Eunice Muñoz morre, esta sexta-feira, aos 93 anos, em Lisboa. Herdou dos pais a paixão pelo palco e tornou-se uma importante mulher na história do teatro português. “Hoje o pano de boca do Teatro desceu e as luzes apagaram-se”, diz Filipe La Feria.
Eunice Muñoz nasceu em 1928 na Amareleja, no distrito de Beja. Cresceu numa família de artistas de circo e de teatro. Aos 13 anos o percurso da atriz teve início com a peça “Vendaval”, de Virgínia Vitorino, com a Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro. Em novembro do ano passado, Eunice subiu ao palco do Teatro Nacional D. Maria II pela última vez, celebrando os seus 80 anos de carreira.
A notícia da morte da atriz foi avançada esta manhã pela agência Lusa, após o comunicado do filho. Eunice já tinha estado internada durante um mês este ano, devido a complicações de saúde, mas no mês de março recebeu alta hospitalar e regressou para junto da sua família. Hoje, dia 15 de abril, morre na sequência de uma paragem cardiorespiratória, aos 93 anos, no Hospital de Santa Cruz.
Durante a próxima segunda-feira, dia 18 de abril, o corpo de Eunice Muñoz irá ficar em câmara ardente na Basílica da Estrela, em Lisboa, a partir das 17h00. O funeral está marcado para o dia seguinte, terça-feira, com uma missa de corpo presente entre as 15 e as 16 horas na Basílica da Estrela. A cerimónia de cremação está prevista para as 17 horas de dia 19 de abril, no cemitério do Alto de São João. O Governo decretou um dia de luto nacional previsto para este mesmo dia.
Ao longo do dia, têm sido prestadas várias homenagens e deixadas mensagens de despedida a Eunice Muñoz. O Desacordo teve acesso ao testemunho do encenador Filipe La Féria, que lamenta a morte de uma “grande amiga”, uma “estrela imortal do Teatro”.
Hoje o pano de boca do Teatro desceu e as luzes apagaram-se. Fedra, Sarah Bernhardt, a Mãe Coragem, a Dama das Camélias agradeceram os aplausos e desapareceram no labirinto dos corredores dos camarins. Muito da nossa vida Eunice levou com ela. A todos os atores e ao público de várias gerações, deixou o seu instinto genial, a sua alma e o seu incomparável talento. Ela leva consigo muito dos mais belos e emocionantes momentos das nossas vidas. Os seus olhos de deusa, a sua voz, o seu tão doce coração, o seu talento de fogo, a inteligência e sensibilidade de grande atriz. Eunice nasceu de uma família de atores que deambulavam de terra em terra, num Teatro desmontável pelas aldeias e vilas do Alentejo. Quando via o seu avô representar personagens dramáticas a pequena Eunice assustava-se e fugia pelos campos. A sua mãe, Mimi Muñoz, tinha a sua Companhia de Teatro que já vinha dos seus avós. Eunice nasceu no palco e o palco seria o seu irrevogável destino. A ele deu inteira a sua vida, a alma, o corpo, sempre arriscando e renovando-se em casa personagem que criava. Eunice tinha dentro de si vários heterónimos e uma sensibilidade que a fazia compreender os mistérios insondáveis do ser humano. Alegre, cómica, triste, filha ideal da Tragédia, Eunice guardava no seu grande coração a estrela imortal do Teatro.
Obrigado, querida amiga e até já,
Filipe La Féria
Pelas redes sociais são várias as reações. António Costa, primeiro-ministro português, expressou o seu lamento através do Twitter, considerando que “Eunice Muñoz marcou de forma definitiva o teatro português”.
O ator Ruy de Carvalho partilhou um vídeo no Facebook com a atriz a dançarem, escrevendo que “esta foi a última vez que dançámos juntos”.
Já Diogo Infante partilha a sua tristeza, referindo-se a Eunice como a “A maior atriz Portuguesa de todos os tempos!”.
Eunice Muñoz deixou um marco importante na história da representação de Portugal. Despediu-se dos palcos no ano passado com a peça “A Margem do Tempo”, ao lado da neta Lídia Muñoz. Também em 2021, foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.



Escrito por: Maria Santos
Editado por: Rafaela Boita