O ator Will Smith desferiu uma chapada no rosto do humorista Chris Rock, em plena 94° cerimónia dos Óscares, depois deste ter feito uma piada sobre a sua mulher.

Fonte: O Jogo
É o assunto do momento. Will Smith bateu em Chris Rock, em direto, durante a 94ª cerimónia de entrega dos Óscares. O renomeado ator, pai dos jovens talentos Jaden e Willow Smith, subiu ao palco para desferir uma chapada no rosto do humorista, depois deste ter feito uma piada envolvendo a sua mulher, Jada Pinkett Smith. Alguns dizem que Smith arruinou a sua reputação, outros que a sua masculinidade tóxica veio ao de cima e outros, mais compreensivos, defendem-no, dizendo que é perfeitamente normal que um homem aja de tal maneira para proteger a sua esposa. A mim, a atitude de Smith parece-me demasiado emotiva, mas também absolutamente desculpável.

Fonte: Caras – SAPO
Comecemos, primeiro, por explicar a piada em causa. Chris Rock, dirigindo-se a Jada Pinkett Smith, mencionou que esta deveria participar no filme G.I. Jane 2, no qual a protagonista tem o cabelo rapado. A visada, que sofre de alopecia – ou seja, calvície – não gostou da graçola. O marido começou por esboçar um sorriso amarelo, mas vendo a reação da esposa, decidiu vingar-se. Depois de ser agredido, Chris Rock continuou com a sua boa disposição, ironizando – “uau, o Will Smith acabou de me bater”.
Não acompanhando a carreira de Chris Rock e tendo pouca noção do tipo de humor que este costuma fazer, tenho a dizer que a piada em causa foi, no mínimo, desadequada à situação. A questão não se prende com o facto de se tratar de uma piada sobre uma condição física, mas sim com o facto de ter sido dirigida a uma pessoa específica que, certamente, se sente insegura por padecer dela. Compreendo que Pinkett Smith se tenha sentido humilhada ao ouvir, em plena cerimónia dos Óscares, um reparo à sua queda de cabelo que proporcionou umas boas gargalhadas à audiência. Para mim, a piada de Chris Rock está ao nível de uma piada racista ou homofóbica dirigida a alguém de uma minoria. Parece-me de um extremo mau gosto dirigir um escárnio insultuoso a alguém presente na audiência, sem que essa pessoa o tenha consentido.
Compreendendo a reação de Jada, consequentemente, compreendo a reação de Will Smith. Vendo a mulher a sentir-se ridicularizada, não hesitou em tentar dar uma lição àquele que a tentou ridicularizar. Não digo que tenha sido a abordagem mais correta, mas vale a pena lembrar que as estrelas de Hollywood também são seres humanos e que por vezes também perdem as estribeiras. É fácil pensar que seria mais correto e cavalheiresco ter uma conversa privada com o humorista ou expressar o descontentamento numa rede social, mas nós próprios também não sabemos o que faríamos se estivéssemos no lugar de Smith. É muito provável que várias das pessoas que criticam a sua conduta acabassem por reagir da mesma forma caso um familiar ou amigo seu se sentisse humilhado em público, em frente à televisão internacional. E eu, pessoalmente, gostaria de ser defendida caso estivesse na mesma situação que Pinkett Smith. Não sou conivente, também, com comentários como os de Isabel Moreira ou Diogo Faro que vêm rotular o que se passou como “um acesso de masculinidade tóxica”, ainda mais porque sei que estas pessoas seriam as primeiras a manifestar-se – e bem – em favor da vítima, caso se tratasse de uma piada racista o homofóbica. Masculinidade tóxica é violência doméstica, masculinidade tóxica é assédio, masculinidade tóxica é agir como um nice guy, masculinidade tóxica é slut shaming, masculinidade tóxica é mansplaining. Há uma infinidade de comportamentos que podem ser considerados masculinidade tóxica, um homem que agride outro para proteger a sua mulher não me parece um deles. Comentários como estes só acabam por descredibilizar quem realmente sofre todos os dias às mãos do machismo.


Quanto ao rumor que anda por aí de que todo o ato foi encenado, acho plausível – pelas audiências – mas acho que é falso pelas razões que já mencionei. É normal que alguém tenha um acesso de raiva quando vê um ente querido a sentir-se insultado.
Will Smith acabou por ganhar, mais tarde na noite, o Óscar de melhor ator pela sua performance em “King Richard – Para além do jogo”, mas, infelizmente para ele, é a chapada a Chris Rock que está agora nas luzes da ribalta. É simples e não é uma surpresa, as pessoas gostam de drama e de sangue.

Fonte: UOL
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Escrito por: Beatriz Gouveia Santos
Editado por: João Miguel Fonseca