A presente recensão crítica pretende apresentar uma reflexão crítica relativa à obra ”A Política como Vocação”, da autoria de Maximilian Karl Emil Weber, mais conhecido como Max Weber.
Max Weber, filho de um político e o mais velho de oito irmãos, nasceu em Erfurt no dia 21 de Abril de 1864 e faleceu em Munique no dia 14 de Junho de 1920. Considerado um sociólogo quase enciclopédico e um intelectual pluridisciplinar, Weber pertenceu à primeira geração de sociólogos, sendo o criador de uma vasta obra extremamente relevante e atual até aos dias de hoje.

A Política como Vocação foi uma famosa conferência realizada no inverno de 1918/1919 – numa Alemanha exausta face ao terminar de mais uma guerra perdida – na Universidade de Munique, perante uma audiência de alunos universitários que o haviam convidado para uma série de duas palestras referentes à política enquanto vocação e também à ciência enquanto vocação.

‘’A conferência que por desejo vosso irei pronunciar defraudar-vos-á em vários sentidos.’’. É deste modo que Weber arranca com o seu discurso, advertindo que não irá tomar qualquer tipo de posição face aos problemas do mundo atual. De facto, Max Weber começa por definir o que é a política em si: é um conceito bastante abrangente e, no fundo, abrange toda a atividade que seja diretiva autónoma, ou seja, a influência exercida sobre a direção de uma associação política. Hoje, essa associação política é denominada como um Estado: de acordo com Trotsky, citado por Weber, ‘’Todo o Estado está fundado na violência.’’, afinal sem essa violência o conceito de Estado teria desaparecido e dado lugar a uma anarquia. Weber desenvolve o conceito de Estado Moderno dirigindo-se ao cerne da questão, definindo-o como ‘’aquela comunidade humana que, dentro de um determinado território (o «território» é um elemento caraterístico e distintivo), reclama (com êxito) para si o monopólio da violência física legítima.’’. Para a existência do monopólio da violência física legítima é também necessário que exista uma crença em quem se encontra no remo do barco (a crença na legitimidade da ordem), assim como uma dimensão territorial. No entanto, o Estado por si só não subsiste sem Política, pois são conceitos intrinsecamente conectados.

É a partir da questão ‘’o que é a Política?’’ que Weber consegue descodificar as mais variadas conceções simplistas e, de certo modo, redutoras, abordando o conceito de Política de uma maneira ampla, mas bem constituída: ‘’«Política» significará então, para nós, a aspiração e o esforço por participar no poder ou influir na distribuição do poder quer entre os distintos Estados quer, no seio de um Estado, entre os diferentes grupos de homens que o integram.’’. Esta questão é, no fundo, o ponto de partida para o desenvolvimento da conferência.
Sendo o Estado uma relação de poder efetuada por Homens sobre outros Homens (baseada no conceito da violência legítima), é necessário que vigore uma autoridade para que os governados aceitem e respeitem a autoridade daqueles que governam. Weber releva deste modo o caráter artificial que incide sobre a autoridade política, sendo esta não mais do que a arte de convencer os que devem obedecer de que existe alguém com a legitimidade de exercer o seu poder e se situar num pedestal, considerado como uma relação de forças.

