“O povo inglês pensa que é livre, estão muito enganados, só são livres durante a eleição dos membros do parlamento, assim que são eleitos, são escravos, não são nada.” Rousseau, 1762
O povo está feliz, outra vez.
A vitória do candidato perfeito, vitória também de Ursula von der Leyen e da União Europeia. Vitória de um povo feliz em busca de cada vez mais sucesso. Vitória de uma Nação unida à volta de um homem providencial, o homem perfeito, aquele que guiará o povo nas duras e longas batalhas. Vitória das empresas e dos trabalhadores, daqueles que investem, que arriscam. Vitória dos que chegam e dos que partem. Vitória total e esmagadora. Obrigado Monsieur Macron.
Este curto parágrafo bem poderia ser o início de um conto de fadas. Infelizmente a realidade é outra. Provavelmente qualquer francês que tenha vivido fora das magníficas ruas dos bairros privilegiados de Paris perceberia a ironia desde a primeira frase do parágrafo.
O objetivo em 2017 era simples e direto: combater o desemprego, a precariedade e o sentimento de insegurança social. Reconciliar a direita e a esquerda à volta de um homem novo, capaz criativo e sensato. Cinco anos depois o resultado é catastrófico e o futuro promete ser bem pior.
Este resultado não é uma derrota de Marine le Pen, os seus erros do passado e reputação já a condenavam à derrota bem antes do início destas eleições, este resultado representa bem mais do que isso. Derrota da esperança ecológica, derrota dos trabalhadores, derrota daqueles que vivem à margem da sociedade, derrota do mundo rural, derrota da cultura francesa, derrota da segurança e da justiça. Derrota da educação nacional. Vitória do casal franco-alemão. Derrota do intergovernamentalismo europeu e da cooperação entre as nações. Derrota da esperança. Derrota do socialismo, da social democracia, do liberalismo clássico, do comunismo, do anticapitalismo, do nacionalismo e patriotismo. Vitória do ultraliberalismo, do transhumanismo e do supranacionalismo e federalismo europeu. Vitória dos interesses dos de sempre e derrota dos interesses dos de nunca. Derrota dos esquecidos da república.
Vitoria do sistema, derrota do povo.
O povo está infeliz, outra vez.
“Uma estação ferroviária é um lugar onde se encontram pessoas que são bem sucedidas e pessoas que não são nada.” Emmanuel Macron, 29 de junho 2017
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Rui Rodrigues
Editado por: João Miguel Fonseca