
O ano de 2022 é um ano muito importante para a política e a diplomacia: um ano de eleições em diversos países, tais como a Coreia do Sul, Austrália, França e o Brasil, por exemplo. Este artigo focará no caso brasileiro e a suas respetivas implicações.
Contextualização do Brasil no mundo
A República Federativa do Brasil é o 5º país mais extenso do mundo. Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), ocupa hoje a 13ª posição no ranking das maiores economias do mundo, para além de ser a 10ª maior potência militar, como mostram os índices do GFP (Global Fire Power). O Brasil possui uma população superior aos 210 milhões de habitantes e é mundialmente conhecido como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, apresentando-se como um forte competidor dos americanos e dos chineses em quase todos os setores ligados à produção alimentar.
No que se refere a organizações internacionais, o Brasil é membro do G20, BRICS, G4, Mercosul e outros, para além de ser um dos membros não-permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. É, ainda, um aliado extra-OTAN, após ser indicado pelos EUA sob a presidência de Donald J. Trump. Por último, mas não menos importante, o Brasil foi recentemente convidado pela OCDE a dar início ao processo de adesão a esta entidade, que é hoje vulgarmente conhecida como o “clube dos ricos”.

Então porque devias estar atento ao Brasil em 2022? O raciocínio é muito simples: o Brasil é um país com grandes potencialidades em diferentes setores, sejam eles comerciais, económicos, militares ou sociais; o Brasil, assim como dezenas de outros países, também tem sofrido, já há alguns anos, com a grande polarização política. Quer isto dizer que a eleição presidencial deste ano ditará por quais rumos o Brasil se irá enveredar e independente de quem ganhe as eleições, haverá consideráveis consequências no cenário internacional.
As eleições
As eleições gerais estão marcadas para ocorrer no dia dois de outubro, sendo o segundo turno (somente para a Presidência da República) marcado para 30 de outubro. É necessário destacar que a dois de outubro, os brasileiros não irão somente votar para a presidência, mas também para o Congresso (Câmara dos Deputados e Senado), governos estaduais (para os 26 estados e o Distrito Federal) e suas respetivas câmaras distritais.
Há, até agora, vários pré-candidatos, sendo o número oficial incerto. Pode-se garantir, entretanto, quem serão as principais figuras deste ano: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente Jair M. Bolsonaro; sendo expectável, ainda, que haja outros candidatos da tão chamada “3ª via”. Um dos nomes que se tentam afirmar na consolidação desta via alternativa é o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro.

Um balanço do governo Bolsonaro
O governo do presidente Jair Bolsonaro iniciou-se a 1 de janeiro de 2019. O então recém empossado Presidente da República herdara um país com problemas estruturais nas mais diversas áreas, tais como: a educação, a saúde, a segurança pública, o meio ambiente, o desemprego, um défice orçamental e dívida pública gigantescos e a imagem do país seriamente comprometida no estrangeiro. Muitos desses problemas ainda persistem.
A missão era (e supostamente continua a ser, ou pelo menos deveria) trazer mudanças e, para tal, Bolsonaro escolheu a dedo a sua equipa de ministros, sendo alguns desses ministros especialistas em suas respetivas áreas e não políticos, o que deu ao governo algum senso de tecnocracia. O Ministro da Infraestrutura é um grande engenheiro público de formação militar; todos os três Ministros da Justiça são nomes de peso do mundo jurídico brasileiro; o Ministério da Economia ficou a cargo de um renomado (e polémico) economista e Doutor pela Universidade de Chicago, Paulo Guedes; e assim por diante.
Até o dia de hoje, o governo Bolsonaro foi e é marcado por grandes e intensos altos e baixos, tanto a nível nacional, como internacional. Se tem algo que sempre se fez presente durante a governação de Bolsonaro, são as polémicas: sobre a pandemia, sobre adversários políticos, sobre o meio ambiente e por aí vai. Para os seus críticos, todas essas polémicas garantiram a Bolsonaro uma reputação que no Brasil diríamos que ele é “aquele tio chato que toda família tem” e que “faz piadas sem graça” para além de ser “irresponsável”.