Existem três tipos de fundamentos da legitimidade do poder: Primeiramente o poder tradicional, cuja legitimidade é convencionada na crença face ao caráter sagrado das diversas tradições, vigorando na autoridade do ‘’eterno ontem’’, tendo como base a sua validade antiquíssima e o hábito vigente do respeito pela tradição. Seguidamente é realçado o poder carismático. Este poder é essencialmente exercido em oposição à tradição, praticado por aqueles que se definem como iniciadores e/ou profetas. Este tipo de dominação reforça a crença de existência de um líder com vocação, alguém destinado, com um dom e uma qualidade bastante particular, que deste modo conquista a confiança dos governados de modo a contratualizar a vigência de um contrato social. Por último, o poder legal, nos quais os alicerces são essencialmente as leis, regras e competências escritas e formadas, dispondo-se para a obediência às obrigações que legalmente se encontram instituídas. É compreendido que a obediência se encontra intimamente ligada ao temor perante a revolta daquele que detém o poder, assim como à esperança de uma recompensa para lá do terreno.
Face a estes três tipos de fundamentos da legitimidade do poder mencionados, o autor dedica a sua atenção ao poder carismático: segundo Weber, o mesmo é desenvolvido principalmente no Ocidente na figura do demagogo livre, face ao aparecimento das primeiras cidades-estado. Este líder apresenta-se na pessoa de líder de partido aquando da existência de um regime parlamentar. Partindo deste ponto surgem as reflexões relativas à vocação política.
‘’Para a manutenção de todo o poder pela força requerem-se certos bens materiais externos (…)’’, dizia Max Weber. Mesmo o político com a maior vocação existente necessitará de outras figuras relevantes na corrida ao poder. Conseguinte, Weber compara o Estado a uma empresa económica, na qual vigoram duas necessidades básicas: a necessidade de existência de atividades que, de certo modo, coordenam e realizam a obediência (ou seja, o quadro administrativo); e, por outro lado, os meios e designados materiais de gestão do mesmo, ou seja, os recursos necessários para a contínua vida dos funcionários do aparelho, assim como a possibilidade do exercício da força física. Deste modo, a obediência dos governados face aos governantes dá-se devido à retribuição e fluxo material constante, assim como o prestígio social que o líder de Estado concede aos seus funcionários.
‘’A evolução do Estado moderno começa em toda a parte quando o príncipe começa a expropriar do poder administrativo os titulares «privados» autónomos que existem a seu lado.’’: assentando na separação entre os meios administrativos e os funcionários, o Estado Moderno desenvolve-se como uma empresa capitalista, originando uma elevada quantidade de trabalhadores estatais que se subordinam ao príncipe e à sua gerência, submissos ao seu poder de distribuição de cargos políticos.

No decorrer do processo político de expropriação, no contexto ocidental, surge o denominado ‘’político profissional’’, indivíduos que não pretendem governar por si próprios, sendo subordinadas ao príncipe, mas que pretendem agir ao serviço do mesmo. ‘’Políticos ocasionais somos todos’’; a diferença entre um político profissional e um político ocasional encontra-se essencialmente no critério de nível económico. Weber distingue aqueles que vivem para a política daqueles que vivem da política de acordo com o seguinte enunciado: ‘’Vive «da» política como profissão quem dela procura fazer uma fonte duradoira de proventos; vive «para» a política aquele em que isso não acontece.’’. São, portanto, indivíduos perfeitamente opostos: aquele que vive para a política nunca dependerá da mesma para a sua vivência, sendo considerado economicamente independente, dedicando-se a esta vida por mera paixão, de acordo com os seus valores justos, a ética e o seu sentido de responsabilidade. Na balança da ética, o indivíduo político deve reger-se pelo perfeito equilíbrio entre a ética da convicção (a crença nos ideais do seu ser mais profundo) e a ética da responsabilidade (o fator de responsabilização face às ações realizadas por si, humildemente agindo tanto num panorama de triunfo como no seu antagónico). É urgente a existência de indivíduos que vivam da política e a sua paixão pela mesma triunfe, encontrando-se suficientemente disponíveis para ela.

Concluindo a minha recensão crítica, nesta obra é realçada a distinção entre aqueles, meros seres humanos, cujo único objetivo final político é o alcance de bens materiais, influência e o denominado poder egoísta, daqueles cujos objetivos finais serão sempre o bem, o justo, agindo eticamente face ao seu ser, almejando pela paixão que a política lhes oferece na vida.
A política é uma ciência bela, no entanto nem todos têm a vocação para a mesma e para almejar aos grandes feitos de um líder perspicaz e designado, nascido com o intuito de o ser e de atingir o seu fim, representado pelo bom.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Madalena Caldeira Batanete
Editado por: João Miguel Fonseca