Cinema Éden – Grandiosidade e Glamour

Qualquer lisboeta que se preze conhece o edifício Éden, coroando a Praça dos Restauradores, na Baixa da capital. Qualquer forasteiro pasma-se com a sua grandiosidade. Hoje, num exercício de arqueologia da memória, recordamos o Éden, que ocupa certamente um lugar no pódio dos locais emblemáticos da cidade.

O projeto vê a luz do dia nos – para nós – já longínquos anos 30, sob a traça do celebérrimo arquiteto Cassiano Branco, que mais tarde será afastado da odisseia das obras públicas devido a dissidências com o regime, depois de ter pontilhado a capital de obras de arte que ainda hoje resistem à passagem do tempo. O nome escolhido para o cinema não deixa margem para dúvidas: Éden, o paraíso do cinema, numa época em que ir ao cinema, ao teatro ou a qualquer atividade de cariz cultural exigia que as pessoas se vestissem a rigor, para depois flanarem pelas escadarias monumentais do edifício, trocando olhares e comentários sobre a indumentária alheia. Estávamos na época em que as senhora se passeavam de estola sobre os ombros e cigarrilha em riste, uma época em que o requisito mínimo era a excelência envolta num ambiente de glamour.

Sala principal do Éden. Vista do Palco. Fonte: Pinterest

O Éden é um espaço que começa por servir como cinema, mas com o passar dos anos e o aparecimento dos centros comerciais, que albergam também salas de cinema, a procura dos lisboetas pelas sessões dos Restauradores declinam significativamente e, deixando de dar lucro, o majestoso Cinema vê-se obrigado a fechar portas por alturas de 1989, cinquenta anos volvidos da sua construção. Mais tarde o edifício vem a albergar uma repartição da Loja do Cidadão e depois desta fechar, o piso inferior é reservado a lojas de roupa, que lá se encontram atualmente, tendo os patamares superiores do edifício sido convertidos num luxuoso apart-hotel em pleno coração de Lisboa.

A fachada nos anos 30. Fonte: Pinterest

Assim se escreveu o fantástico destino de um clássico arquitetónico da cidade, o Éden, uma peça em três atos, de ascensão, glória e decadência, que hoje a atividade hoteleira ressuscitou, permitindo às massas continuarem a admirar a fantástica arquitetura que se praticou em Portugal durante o século XX, uma arquitetura que não deixa ninguém indiferente pelo seu caráter majestoso.

Escrito por: Ricardo de Sousa Carmo

Editado por: Rafaela Boita

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