O que têm a saúde, a igualdade de género, o espaço e o Facebook em comum? A Web Summit 2020

Mais um dia de Web Summit. O evento contou com a participação de Marta Temido, conversas sobre igualdade, viagens ao espaço e alguma polémica à mistura. De quem? Do Facebook, claro.

Marta Temido entrou nos ecrãs dos espetadores da Web Summit na passada quinta-feira, dia 3. A Ministra da Saúde afirmou que uma das lições aprendidas com a pandemia foi a necessidade de investir mais na saúde pública. Quando questionada da gestão do país na crise pandémica e de como Portugal se preveniu dos números estrondosos de infetados, como noutros países da Europa aconteceu, Temido explicou que fomos privilegiados na medida em que tivemos tempo de nos preparar, de observar os efeitos da pandemia e da sua propagação. Contou ainda que um confinamento total nesta 2ª vaga está fora de questão, uma vez que a economia não conseguiria aguentar – temos não só vítimas em termos de saúde, como vítimas em termos económicos.

Os serviços de saúde têm de investir mais em saúde pública e na preparação para responder a pandemias. Uma coisa temos a certeza: isto vai voltar a acontecer.

Marta Temido

Com a intensificação da crise pandémica, muitos postos de emprego adotaram o teletrabalho e aumentaram, simultaneamente, o número de ciberataques, de fake news e desinformação. O orador Julien Gremillot incitou o debate com diversos especialistas na área da proteção de dados de empresas, salientando a ideia de que todos estamos submetidos a estes problemas. Jitesse Arquissandas, um dos participantes do debate, chamou a atenção para a diversidade de dados que partilhamos e de como não existe regulamentação suficiente para garantir a nossa segurança, assim como a política não acompanha o desenvolvimento tecnológico.

O dia teve alguma polémica à mistura, quando Nick Clegg, Vice-presidente de Relações Públicas e Comunicações do Facebook, criticou a União Europeia no que toca à área da legislação: “A questão não é se a regulação da União Europeia é boa ou não, mas se é capaz de desviar as atenções do funcionamento de um mercado digital.” Explicou que a razão de não existirem na UE empresas como o Facebook ou o TikTok se deve às várias regras para operar nos países membros da união.

Relativamente ao Ato dos Serviços Digitais – legislação pela Comissão Europeia que visa a segurança online, a liberdade de expressão, o comércio eletrónico e a criação de condições concorrenciais equitativas para as empresas – Clegg revelou-se também opositor. Disse que, tal como o Facebook o faz, cabe às empresas se responsabilizarem pela segurança nas suas próprias plataformas. Com esta afirmação, o público que na altura estava a assistir à entrevista não demorou em intervir. Embora Nick assegure que o “Facebook está numa jornada de mudança”, o mundo não esquecerá tão cedo o escândalo da Cambridge Analytica. Estas declarações vindas de um representante do Facebook calharam mal a quem as ouvia.

Botões de reação da plataforma online da Web Summit. Fonte: Web Summit

Foi neste contexto que o público também se apercebeu de uma pequena atualização: os botões de reação. Para quem não esteve presente no primeiro dia, nada de estranho ressalta. Contudo, os mais atentos e descontentes sentiram a falta de dois botões que anteriormente lá estavam. Os emojis de tomate e thumbs down desapareceram. Sendo claramente emojis conotados como negativos, não tardaram também as críticas, questionando-se o porquê da Web Summit ter suprimido os mesmos.

Por outro lado, boas notícias para quem sonha com o espaço. Numa entrevista a Jane Poynter foi revelado que as viagens comerciais ao espaço não estão longe, prometendo uma experiência incrível e “transformadora”, onde teremos a oportunidade de pairar entre as estrelas por 2 horas. A fundadora da Space Perspective explicou que os primeiros bilhetes poderão ser postos à venda já para o ano, com as primeiras viagens previstas para 2023/24. O preço dos bilhetes vai rondar os 125 mil dólares.

Vídeo de apresentação da Space Perspective. Fonte: The Space Perspective

Foi um dia importante para a representação feminina no mundo do trabalho, especialmente na área das inovações tecnológicas. Chen Lifang, SVP da Huawei, realçou a necessidade de haver cada vez mais mulheres a liderar nesta que se diz a “Década Digital”, aproveitando palavras de Ursula von der Leyen. Falou-se ainda da inclusão e igualdade de género, numa conversa entre Keith Sequeira, Ana Maiques, Arancha Martinez e Jean-David Malo, que partilharam os seus projetos – tanto para ajudar a impedir o tráfico de crianças na Índia, como ajudar a desenvolver um aparelho terapêutico cerebral cujo objetivo incide sob o cérebro e algumas doenças, como a depressão – e a dificuldade em obter financiamento e credibilidade numa sociedade ainda machista.

O dinheiro está nas mãos dos homens, e precisamos de mudar isso.

Ana Maiques

Armando Melone e Andre Meyer, representantes da Comissão Europeia, apresentaram ao público o programa “Access to Finance”, do Fundo Europeu de Investimento, onde o sistema ajuda empresas a arranjar os melhores intermediários financeiros locais para, posteriormente, se procederem a investimentos ou empréstimos, independentemente do tamanho ou setor de atividade desta.

Hoje é o último dia da Web Summit 2020. Amanhã o desacordo conta como foi.

Escrito por: Júlia Varela e João Miguel Fonseca

Editado por: Júlia Varela

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