O minimalismo como caminho para a sustentabilidade

Caro leitor, se começou a ler este texto com o propósito de encontrar sete razões para deixar de comer carne, ou sete passos para ter um guarda roupas unicamente com peças de segunda mão, sinto muito informar, mas não é o que aqui vai encontrar. E se pensa que o minimalismo é ter todas as peças da casa em branco ou possuir apenas 30 objetos, está, novamente, equivocado.

O minimalismo baseia-se na velha máxima “menos é mais”. O objetivo é o foco no ser e não no ter. Ou seja, ir ao centro comercial dar um passeio e voltar com três coisas que comprou, mas que só vai usar uma vez é algo que não está presente no quotidiano das pessoas que seguem este estilo de vida. Muito menos está fazer compras às prestações. Ou entrar em todas as lojas que anunciem as palavras mágicas “50% de desconto” na vitrine.

A famosa Black Friday: o cúmulo do consumismo (Fonte: Idealista).

Este estilo de vida não tem regras, uma vez que o foco é a nossa felicidade e o nosso senso de utilidade. Manter um livro sobre pintura pode ser útil para o João, que uma vez que este aprecia e pinta de vez em quando, mas para a Joana que o herdou da mãe e nunca lhe viu o conteúdo por não ser grande adepta do tema, será que se justifica?

Reduzir a quantidade de “tralha” nas nossas casas tem inúmeras vantagens. Facilita o nosso quotidiano, pode ajudar alguém que passe necessidades, diminui o consumo e os gastos, disponibiliza espaço nas nossas casas… Já para não falar nos impactos ambientais. Quanto menos consumirmos, menos contribuímos para a poluição e o esgotamento de recursos.

Segundo a TVI, “estima-se que pelo menos 39 mil toneladas de roupa que não encontraram comprador acabem por ser despejadas no deserto” (Fonte: TVI).

Além disso, existem também mais vertentes do minimalismo para além do material, como o digital e o mental. Imagino que seja complicado para si esforçar-se para não sair por aí a fazer compras desnecessárias, mas depois acaba por receber um e-mail de uma loja que está em saldos que o deixa “com sede“ de consumismo. Mais do que isso, deve ser revoltante receber esta notificação enquanto está a trabalhar em algo importante e que requer a sua concentração. Mais do que poupar dinheiro, é também poupar tempo e energia. O foco no essencial é algo importante num mundo de estímulos.

A consequência do facto das marcas gostarem em enviar publicidade por e-mail. (Fonte: Snow-ledge).

Desta forma, entende-se que o minimalismo pode ser aplicado em todos os aspetos das nossas vidas. É uma combinação de organização com desapego e não consumismo. Juntar dinheiro para comprar uma casa maior com mais arrumação parece desnecessário se a falta de espaço se deve ao acumular de CDs que não ouve desde que saiu da casa dos seus pais, juntamente com roupas que já não lhe servem e ainda todos os telemóveis que usou no passado e que já não funcionam. Talvez seja um pouco mais realista focar-se em desfazer-se da “tralha” em vez de comprar uma casa quando tiver dinheiro, que será, provavelmente, no princípio da sua velhice.

Quando o acumular de “tralha” se torna um problema mental (Fonte: Statesman Journal).

O problema é que muitas pessoas que pretendem se desfazer de certos bens preocupam-se demasiado em reaver o dinheiro. Às vezes, o móvel que pondera vender é a coisa que o seu vizinho mais precisa neste momento. Dar a quem precisa pode ser bastante mais interessante e faz com que se recorde que para a próxima deve ponderar melhor as suas compras de forma a não “perder” mais dinheiro.

Existem grupos de Facebook com o propósito de fazer doações (Fonte: Facebook).

Aliás, o significado de uma só compra dá que pensar. Comprar um par de sapatos inclui os próprios sapatos, que provavelmente só usará uma vez no casamento da sua prima, a caixa e o papel que protege os sapatos, que acabarão a nem ser reciclados como deviam. E ainda o talão, que ficará eternamente na sua mala, o seu tempo consumido para os escolher e comprar, que poderia ser utilizado nas coisas que diz que “não tem tempo” de fazer, parte do seu salário, que poderia ser colocado de parte para aquela viagem com que sonha acordado…

É incrível pensar que quanto menos consome, menos lixo produz. Às vezes, o mesmo bem, comprado em locais diferentes, é completamente diferente. Enquanto que comprar dois pacotes de arroz numa grande superfície equivale a dois kg de arroz e dois saquinhos de plástico, se se dirigir a um estabelecimento de venda a granel, pode comprar um kilo e meio, que é o que cabe no pote onde o costuma conservar, e ainda zero plástico, pois nestes locais podemos abastecer os nossos potes.

A cadeira de hipermercados Auchan já oferece a possibilidade de comprar a granel (Fonte: Auchan).

Outro grande problema é que não são só os recursos que estão a esgotar-se: a nossa saúde mental também. A ansiedade, dita por muitos como a doença do século, provém do ritmo acelerado da nossa vida. Ao desacelerar, conseguimos fazer escolhas mais ponderadas que contribuirão para o nosso bem-estar. Quanto menos bens tivermos, menos temos de nos preocupar com o espaço que estes ocupam, quanto menos dinheiro gastarmos, menos temos de planear como fazê-lo render até ao final do mês. Desocupar o nosso ambiente físico faz com que se reduza o stress derivado de todas essas situações.

Em síntese, a palavra minimalismo está na moda nos dias de hoje, mas este texto surge pela necessidade de encontrarmos a simplicidade e a calma num mundo acelerado. Mais ainda, surge pela necessidade de acalmar o consumismo desenfreado que afeta não só a existência dos recursos existentes no nosso planeta como também a nossa saúde mental. Conclui-se, desta forma, que o minimalismo trás benefícios em dobro: para nós e para o ambiente.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: Marta Ricardo

Editado por: Joana Matos

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