Apesar de muitas polémicas e derrotas de alguns projetos no parlamento, Bolsonaro também coleciona pra si muitas vitórias que serão usadas em sua campanha política a seu favor, como era de se esperar. Entre essas vitórias, há alguns recordes: na bolsa de valores do Brasil, na balança comercial (http://Balança comercial bate recorde de US$ 61 bilhões em 2021), na agricultura (http://Produção agrícola em 2020 chega a R$ 470,5 bilhões e bate recorde | CNN Brasil) e na segurança pública (http://Número de assassinatos cai 7% no Brasil em 2021 e é o menor da série histórica | Monitor da Violência | G1), por exemplo. Há ainda outras conquistas e avanços feitos no âmbito internacional, traduzindo-se como resultados da política externa de Bolsonaro que focou-se na relação com um seleto grupo de países como os EUA, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, o Japão, Israel, Reino Unido, Índia, com a OCDE e a União Europeia, sendo esta última no âmbito do acordo UE-Mercosul que ainda está a ser discutido.
Todas essas conquistas políticas não fazem de Bolsonaro um excelente presidente ou um grande favorito das pesquisas eleitorais, embora seja mais do que suficiente para serem usadas de arsenal político contra seu maior opositor político: Luiz Inácio Lula da Silva.
O fator Lula
O ex-presidente Lula tomou posse a 1 de janeiro de 2003. Na época, foi algo histórico: Lula “representava” o brasileiro de origem humilde, sindicalista e aquele que iria lutar em favor dos pobres, em detrimento da desigualdade social no país, o que lhe conferiu a alcunha de “pai dos pobres”, expressão usada até os dias de hoje pelos apoiadores de Lula.
A verdade é que Lula fez o que era preciso e o fez no momento certo: aproveitou-se de um “boom” dos mercados mundiais, como a alta das commodities, a demanda doméstica e o controlo da inflação, o que possibilitou o emprego de tantas medidas sociais que visaram melhorar a qualidade de vida da população mais pobre e a renda da mesma. Mas como não poderia ser perfeito, Lula e seu partido (Partido dos Trabalhadores) colecionam muitas polémicas e escândalos.
Bolsonaro, por um lado, vive a gabar-se de que nunca houve um escândalo de corrupção em seu governo, e de certa forma até tem a legitimidade de o dizer, pelo menos até hoje. Lula, por outro lado, jamais poderia dizer o mesmo. Já em 2005, o Brasil se deparou com o famoso “Mensalão”, nome usado para designar um escândalo de corrupção no governo Lula: o poder executivo pagava as “mensalidades” a deputados para que seus projetos fossem aprovados no parlamento (compra de votos no seu sentido mais literal possível). Houve ainda o “Petrolão”, nome que se refere aos escândalos de corrupção nos governos do PT que quase levaram à falência a maior empresa petrolífera do país: a Petrobras (que Bolsonaro também se gaba, novamente com alguma razão, de que trouxe de volta o lucro aos investidores, através de uma menor intervenção do governo na empresa).
O estopim dos escândalos de Lula, foi sem sombra de dúvidas, a famosa operação “Lava Jato”, de repercussão internacional, que mirou não só em Lula e no seu partido, mas também em outros partidos. O próprio ex-presidente Lula foi condenado e preso, embora hoje se encontre em liberdade após uma ousada manobra judicial em seu favor (cuja legitimidade divide, e com razão, a opinião dos brasileiros, uma vez que foi orquestrada por um ministro da Suprema Corte do Brasil que foi, e presume-se que ainda é, um declarado apoiador da ex-presidente Dilma Rousseff, a sucessora e a “afiliada política” de Lula).
Até mesmo o ex-presidente norte-americano Barack Obama, que no passado elogiava publicamente as boas intenções de Lula em promover o crescimento económico e o desenvolvimento social, reconheceu que Lula é corrupto (http://Em livro, Obama descreve encontros com Lula e Dilma | CNN Brasil).
Ainda na prateleira de polémicas, Lula coleciona o irresponsável apoio a regimes não-democráticos, tais como Cuba, Venezuela, Síria, Nicarágua e Bolívia (esta última, quando era governada pelo ex-presidente Evo Morales). Essa polémica não está apenas na história e no passado político de Lula, afinal, o ex-presidente há relativamente pouco tempo, voltou a afirmar que se for eleito presidente, o Brasil voltaria a apoiar os seus parceiros ideológicos. A propósito da morte do ditador Fidel Castro em 2016, Lula afirmou que sua morte foi “como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei.” (Entenda a relação de Lula e do PT com as “ditaduras de esquerda” | CNN Brasil).

Por último, mas não menos importante, Lula tem sido devidamente criticado nos últimos meses por fazer abertas declarações acerca do controlo dos meios de comunicação com a justificação de que isso servirá para evitar a disseminação de fake news, mas a questão que se levanta é: qual é nome que se dá quando o governo de qualquer Estado controla as informações que serão disseminadas pelos mais diversos meios de comunicação? Pelo menos até os dias de hoje, o nome disso é “censura”, por mais que tentem arranjar justificações ou alcunhas como “regulação” (http://Lula falou ao menos 9 vezes em regular mídia depois de solto).
O resumo da ópera
Após discorrer sobre a encruzilhada política em que o eleitor brasileiro se encontra neste momento, venho a concluir que o cenário ideal para o Brasil seria o surgimento e crescimento de uma verdadeira terceira via política, que consiga de facto manter o país na senda do crescimento económico e desenvolvimento social (feito com muita responsabilidade fiscal e não baseando-se no populismo semelhante ao do PT). Mas não é este o caso. Pelo menos não agora, não neste ano.
Cabe aos brasileiros a, por vezes encarada como “difícil”, escolha entre um presidente que graças a sua equipa de ministros técnicos que até conseguem por vezes fazer o que é necessário e benéfico ao país, mas que não consegue ser muito amistoso politicamente (culminando em mais polarização) e que produzem polémicas com grande maestria, ou entre um ex-presidente corrupto, que já foi condenado, e que deveria estar preso para se fazer cumprir a justiça, e que têm aspirações (e inspirações) tão anti-democráticas.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Bruno Santos
Editado por: João Miguel Fonseca