Quase 10 anos depois da estreia do seu último filme, Baz Luhrmann está de volta para contar a história do “Rei do Rock n’ Roll”.
Conhecido por filmes como Moulin Rouge (2001) e The Great Gatsby (2013), o realizador australiano Baz Lurhman volta às salas de cinema com uma extravagante obra biográfica sobre a lenda, Elvis Presley.
O filme começa por apresentar o espetador ao ‘Colonel’ Tom Parker (Tom Hanks) , o manager de Elvis, que se propõe a contar a “verdadeira causa da morte” do ídolo do rock. Esta personagem assume, então, o papel de narrador da vida de Elvis Presley (Austin Butler), desde a sua infância no Mississipi a Las Vegas e à decadência do artista.
Ao contrário de outas produções sobre a vida e carreira de Elvis Presley, este filme atenta, na sua grande parte, à relação de dependência do cantor para com o seu agente musical e vice-versa. Evidentemente, são retratados os mais simbólicos aspetos e acontecimentos da vida de Elvis, como a sua inspiração e apropriação pela cultura negra, os seus primeiros concertos, as reações que o mesmo provocava nas fãs, o seu casamento com Priscilla (Olivia DeJonge), bem como o clima de segregação e racismo vivido na altura, no entanto, através da ótica e considerando a opinião do manipulador Tom Parker.

Confesso que não sabia muito sobre Elvis Presley quando me dirigi à sala de cinema para ver este filme. As minhas expetativas estavam um tanto altas depois de ver a reação que o filme havia provocado em Cannes, com uma ovação de 12 minutos mas, ao mesmo tempo, ia reticente, sendo que não me considero a maior fã do estilo extravagante e maximalista de Baz Luhrmann como cineasta. No caso de Elvis (2022), não podia ter ficado mais surpreendida.
A história de uma das maiores lendas musicais de todos os tempos não merecia menos que a extravagância, a cor, e o glamour oferecido por Luhrmann na tentativa de humanizar este grande ídolo, considerado um deus na terra. Os figurinos da esposa do realizador, Catherine Martin, estavam bastante bem conseguidos e transmitiam definitivamente o estilo e a vibração de alguém tão especial como o grande Elvis.
O ritmo frenético de todo o filme, as rápidas transições e a edição acelerada mostraram-se imensamente cativantes e fizeram o tempo passar extremamente depressa, apesar das quase três horas de filme, o que me leva a afirmar que, com todo o seu esplendor e espetáculo, este é um filme obrigatório de se ver numa sala de cinema.
A soundtrack desiludiu-me um pouco tendo em conta a pobre utilização das canções no contexto do filme. Percebo completamente a intenção por detrás da utilização de música contemporânea numa época diferente mas, neste caso não resultou muito bem.
Impossível, ao criticar este filme, não falar da performance brilhante de Austin Butler que, na minha opinião lhe vai valer, pelo menos, uma nomeação para os Óscares de 2023. Vários atores como Miles Teller, Ansel Elgort e até Harry Styles foram considerados para o papel e sinto que o mesmo não poderia estar melhor atribuído.
Austin Butler conseguiu incorporar Elvis Presley desde a sua tenra idade até ao seu último concerto, em Las Vegas, pouco tempo antes da sua morte. O ator não se cingiu a fazer uma simples imitação deste ícone, triunfando ao transformar-se no mesmo, desde a voz, a fisicalidade, ao sotaque e os icónicos movimentos de ancas, tudo enquanto cantava e interpretava todas as músicas utilizadas no filme. Por outro lado, Tom Hanks, um veterano da representação, não estava de todo no seu melhor papel, conseguindo, ainda assim, fazer com que o espetador o pintasse como um vilão, algo que não acontece muito nas suas personagens.

Elvis separa-se de tal maneira das biopics mais recentes como Rocketman (2019) ou Bohemian Rhapsody (2018), no sentido em que não apresenta simplesmente uma timeline da vida do artista, mas trabalha mais intensamente aspetos da sua vida, como o casamento com Priscilla ou o seu problema com as drogas.
No parágrafo seguinte aviso que podemos ter um spoiler alert, portanto caso ainda não tenham visto o filme passem para o último parágrafo e voltem depois de o ver para refletirem sobre o aspeto que menciono.
Pelo contrário, foca-se na relação paternal do ‘Colonel’ Tom Parker para com Elvis e a forma como o rei do rock vivia como uma vítima da manipulação e oportunismo do mesmo sendo, assim, Parker, considerado como o culpado pela morte de Elvis, o que achei muito interessante e diferente do standard de filmes biográficos, pelo menos musicais.
Este é um filme muito bem conseguido, espetacular, carregado de vida, ostentação e glamour que dá a conhecer um lado da vida de Elvis Presley talvez muito pouco conhecida pelo público, numa experiência musical imersiva e de grande qualidade que irá, sem dúvida, fazer de Austin Butler uma estrela.
Nota: 3.5 / 5
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Escrito por: Inês Reis
Editado por: Rafaela Boita