Realizada por Gina Prince – Bythewood, esta obra foca-se na história das guerreiras Agojie, uma unidade de mulheres ferozes que, no século XIX, protegeu o Reino do Daomé agindo como a sua Guarda Real.
Inspirada em eventos reais, a trama de A Mulher Rei é retratada maioritariamente a partir do ponto de vista da General Nanisca, interpretada pela vencedora de um Óscar, Viola Davis, numa altura da História em que o Reino do Daomé devia todo o seu poder e riqueza ao comércio transatlântico de escravos. Ao mesmo tempo, somos introduzidos a Nawi (Thuso Mbedu), uma adolescente órfã, com uma fome enorme de se tornar numa guerreira Agojie, que é oferecida como tributo ao Rei Ghezo pelo seu pai adotivo, por recusar um casamento por conveniência.
A Mulher Rei apresenta-se como um espetáculo visual, fruto da incrível realização de Prince-Bythewood. A cinematografia das paisagens africanas, bem como os figurinos de Gersha Phillips estão incrivelmente bem conseguidos e contribuem enormemente para a brilhante estética de todo o filme. De realçar a coreografia espetacular que prospera por captar imensamente a atenção do espetador, tanto em sequências de ação e luta como também em cenas de dança tribal e de tradição africana.

Há que mencionar as performances incríveis de todo o elenco começando pela veterana Viola Davis, uma atriz altamente aclamada e galardoada que prova, mais uma vez, que é uma das melhores profissionais da indústria. A sua representação de Nanisca é cheia de nuances e emoção que, muitas vezes, não precisa de palavras para transparecer e encher toda uma sala de cinema.
Lashana Lynch (007: No Time to Die ; Doctor Strange in the Multiverse of Madness) não é estranha a filmes actionpacked, no entanto, em A Mulher Rei, interpreta Izogie e evidencia o seu talento para trabalhar um guião com um calibre emocional bastante elevado, tal como Thuso Mbedu, uma atriz talvez não tão conhecida pelo público, que partilha o spotlight com Viola Davis, e atribui a Nawi toda a intensidade, vulnerabilidade e emoção que a personagem merece.
Hero Fiennes-Tiffin, conhecido pelo seu papel como Hardin Scott na série de filmes After, surpreende nesta obra como Santo Ferreira, um negreiro brasileiro de ascendência portuguesa, pela sua representação de um papel mais sério e pelo seu português bastante aceitável, tendo em conta a nacionalidade britânica do ator e a dificuldade da nossa língua.
Este é um filme que se apresenta essencialmente como um épico de ação, destacando-se pelo apelo que faz às emoções do espetador, na sua maioria, por intermédio do desenvolvimento das personagens que consegue executar. Cada personagem, principalmente membro da comunidade Agojie, é trabalhada com uma imensa profundidade e intensidade: são apresentadas backstories provenientes de traumas passados, de dor e de uma grande vulnerabilidade. Ao mesmo tempo, este filme excela no sentido em que, apesar da individualidade de cada guerreira, é detalhada uma união e uma irmandade entre todas as Agojie.

Algo que devo destacar em A Mulher Rei é a feminidade retratada. A personagem principal, Nanisca, apresenta-se já em idade mais velha e essa é uma questão que é celebrada, bem como a identidade feminina de todo o exército Agojie, mostrando que a comunidade africana do Reino do Daomé estava muito à frente do seu tempo, no sentido em que celebrava a igualdade entre homem e mulher, bem como exercia o feminismo.
Assim, A Mulher Rei mostra-se como um ótimo filme, de uma cinematografia incrível e de ótima performances que, para além de apresentar uma parte da história africana pouco conhecida pelo público, fá-lo de uma maneira emocionante, interligando-a com valores de união, comunidade e com temas feministas e de crítica racial, abordando o papel dos negreiros e do comércio de escravos.
Nota: 3.5 / 5
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Escrito por: Inês Reis
Editado por: João Fonseca