Dois Dedos de Música com Noiserv

David Santos, nome com que nasceu, é também conhecido pelo seu nome artístico, Noiserv. É atualmente considerado um dos grandes nomes na música portuguesa, destacando-se pela sua evidente criatividade e genialidade, quer seja pelas letras repletas de beleza e de história, quer seja pelas melodias que ilustram essas mesmas letras, carregadas elas de complexidade, pela utilização de múltiplos instrumentos, característica de Noiserv, que levou a que o apelidassem de “homem-orquestra”.

Começou a sonhar ser músico por volta dos 9/10 anos, considerando, portanto, que foi essa a altura em que “nasceu” o Noiserv. Tendo em conta que este projeto é apenas dele, esse sonho foi o necessário para o início da criação do artista.

Estreou-se com o disco One Hundred miles from thoughtlessness, em 2008, tendo mais tarde lançado o EP A day in the day of the days, em 2010. Em 2013, surgiu o já premiado álbum Almost Visible Orchestra e, em 2014, editou, o seu primeiro (e até agora único) registo ao vivo, Everything should be perfect even if no one’s there. O seu último disco foi lançado o ano passado, intitulado de 00:00:00:00, onde Noiserv ousa largar a “orquestra” que o caracterizava e se agarra simplesmente ao piano, acompanhando com a sua belíssima voz, embora de forma mais rara ao longo do álbum. Para além disso, em 00:00:00:00, Noiserv deixa de cantar em inglês para cantar na sua língua, português.

 

 

O seu primeiro concerto foi em 2005, no Contagiarte, um Centro Cultural no Porto. Ao perguntarmos qual acha que foi o melhor concerto que já deu, e qual acha que foi o concerto favorito dos fãs, o artista confessa que tenta que todos os seus concertos sejam o seu melhor de sempre, dizendo que “a verdade é que é uma combinação especial entre quem toca e quem ouve, e o melhor para uns pode não ser o melhor para outros. Não é importante ter o melhor, mas sim que todos sejam bons”.

Inspira-se na sua vida para a escrita das suas letras: as pessoas que conhece, as viagens que faz e o mundo que vive. Já deu centenas de concertos, não só cá dentro, como lá fora. Passar de um palco nacional para um palco estrangeiro é uma grande (e boa) evolução, fazendo assim sentido questionar Noiserv em relação à sua progressão, em relação ao “salto” que é dado quando o reconhecimento de um artista começa a ser também internacional, ao que Noiserv responde que “tudo na vida é progressivo. Não acredito em momentos mais importantes que outros, o que é importante é a consistência, a insistência e nunca desistir. Tocar um dia num festival para 30.000 pessoas e no dia seguinte numa sala desconhecida para 25 pessoas, faz tudo parte, e tudo no fim compensa porque tivemos alguém a ouvir-nos. Em relação a tocar no estrangeiro, é uma luta como tocar em Portugal, a distância não ajuda, mas as coisas vão acontecendo.”

Ainda em relação a atuar no estrangeiro, Noiserv confessa que não sente dificuldades em atuar fora do país, mas que “tocando em França, por exemplo, e falando em inglês, a comunicação não é tão direta como falar em português em Portugal”. Considera que a música é o principal meio de comunicação, sendo tal fundamental para a compreensão nos concertos internacionais.

Como já referido, Noiserv toca inúmeros instrumentos. A guitarra e o piano são os únicos instrumentos com os quais teve algum tempo de aulas, tendo aprendido os restantes “pelo gosto de experimentar” e “com muito ensaio”. Se pudesse escolher alguém para trabalhar com ele numa música, seria o Manel Cruz e Thom Yorke.

O álbum Almost Visible Orchestra é assim denominado pela quantidade enorme de diferentes instrumentos que se ouvem, e que, “mesmo não se tratando da usual sonoridade de uma orquestra, pode assemelhar-se [a uma orquestra]”. Desse álbum, constam músicas com títulos bastante sugestivos, fora do comum, que nos transmitem um sentimento algo sonhador e intrigante. São faixas como “It’s easy to be a marathoner even if you are a carpenter”, “I’m not afraid of what I can’t do”, “It’s useless to think of something good without something good to compare”.

 

 

 

O último disco é 00:00:00:00. Noiserv acredita ser “a banda sonora de um filme que ainda não existe”, e, por esse motivo, o “timecode da camara que o filmar está ainda a zeros” (zero horas, zero minutos, zero segundos e zero frames).

Do disco Almost Visible Orchestra para 00:00:00:00, a mudança foi brusca, passando de um álbum complexo e com bastantes instrumentes para um álbum reduzido ao piano. No entanto, Noiserv considera que os fãs reagiram bem a esta mudança, tendo gostando bastante deste novo disco.

Este ano, foi convidado para escrever uma música para o Festival da Canção. Uma experiência diferente para Noiserv, visto nunca ter escrito nenhuma música para outra pessoa, tendo considerado este como um bom desafio.

Sonha em tocar em todos os palcos do mundo que ainda não tocou, e, eventualmente, repetir atuar em todos os palcos que já atuou. Para terminar, Noiserv descreve-se apenas com uma palavra: Noiserv. E basta esta palavra para percebermos quem é, de facto, David Santos.

A escolha da redatora:

A minha escolha é “VINTE E TRÊS”, do último álbum 00:00:00:00. Apesar de não ser o “homem-orquestra” de Almost Visible Orchestra, Noiserv demonstra a sua versatilidade e capacidade de impressionar, quer seja com cinquenta instrumentos, quer seja com apenas um. A música faz, de facto, lembrar uma possível banda sonora, deixando-nos desejosos de poder ver um filme composto todo ele por Noiserv.

 

 

Escrito por: Daniela Carvalho

Editado por: Ricardo Marquês

 

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