Há exatamente seis anos, no dia 28 de junho de 2016, o aeroporto de Atatürk, em Istambul, sofria um atentado terrorista, da autoria do Daesh, feito com explosivos e um fuzil de assalto AK-47. O português José Gomes esteve presente no acontecimento, e contou ao desacordo o que viveu no momento.
O que fazias no aeroporto de Atatürk naquele dia?
Estava a regressar de uma viagem que fiz à Malásia. A escala era exatamente nesse aeroporto.
O que estavas a fazer no momento da explosão?
No momento da explosão tinha acabado de passar a segurança da bagagem de mão. Estava no corredor que daria para os terminais de embarque quando realmente se ouviu o barulho.
Apercebeste-te logo do que se estava a passar?
Não. Lembro-me de pessoas a correr e a gritar desesperadas mas não me apercebi realmente do que se estava a passar. Confesso que fiquei assustado mas sem saber bem o que fazer.
Quando te apercebeste, o que sentiste?
Apercebi-me do que se tinha passado só depois de ter sido encaminhado pela polícia turca para a uma sala. onde também estavam outras pessoas. Passado um tempo, não sei precisar quanto, vieram informar-nos de que o aeroporto tinha sido alvo de um atentado. Lembro-me de que na altura o meu pensamento foi “fogo”. Senti-me assustado, um medo como nunca senti na vida, mas também um pouco de alívio. Soa mal, mas e a verdade.
O que viste nos momentos seguintes?
Lembro-me de ver bastantes pessoas feridas no corredor do aeroporto, algumas possivelmente mortas. Foi arrasador. Senti bastante raiva nesse momento.
Como conseguiste voltar para Portugal?
Depois de tudo isto, fomos examinados por um médico para garantir que estarva tudo bem. Disseram-me para me dirigir ao balcão da Turkish Airlines (companhia onde estava a viajar) para me remarcarem o vôo. Depois de três dias a dormir no aeroporto, tive voo direto para Lisboa. Às vezes brinco, porque a primeira pessoa a quem mandei mensagem foi à minha patroa da altura. Contei-lhe o que se tinha passado e que ia chegar só na semana seguinte.
Como reagiu a tua família ao sucedido?
É engraçado que a minha família tem sempre uma forma bastante positiva e engraçada de ver a vida, talvez seja daí que vem o meu humor negro (risos). Ficaram um pouco chocados, mas reagiram relativamente bem, se calhar porque não os alarmei muito. Exceto a minha avó, que quase fez da minha vida um inferno durante umas duas semanas (risos). Mas sei que, no fundo, só estava preocupada comigo.
De que modo é que este acontecimento afetou a tua vida e o teu modo de viver as coisas?
No início, afetou muito a forma como via muçulmanos. Hoje já penso de maneira diferente. Mas, no geral, afetou mesmo muito. Muitas vezes sonho com o que aconteceu e não e fácil lidar com isso. No dia a dia, tento evitar esses pensamentos, pois pertencem ao passado. Por outro lado, também teve um efeito positivo. Hoje consigo dar valor aos pequenos momentos que a vida traz e que, na minha opinião, estamos a deixar escapar. Acredito que, no fundo, o que levamos da vida são essas pequenas grandes histórias, esses pequenos grandes momentos que nunca se vão apagar.
O atentado no aeroporto de Atatürk resultou na morte de 42 pessoas e feriu 239.
Escrito por: Beatriz Gouveia Santos
Editado por: Rafaela Boita