8ª edição do Fórum das Ciências Sociais

O Desacordo esteve presente em mais uma edição do Fórum das Ciências Sociais, que começou no dia 2 de maio, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-UL). Esta iniciativa decorreu até dia 4 de maio, apresentando um vasto número de nomes conhecidos da área do jornalismo, da política, da sociologia, dos recursos-humanos, entre outras vertentes das ciências sociais.

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A primeira conferência da manhã do dia 2 foi organizada pelo Núcleo de Estudantes de Gestão de Recursos Humanos e teve início por volta das 10h. A sessão foi conduzida sob o tema “O Dia a Dia de um Recrutador” em que esteve presente Gonçalo Sequeira, especialista em Recursos Humanos na Mercedes-Benz.

A segunda conferência do primeiro dia contou com a presença de Sónia Sapage, editora política do Público, José Pedro Mozos, jornalista da Visão, Mariana Lima Cunha, jornalista política do Expresso e Rúben Martins, jornalista do público. A conferência foi moderada pelo Professor Paulo Martins, do ISCSP. A conferência abordou vários temas no que ao jornalismo político diz respeito, sendo um deles a utilização de multi-plataformas para fazer chegar a informação às pessoas.

Foram várias as experiências trocadas pelos oradores, como Sónia Sapage referir que após chamar “Saddam das Beiras” a Fernando Ruas, aquando do seu mandato como presidente da Câmara de Viseu, devido ao seu tom de pele “pouco claro” e “bigode farto”, este levou quase dois anos para perdoar a jornalista por esta “brincadeira” que fez quando escrevia para o Público. Foi também explicado que, por vezes, lhes é dada (aos jornalistas políticos) a tarefa de escrever sobre algo que não corresponde à sua ideologia ou corrente de pensamento, mas que no entanto, devem depositar uma boa dose de imparcialidade naquilo em que estão a trabalhar.

Já no dia 3 de maio, foi a vez do Núcleo de Antropologia apresentar a sua conferência. A conferência com o apoio do NANT foi sobre Antropologia Forense com a Violência e a Reconciliação e dada pelas oradoras e docentes Susana Garcia e Tânia Ganito. O tema geral foi sobre o diálogo entre as áreas da antropologia cultural e antropologia forense e como tendo particularidades tão distintas elas podem compreender e reconciliar-se nos seus campos de trabalho.

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A professora Tânia Ganito começou com uma explicação sobre a Antropologia da Violência, que apareceu no período pós-colonial, em que os confrontos civis e atos de violência já existiam em grande escala. Distinguiu dois tipos de violência, em que o primeiro, a violência simbólica, criada por Pierre Bourdieu nos anos 70, dita a ideia de cumplicidade num ato de violência, no qual há dominação das vítimas e testemunhas sem haver coação física. O segundo tipo, a violência estrutural, criada por Paul Farmer nos anos 90, diz que a violência, para existir, não tem de ser visível, tendo como exemplos disso o sexismo, a pobreza e o colonialismo.

Perante as definições, vários antropólogos trabalharam sobre estes tipos de violência, na sua razão de ser e como é que as famílias daqueles que sofreram os atos violentos conseguem a reconciliação com os membros perdidos que vão para uma vala comum e não há corpo para fazer os seus rituais fúnebres.

A professora finalizou afirmando que certos estados não participam na reconciliação nacional depois das tragédias, pois quando um regime não muda é difícil haver o apoio deste e muitas vezes tem de ser a esfera pública e as Organizações Não Governamentais a tentar ajudar na abertura das valas, no culto digno dos jazidos  e na reconciliação final.

A professora Susana Garcia seguiu-se então explicando a área da antropologia forense que estuda o indivíduo e a sua morte, aplicando conhecimentos da antropologia biológica em contexto legal, podendo identificar restos humanos, assistir na detenção de crimes e determinar a idade de pessoas vivas. A professora indicou que a antropologia forense responde a uma série de perguntas para saber se é um caso forense ou não, se é um crime e quem é o indivíduo.

Foram apresentados novos exemplos de reconciliação, agora pela antropologia forense, e referido como é importante abrir valas comuns conhecidas para o registo da história e identificação os indivíduos, de forma a possibilitar o luto  às famílias e o encerramento das dúvidas do que aconteceu.

Há contextos internacionais em que há valas que estão a ser abertas e estudadas por profissionais mas outros casos é mais difícil fazer isso sendo a  América Latina um exemplo complexo. Em contexto nacional existe a guerra colonial em que, entre 2008 e 2010, soldados foram exumados, renumerados e a alguns procedeu-se à transladação.

A professora afirmou então que é importante identificar os indivíduos pelos processos de memória dando voz e dignidade às vítimas, não deixando as atrocidades caírem no esquecimento funcionando assim como exemplo. Finalizou-se a conferência com a importância que a antropologia forense agora dá à antropologia cultural e como estas se podem complementar.

Escrito por: Ângela Pereira e Bruno André

Editado por: Daniela Carvalho

 

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