioambientais resilientes”

Pessoalmente, a permacultura tornou-se numa inspiração, na medida em que não vê as perdas como ameaças, mas sim como potenciais oportunidades.

Fonte da imagem: Sofia Isidoro

Abandonando a (grande) tangente e voltando à minha experiência pessoal no dia aberto da HortaFCUL, foi-me dada a informação de que a Horta apoia outros projetos, cuja divulgação é igualmente importante, como a Rizoma. Esta é uma empresa cooperativa e vende produtos biológicos, que a HortaFCUL compra sempre que há algum alimento que a terra da Cidade Universitária não nos possa fornecer em X momento.

Com estes alimentos a Horta faz deliciosos jantares no final de cada dia aberto, dando a provar produtos biológicos, não só da própria horta, como também da Rizoma.

Preparação do jantar no dia aberto com produtos biológicos, Fonte da imagem: Sofia Isidoro
Jantar na HortaFCUL, Fonte da imagem: Sofia Isidoro
Fonte da imagem: Sofia Isidoro

Como apoiar a HortaFCUL?

Fonte da imagem: Sofia Isidoro

Há diversas formas de apoiar este projeto que (passe a redundância) apoia tanta gente. É possível fazê-lo adquirindo plantas na banca da dádiva (localizada à entrada da biblioteca do pavilhão C4 da FCUL), em que cada um paga aquilo que achar justo/que conseguir dar.

Banca da dádiva, Fonte da imagem: Sofia Isidoro

Outra forma monetária de apoiar este projeto é através do MBWAY da HortaFCUL , ou da caixa de doações presente na Horta.

Caixa de donativos para a HortaFCUL, com o respetivo MBWAY, Fonte da imagem: Sofia Isidoro

Mas também dá para apoiar este projeto de uma forma não monetária! Através da comunicação da existência do mesmo e da aprendizagem de conceitos como a permacultura.

Tendo isso em conta, deixo aqui as diversas formas de contactar e de acompanhar este bonito projeto:

Instagram da HortaFCUL (por onde é possível acompanhar as datas dos diversos dias abertos e workshops): https://www.instagram.com/hortafcul/

Website da HortaFCUL: https://linktr.ee/hortafcul

Youtube da HortaFCUL: https://www.youtube.com/@TheTeamhorta  

Site da Rizoma: https://www.rizomacoop.pt/

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Sofia Isidoro

Editado por: Joana Matos

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