“Muitas dessas coisas aconteceram de verdade”, assim começa Amsterdam, um filme que realmente aconteceu, e não muito mais que isso.
Amsterdam, realizado por David O. Russell, é uma comédia histórica repleta de estrelas, inspirada por uma conspiração histórica americana conhecida como o “Business Plot” , de 1933. O evento retratado se trata de uma tentativa de golpe de estado por um movimento fascista, formado por um pequeno grupo da elite capitalista da época, que planeava depor o presidente Franklin D. Roosevelt e pôr no poder, de maneira não democrática, um general líder de uma organização de veteranos.
Agora, tratando da parte “comédia” da comédia histórica – que francamente é a parte que se sobrepõe – podemos entender melhor os bons e maus aspetos do filme. Com um elenco tão recheado com atores da mais alta prateleira de Hollywood, é chocante a falta de carisma do longa. A maior parte das “piadas” não encaixam muito bem e raramente acrescentam conteúdo, é difícil encontrar valor cómico no Chris Rock repetindo o mesmo tipo de piada cada vez que aparece no ecrã.
Inclusive, é analisando melhor o Cast, que nos deixa claro que deve existir algum problema na realização do filme. Com a exceção de Christian Bale, as performances são sofríveis, Robert De Niro tem o carisma de uma folha de papel A4, mas é Rami Malek quem mais ofende, com uma atuação que mira no “maluco desconfortável”, e acerta na “vergonha em segunda-mão desconfortável”. Algumas cenas lembram filmes amadores ou peças de colégio – especialmente quando envolvem uma grande quantidade de personagens.
E não são só as performances que reforçam a sensação de amadorismo, a direção de fotografia e a montagem deixam a desejar. Muitas vezes perdemos a noção de espaço do cenário, a câmara se move de maneira robótica, com os movimentos do gimbal de estabilização claros e nauseantes, e as escolhas de lentes parecem quebrar a imersão. A montagem muitas vezes perde o ritmo, e existe uma cena envolvendo a Taylor Swift (uma cena muito importante no filme por sinal), que é executada comicamente – nos levando a duvidar se foi intencional ou não a tosquice.
A realidade é que Russell parece ter tentado emular um filme de Adam McKay, esquecendo da riqueza histórica ou natureza satírica que fazem os filmes de McKay funcionarem – se é que funcionam. O que é mais intrigante é que David não precisa recorrer a outros realizadores para produzir uma comédia histórica. O realizador já havia feito um trabalho decente em American Hustle, que foi um filme inofensivamente aceitável. Existe uma crise de identidade geral nesta peça cinematográfica, precisava mesmo ser uma comédia?
Os bons aspetos de Amsterdam são: a relação entre as três personagens principais, que possuem uma química boa o suficiente para nos manter entretidos, e os esforços na ambientação e set design – desde a primeira guerra até os anos 1930, em Amsterdam, tudo é visualmente excitante. Mas é desapontante que os bons aspetos do filmes sejam tão escassos, com um tema tão interessante e membros de tanta qualidade é difícil ignorar o potencial desperdiçado.
Amsterdam realmente aconteceu, e não muito mais que isso, sem destaques, um filme sobre o passado que nem no passado irá ficar.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Guilherme Freitas
Editado por: Renato Soares