Faz já quase dois anos que o nosso Salvador Sobral venceu o Festival da Canção com Amar Pelos Dois e, cerca de dois meses mais tarde e de forma esperada (ou não), conquistou a Europa, dando a Portugal o primeiro lugar na Eurovisão. Fez-se história, não só por ter sido a nossa primeira vitória no festival, como também por Salvador ter alcançado o maior número de votos alguma vez obtidos no concurso.
Os portugueses sempre desconfiaram das capacidades de Salvador Sobral, criticando-o até ao fim, ora porque não gostavam dos seus gestos exagerados, ora porque não gostavam da sua maneira de vestir, ora porque achavam que a sua música “sem fogo de artifício” não era digna de representar o país na Eurovisão. Mas, lá fora, a opinião era bem diferente: os estrangeiros achavam a música extraordinária, bonita, simples, e a mais provável vencedora do concurso. Mas, independentemente dos argumentos utilizados pelos portugueses para contestar o concorrente escolhido, a verdade é que caíram todos por terra depois da vitória em Kiev, dando uma valente lição ao povo lusitano (ou, pelo menos, era o que se achava).
E se há dois anos a indignação dos portugueses estava relacionada com a ida de Salvador Sobral à Eurovisão, este ano essa mesma indignação vira-se para Conan Osiris, vencedor deste ano do Festival da Canção e futuro concorrente português na 64ª edição do Festival Eurovisão da Canção, em Telavive.
As críticas são variadas e diferentes das feitas a Salvador: “é muito excêntrico”, “a letra parece ter sido escrita por uma criança”, “não se percebe o que o bailarino está ali a fazer”, e por aí em diante. Como já foi explicado no artigo lançado no mês passado, “nem toda a gente gosta e isso não é, nem nunca foi, um problema para este debate, mas sim as justificações apresentadas”, porque a verdade inegável é que Conan Osiris produz música diferente, que não soa bem em todo o ouvido, mas que tem realmente potencial para ganhar uma Eurovisão, onde o que conta é a originalidade, o espetáculo e o ritmo, algo que não falha a Conan, que, ao misturar kizomba, eletrónica, música oriental e até mesmo fado, consegue produzir um estilo próprio.
Tal como foi com Salvador, também Conan é aplaudido no estrangeiro, estando já Portugal no top 10 dos países favoritos à vitória. Mesmo que não se concretize, acho que isto comprova que os portugueses deveriam ter a mente um pouco mais aberta em relação à música que se produz cá. Não é porque o nome da música é “Telemóveis” que a canção é, de facto, sobre telemóveis, ou, se assim é, não significa que o seja num sentido superficial e sem sentido, mas essa discussão deixo para mais tarde.
Esperemos que a profecia se realize e que Conan consiga ensinar aos portugueses aquilo que Salvador não conseguiu: “ser diferente não é ser bom“, mas pensar fora da caixa é sempre algo positivo e que nos pode trazer, mais uma vez, o título de vencedor do Festival Eurovisão da Canção.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Daniela Carvalho