A legião internacional de defesa territorial da Ucrânia

Após a invasão russa ao território ucraniano, a unidade militar de voluntários estrangeiros é a forma que, segundo o presidente Volodymyr Zelensky, todos os não ucranianos têm de defender “a Ucrânia, a Europa e o Mundo”. Contudo, o que é afinal a legião internacional de defesa territorial da Ucrânia? Será esta a porta de entrada da extrema-direita para a guerra?

A idealização de uma legião internacional da defesa do território ucraniano não é um tema recente, resultando do desejo do seu governo em reforçar o poder militar após a anexação da Crimeia e início do conflito na província do Donbass, em 2014. No entanto, apenas acabou por vir a ser oficialmente criada no passado dia 27 de fevereiro.

A legião, sob alçada do ministério da defesa ucraniano, conta com aproximadamente 20 mil soldados das mais diversas partes do mundo. Segundo o seu porta-voz, Damien Magrou, à plataforma POLÍTICO, o seu contingente é composto na sua maioria por britânicos, norte-americanos e polacos, tendo também um número considerável de combatentes dos países bálticos e do Canadá, locais onde se concentra a parte da diáspora ucraniana.

Perante a multiculturalidade dos voluntários, Magrou explica que estes têm diferentes motivações, podendo distinguir a experiência em diferentes zonas de conflito, como Síria, Líbia ou Iraque, do contingente norte americano e a luta da defesa de toda uma região, que motiva os soldados oriundos da Europa Central e de Leste. Ainda assim, Magrou, relata que existe um “sentimento comum para todos os que vieram e se inscreveram na legião, é que tinham vontade de fazer algo sobre o conflito”, acrescentando que, “não podemos apenas assistir passivamente enquanto as bombas caem nas grandes cidades da Ucrânia”.

Embora se trate de uma unidade militar composta por voluntários, apenas serão aceites aqueles que tiverem experiência de combate em diferentes frentes, não sendo suficiente para poder aderir aqueles que tenham apenas cumprido o serviço militar. Caso não reúnam estas condições, Damien Magrou, agradece a disponibilidade, mas pede que estes “voltem para as suas casas”.

O processo de adesão para a legião internacional é composto por sete etapas. Inicialmente, o voluntário deve contactar a embaixada da Ucrânia no seu país e comunicar ao Adido de defesa ou ao Cônsul o seu desejo em aderir a esta unidade. Em seguida, deve preparar os documentos — documentos internos, como cartão de cidadão, passaporte, cédula militar, bem como outros documentos solicitados — e os equipamentos militares, de acordo com os requerimentos da embaixada.

A terceira etapa, é a da entrevista com o Adido de defesa da embaixada, onde será analisado a sua solicitação de voluntariado. Em caso de aprovação, receberá um visto militar entregue pelo cônsul ucraniano, tendo que o enviar para as forças armadas ucranianas. Após contacto das forças armadas, pode viajar para a Ucrânia — a organização da viagem fica encarregue da embaixada e consulado, bem como da unidade de defesa territorial da Ucrânia, de modo a garantir a segurança dos soldados. 

Após chegada a solo ucraniano, procede-se a última etapa, cada voluntário tem que se inscrever no checkpoint da legião internacional. Terminada a inscrição, está apto a iniciar serviço, sendo integrado nos comandos locais em unidades com soldados que partilhem mesmo idioma ou nacionalidade.

Para além da experiência de combate, outro critério de aceitação dos candidatos é a ausência de condenação pela prática de crimes, tendo que ser apresentada no processo de candidatura o registo criminal. Segundo o Diário de Notícias, Sergi Malyk, adido militar da embaixada da Ucrânia em França, afirma que este conjunto de medidas visa impedir “a infiltração de elementos criminosos e de ideias extremistas e sanguinárias na Ucrânia e nas suas forças armadas”.

A adesão de voluntários à Legião Internacional divide opiniões entre países e até entre governos. A ministra dos negócios estrangeiros do Reino Unido, Liz Tuss, afirmou, em entrevista à BBC, que “as pessoas podem tomar as próprias decisões. Os ucranianos estão a lutar pela liberdade e pela democracia, não apenas pela Ucrânia, mas por toda a Europa”, embora o governo já tenha desaconselhado viajar para a Ucrânia. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, citada pelo The Guardian, fala em “ausência de obstáculos jurídicos” e que se trata de “uma escolha que cada um pode fazer. Isto é válido para ucranianos residentes aqui, como para todos os que pensam que podem contribuir diretamente para o conflito”.

Em oposição, o primeiro-ministro australiano, Scott Morisson, citado pela SBS News, apelou a que os australianos não viajassem para a ucraniana por questões de segurança e que tais ações vão contra a lei do país. Frances J.Allen, vice-chefe do Estado-maior do Canadá, declarou que os militares canadianos estão proibidos de ir combater para a legião internacional, com exceção daqueles que tenham a sua presença aprovada pelo chefe do Estado-maior, Wayne Eryre. 

Escrito por: Alexandre Guerreiro

Editado por: Maria Santos

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