Chegou ao fim a 12º Edição da Web Summit. A cimeira contou com o maior número de participantes de sempre. Foram horas de conferências, networking e discussão sobre temáticas no contexto da tecnologia e inovação.
No 3º e último dia do evento (dia 4), António Guterres partilhou uma mensagem. O Secretário-geral das Nações Unidas escreveu que a pandemia da covid-19 acelerou a “dependência das tecnologias digitais”, intensificando “desigualdades de todo o tipo”. “A conectividade aumentou a vulnerabilidade a danos e abusos” alertou. A “desinformação sobre covid-19 também coloca a saúde e as vidas em risco e ameaça reduzir a absorção e eficácia das vacinas que se tornam disponíveis”. Todos estes “abusos online podem ser obstáculos sérios à estabilidade política, ao progresso social e desenvolvimento e à nossa capacidade coletiva de resolver grandes desafios”, escreveu, adicionando “a desinformação, a proliferação do discurso de ódio online e a retirada para as câmaras de eco social continuará a minar a coesão social e reduzir a confiança na ciência, nas instituições e umas nas outras”.
Precisamos de uma supervisão eficaz de novas tecnologias, quer na ‘web’, quer em áreas de conflito ou no laboratório de investigação, para que a sociedade possa se beneficiar do rápido desenvolvimento e, ao mesmo tempo, ser protegida de riscos significativos.
António Guterres
Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD, explicou como os media e a desinformação podem afetar as pessoas durante uma pandemia. Falando numa “infodemic”, onde as notícias criam ansiedade, expetativas e confusão entre a população, referiu que estamos a chegar a uma “pandemic-fatigue”. Concluiu também que a comunicação não deve ser igual para idosos e jovens, que se guiam por fontes diferentes. Já para evitar a propagação de informação incorreta nos media não convencionais, como as redes sociais, aconselha um pensamento crítico face a informação contraditória – ler, comparar e procurar a fonte antes de partilhar.
No campo da política, acompanhamos uma entrevista ao Primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, que, apesar da turbulência que a economia grega teve após a crise de 2008 – e agora o crescimento do défice devido à crise pandémica – expôs a nova política nacional para atrair algumas multinacionais e startups. O principal objetivo é substituir o estereótipo da Grécia antiga, o berço da democracia, para uma Grécia excelente e confortável para a aposta na inovação tecnológica e modernização, evidenciando a novo decreto que espera atrair mão-de-obra, através da redução em 50% dos impostos para trabalhadores em trabalho remoto.
A importância de assegurar a igualdade aquando o desenvolvimento humano foi explanada por Julia Gillard e Jeremy Johnson. Ambos concordaram na revolução do trabalho durante a pandemia enquanto forma de mitigar alguns preconceitos. Jeremy contou-nos um pouco da situação de alguns países africanos, nomeadamente da falta de oportunidade que estes têm, depositando-lhes fé como a próxima grande vaga de engenheiros que irão erguer um grande bloco tecnológico. Gillard aponta o seu livro enquanto projeto que desenvolveu à volta da temática do sexismo institucional e da necessidade de haver mais mulheres a liderar projetos. Invocou o momento em que Trump ofendeu a Vice-presidente eleita, Kamala Harris, chamando-a de “nojenta”, apresentando esta atitude como uma das que têm de ser alteradas.
O mundo foi construído sob preconceitos.
Julia Gillard
Ainda no que toca à igualdade de género e alterações climáticas, Women4Climate teve voz durante a Web Summit. Silvia Macron falou do movimento espalhado por 40 cidades, em que se luta por mais iniciativas amigas do ambiente. Selinay Parlak apresentou-nos o seu projeto acabo de chegar a Portugal, a Bluedot. Este é, nas palavras da COO, uma espécie de Airbnb onde os cidadãos são incentivados a partilhar os seus postos de carregamento de carros elétricos com outros utilizadores da app. Jwana Godinho não deixou de referir a importância destas iniciativas impulsionadas por mulheres, acrescentando que “O futuro é feminino”.
Educating against racism foi um importante espaço para que pudéssemos entender melhor esta problemática. Angelica Nwandu – fundadora do The Shade Room, cujo objetivo, diz, é enaltecer a cultura negra – começou por dirigir uma dura crítica ao ex-Presidente dos EUA, “Ter o Trump no poder possibilitou o racismo de ter um líder”, invocando os inúmeros e “ridículos” episódios racistas do que apelida “Karen Movement”. Jane Elliot, educadora antirracista, trouxe um discurso fortíssimo onde deixou bem claro que “Só existe uma raça, a raça humana”. Há, contudo, etnias, diferentes “tons de castanho”. Apesar de ter havido um progresso no combate ao racismo, ainda há muito trabalho a fazer, nomeadamente educar os educadores, que incutem ideias erradas às crianças, que são o futuro do país.
Relativamente ao jornalismo, Ann Curry conta a sua longa experiência de reportagens em zonas de conflito, clarificando que esta área está a perder credibilidade devido às fake news – que provocam uma falta de confiança – e à perda de claridade quanto às motivações dos jornalistas. Relembrou que esta atividade é importante na medida em que que dá o conhecimento do mundo a milhões de pessoas. Desabafa dizendo que o bom jornalismo é cada vez mais uma grande batalha – “Quando as pessoas não sabem o que está a acontecer, facilmente se ignora o assunto”.
Coube ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dar as despedidas no último dia da conferência que promete voltar ao regime presencial no ano que vem. Começou por agradecer a Paddy Cosgrave, CEO da Web Summit, pelo excelente trabalho desenvolvido para conseguir, em tempos difíceis, adaptar a grande cimeira tecnológica, numa plataforma criada do 0, assim como aos oradores que vieram apresentar os seus projetos e startups e defender ideias importantes no mundo da inovação. Acrescentou ainda que a essência da tecnologia é a manipulação que podemos fazer dela, em relação ao futuro do ser humano, das alterações climáticas, da transição digital, do mercado livre e da globalização. Relembrou a união necessária em que a maioria dos países se reviram na luta contra o covid-19 e que sem esta cooperação não conseguiríamos enfrentar a pandemia – “Devemos estar e trabalhar juntos!”.
Escrito por: João Miguel Fonseca e Júlia Varela
Editado por: Júlia Varela e Mariana Mateus
Um pensamento sobre “O fim da Web Summit 2020. Até para o ano”