
Foi no Panamá, que no dia 27 de janeiro de 2019 foi anunciado que as próximas Jornadas Mundiais da Juventude seriam em Portugal. Este encontro terá lugar nos primeiros dias do mês de agosto, porém o encontro com os portugueses já começou há muito.
O que era suposto ser uma atração de investimento para o país, tornou-se numa verdadeira incógnita e angústia. De recordar que a subida dos preços em todos os bens essenciais, o frio rigoroso e a necessidade de aquecimento, deixou os bolsos dos portugueses vazios. Sendo assim, quando é anunciado um valor de um palco de 4,2 milhões, a reação esperada só podia ser de confusão. Ora, com esta crise, seria normal gastar tão avultado montante, saído em parte do bolso dos contribuintes, num evento que só beneficia a religião Católica? Existe, de facto, um investimento no país com a construção do parque do Tejo e do Trancão, todavia é mais um investimento que começa e acaba em Lisboa. Isto além de que, como todos sabemos, o que Lisboa está mesmo a precisar no Verão é de ainda mais gente a passear pelas ruas.
Em outubro, em conselho de ministros, o governo estimou gastar 36,5 milhões de euros na organização das JMJ. Isto, sem incluir custos com segurança, mobilidade, saúde, etc. O problema não está no evento ser realizado em Portugal ou até o custo do mesmo, está sim em quem o paga. Sendo um evento da Igreja Católica, seria normal que fosse esta a pagá-lo por inteiro e que de preferência utilizassem um espaço já existente – o Santuário de Fátima por exemplo. Quando este mesmo evento foi realizado no país vizinho, Espanha, o Estado não o financiou. Este teve um custo de 50 milhões (inferior aos mais de 150 milhões provisórios em Portugal) com um retorno para a economia espanhola de 354 milhões euros. Em Portugal, segundo Carlos Moedas, o retorno”(…) vai ser multiplicado, tudo isto que vamos investir, vai ser multiplicado por 10 ou por 20.” .
Contudo este exemplo espanhol é uma gota num oceano, visto que nas últimas edições das Jornadas da Juventude, o lucro foi zero para o Estado e nalguns casos até o deixou endividado. No Panamá em 2019 o lucro total foi para a Igreja do Panamá, onde houve um investimento público de 57 milhões de euros. Em anos anteriores, o evento deixou o Brasil com uma dívida de 28 milhões e o Canadá em 2002 com um valor semelhante.
No Artigo n.º 41, n.º 4 da Constituição da República Portuguesa afirma-se que “As igrejas e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado (…)”, portanto a dúvida mantém-se, porque irá o Estado português financiar um evento católico?
Afinal de contas vivemos num país laico.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Beatriz Farias
Editado por: Afonso Alturas