Bem-vindos à minha geração, ou “Geração Z”, como alguns influencers a designam.
Aqui, vive-se a uma velocidade desmedida, onde informação circula em segundos e estamos conectados com todo o mundo à distância de um clique.
Amizades virtuais são a nova forma de socializar. As vídeo-chamadas substituem as antigas fugas pela janela para ver a pessoa que amamos, e as cartas de amor dão lugar a mensagens cheias de letras iguais, monótonas e sem vida, que se vêem através de um ecrã e chegam até nós em menos de nada.
Surgem os criadores de conteúdo digital, que influenciam jovens a seguir tendências. Estes trazem consigo comportamentos e padrões, popularmente conhecidos como trends, constituídos por conteúdo rápido e que em pouco tempo é esquecido, reflectindo estilos de moda ou de entretenimento populares num determinado momento. Estar actualizado acerca delas é um desafio e ser o criador das mesmas é ganhar fama e ser respeitado.
Likes e views são a nova forma de ostentação. Atingi-los está à distância de um vídeo a exibir a roupa que vamos utilizar numa determinada ocasião ou melhor dizendo, o nosso outfit.
Vistos pelos mais jovens como modestos auxílios de beleza, os filtros são diariamente utilizados na construção de uma imagem esteticamente perfeita. A falta de amor próprio e a excessiva preocupação com a aparência, são eventualmente resultado dos padrões construídos pela sociedade, que promovem esta criação de imagens inalcançáveis e podem levar ao medo de enfrentar a realidade, principalmente de quem se esconde por trás de tais ferramentas e se refugia no conforto desta solução virtual.
Vender fotos do corpo tornou-se numa nova profissão. O acesso ao polémico “conteúdo adulto”, passou a ser um negócio que se apodera da curiosidade dos adolescentes e os manipula a pagar subscrições, certamente sem o consentimento dos pais.
Ir ao hospital é merecedor de um story no Instagram, e jantar fora é motivo de partilha de uma fotografia do prato nas redes sociais.
A criação de músicas repugnantes e com letras cheias de asneiras tem feito um enorme sucesso. Sexualização e objetificação das mulheres, referência constante a atos sexuais e músicas desagradáveis, sem conteúdo nenhum, contribuem para a perpetuação de estereótipos negativos que desvalorizam a dignidade feminina, levando os jovens à loucura, consumindo tais imoralidades.
Somos diariamente enclausurados em “gavetas”, sempre que nos apresentamos em público. A roupa e a linguagem que usamos, os nossos comportamentos e os lugares que frequentamos definem se pertencemos ao grupo dos “betos”, dos “chungas” ou dos “alternos”.
As passwords das contas de Instagram passaram a ser as novas alianças entre jovens casais, que entendem o acesso à privacidade do parceiro como sinónimo de confiança.
“Fofocar” é quase um estilo de vida, onde as pessoas espalham informações acerca de alguém e se tornam quase investigadoras daquilo que não lhes convém.
E restam exíguas qualidades de uma geração dependente de tecnologia, pragmática e comunicativa, por vezes inundada no mundo virtual em que vive.
Será que fazer um “Get Ready with Me” todos os dias é criar conteúdo de qualidade? Será que um Onlyfans poderá vir um dia a ser uma tentativa mais legítima de prostituição? Será uma música cheia de asneiras considerada cultura? Até que ponto esta realidade virtual influenciará a criação de relações sociais?
Um dia descobrimos que a realidade é muito mais do que uma plataforma digital. Que comunicar é muito mais do que uma amizade virtual. Que um simples toque é mais emocionante do que uma vídeo-chamada. Ou até mesmo que o frio na barriga existe, além da preocupação em estarmos bonitos em frente à câmara do telemóvel. Somos mais do que beleza e brilhamos pela nossa essência.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Rúben Lopes
Editado por: Guilherme Freitas