O fim da Web Summit 2020. Até para o ano

Chegou ao fim a 12º Edição da Web Summit. A cimeira contou com o maior número de participantes de sempre. Foram horas de conferências, networking e discussão sobre temáticas no contexto da tecnologia e inovação.

No 3º e último dia do evento (dia 4), António Guterres partilhou uma mensagem. O Secretário-geral das Nações Unidas escreveu que a pandemia da covid-19 acelerou a “dependência das tecnologias digitais”, intensificando “desigualdades de todo o tipo”. “A conectividade aumentou a vulnerabilidade a danos e abusos” alertou. A “desinformação sobre covid-19 também coloca a saúde e as vidas em risco e ameaça reduzir a absorção e eficácia das vacinas que se tornam disponíveis”. Todos estes “abusos online podem ser obstáculos sérios à estabilidade política, ao progresso social e desenvolvimento e à nossa capacidade coletiva de resolver grandes desafios”, escreveu, adicionando “a desinformação, a proliferação do discurso de ódio online e a retirada para as câmaras de eco social continuará a minar a coesão social e reduzir a confiança na ciência, nas instituições e umas nas outras”.

Precisamos de uma supervisão eficaz de novas tecnologias, quer na ‘web’, quer em áreas de conflito ou no laboratório de investigação, para que a sociedade possa se beneficiar do rápido desenvolvimento e, ao mesmo tempo, ser protegida de riscos significativos.

António Guterres

Ricardo Baptista Leite, deputado do PSD, explicou como os media e a desinformação podem afetar as pessoas durante uma pandemia. Falando numa “infodemic”, onde as notícias criam ansiedade, expetativas e confusão entre a população, referiu que estamos a chegar a uma “pandemic-fatigue”. Concluiu também que a comunicação não deve ser igual para idosos e jovens, que se guiam por fontes diferentes. Já para evitar a propagação de informação incorreta nos media não convencionais, como as redes sociais, aconselha um pensamento crítico face a informação contraditória – ler, comparar e procurar a fonte antes de partilhar.

No campo da política, acompanhamos uma entrevista ao Primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, que, apesar da turbulência que a economia grega teve após a crise de 2008 – e agora o crescimento do défice devido à crise pandémica – expôs a nova política nacional para atrair algumas multinacionais e startups. O principal objetivo é substituir o estereótipo da Grécia antiga, o berço da democracia, para uma Grécia excelente e confortável para a aposta na inovação tecnológica e modernização, evidenciando a novo decreto que espera atrair mão-de-obra, através da redução em 50% dos impostos para trabalhadores em trabalho remoto.

A importância de assegurar a igualdade aquando o desenvolvimento humano foi explanada por Julia Gillard e Jeremy Johnson. Ambos concordaram na revolução do trabalho durante a pandemia enquanto forma de mitigar alguns preconceitos. Jeremy contou-nos um pouco da situação de alguns países africanos, nomeadamente da falta de oportunidade que estes têm, depositando-lhes fé como a próxima grande vaga de engenheiros que irão erguer um grande bloco tecnológico. Gillard aponta o seu livro enquanto projeto que desenvolveu à volta da temática do sexismo institucional e da necessidade de haver mais mulheres a liderar projetos. Invocou o momento em que Trump ofendeu a Vice-presidente eleita, Kamala Harris, chamando-a de “nojenta”, apresentando esta atitude como uma das que têm de ser alteradas.

O mundo foi construído sob preconceitos.

Julia Gillard

Ainda no que toca à igualdade de género e alterações climáticas, Women4Climate teve voz durante a Web Summit. Silvia Macron falou do movimento espalhado por 40 cidades, em que se luta por mais iniciativas amigas do ambiente. Selinay Parlak apresentou-nos o seu projeto acabo de chegar a Portugal, a Bluedot. Este é, nas palavras da COO, uma espécie de Airbnb onde os cidadãos são incentivados a partilhar os seus postos de carregamento de carros elétricos com outros utilizadores da app. Jwana Godinho não deixou de referir a importância destas iniciativas impulsionadas por mulheres, acrescentando que “O futuro é feminino”.

Educating against racism foi um importante espaço para que pudéssemos entender melhor esta problemática. Angelica Nwandu – fundadora do The Shade Room, cujo objetivo, diz, é enaltecer a cultura negra – começou por dirigir uma dura crítica ao ex-Presidente dos EUA, “Ter o Trump no poder possibilitou o racismo de ter um líder”, invocando os inúmeros e “ridículos” episódios racistas do que apelida “Karen Movement”. Jane Elliot, educadora antirracista, trouxe um discurso fortíssimo onde deixou bem claro que “Só existe uma raça, a raça humana”. Há, contudo, etnias, diferentes “tons de castanho”. Apesar de ter havido um progresso no combate ao racismo, ainda há muito trabalho a fazer, nomeadamente educar os educadores, que incutem ideias erradas às crianças, que são o futuro do país.

Relativamente ao jornalismo, Ann Curry conta a sua longa experiência de reportagens em zonas de conflito, clarificando que esta área está a perder credibilidade devido às fake news – que provocam uma falta de confiança – e à perda de claridade quanto às motivações dos jornalistas. Relembrou que esta atividade é importante na medida em que que dá o conhecimento do mundo a milhões de pessoas. Desabafa dizendo que o bom jornalismo é cada vez mais uma grande batalha – “Quando as pessoas não sabem o que está a acontecer, facilmente se ignora o assunto”.

Cerimónia de encerramento. Fonte: Observador

Coube ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dar as despedidas no último dia da conferência que promete voltar ao regime presencial no ano que vem. Começou por agradecer a Paddy Cosgrave, CEO da Web Summit, pelo excelente trabalho desenvolvido para conseguir, em tempos difíceis, adaptar a grande cimeira tecnológica, numa plataforma criada do 0, assim como aos oradores que vieram apresentar os seus projetos e startups e defender ideias importantes no mundo da inovação. Acrescentou ainda que a essência da tecnologia é a manipulação que podemos fazer dela, em relação ao futuro do ser humano, das alterações climáticas, da transição digital, do mercado livre e da globalização. Relembrou a união necessária em que a maioria dos países se reviram na luta contra o covid-19 e que sem esta cooperação não conseguiríamos enfrentar a pandemia – “Devemos estar e trabalhar juntos!”.

Escrito por: João Miguel Fonseca e Júlia Varela

Editado por: Júlia Varela e Mariana Mateus

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