Muitos duvidaram, mas a verdade é que Robert Pattinson entregou uma versão diferente e bem-sucedida do Batman como nunca tínhamos visto. Deparamo-nos com a figura de um herói sombrio, misterioso e intimidante que ainda procura o seu verdadeiro propósito em Gotham.

The Batman, a mais recente obra cinematográfica de Matt Reeves, chegou aos cinemas portugueses na semana passada e é um filme que promete dar algo diferente, afastando-se de todas as versões que já vimos anteriormente no cinema.
Os primeiros minutos do filme são logo muito interessantes, com uma apresentação de Batman (Robert Pattinson) num monólogo impactante feito pelo mesmo, que até pode dar arrepios a alguns. A colocação da voz do ator está perto da perfeição para esta versão do vigilante e dá ao espetador as motivações, conflitos e o que o herói representa para a cidade naquele momento, isto é, o medo e a vingança. Ao mesmo tempo somos apresentados ao universo sombrio da cidade de Gotham, que surge pela primeira vez mais moderna, assemelhando-se a grandes centros urbanos da atualidade que tornam Gotham mais próxima da realidade. As escolhas de ruas estreitas e pouca iluminação caracterizam a atmosfera hostil, sinistra e solitária de uma cidade corrompida pelo crime.
Na trama acompanhamos Batman e o Inspetor Gordon (Jeffrey Wright) numa descoberta da verdadeira corrupção da cidade, através dos crimes de The Riddler (Paul Dano), onde o vilão vai deixando enigmas que levarão ao seu objetivo. Muito nos espera nestas três horas de filme, das quais nos apercebemos, mas não nos chateamos com elas, num desenvolvimento lento que se conjuga com a melancolia da cidade e que nos permitem absorver minimamente toda a informação.

Reeves não volta a dar uma história de origem e foca-se muito na figura de Batman, dando pouco espaço a Bruce Wayne, que é “engolido” pela identidade do vigilante num universo jamais retratado. No entanto, não se deixa de mencionar o passado do vigilante, que é explorado como nunca, com aspetos que podíamos não estar à espera. Além disso, há outras surpresas na performance do vigilante que irão deixar os fãs entusiasmados.
The Batman conta com um elenco muito rico, começando pelo protagonista, Robert Pattinson, que passa muito bem a imagem de um jovem nitidamente perturbado pelos mistérios do passado e que recorre à vida de vigilante para fugir dos seus traumas em contraste com o vigilante intimidador. Apesar de eu ser suspeita por ser muito fã do ator, sinto que o Batman de Robert Pattinson era algo que um herói que foi trabalhado já tantas vezes no grande ecrã precisava. Pattinson entrega a tensão que a personagem precisa, só a sua presença e o seu olhar falam por si.
O restante elenco também é de louvar, com excelentes atores, como o irreconhecível Colin Farrell que interpreta Penguin e Paul Dano como psicótico The Riddler, uma personagem também ela perturbada, com a sua respiração sinistra, incómoda e um visual simples, que resulta num antagonista que se aproxima mais à realidade.
Além de todo destes atores, não poderia deixar de referir Zoë Kravitz, que se destaca como Selina Kyle, sensual, destemida e sobretudo uma personagem que não é só sidekick de Batman, mas que tem as suas próprias motivações que ajudam a explorar as camadas mais pobres da cidade e uma elite corrupta.

Relativamente à banda sonora da autoria de Michael Giancchino, esta está sempre presente e, sem ela, o filme não seria a mesma coisa. A banda sonora mostra ser imprescindível para a criação da atmosfera ao longo de toda a narrativa, todos os temas são pensados para o ambiente de Gotham e a postura de Batman neste filme, ajudando a criar momentos de suspense, tensão e ação. Além disso, não posso deixar de mencionar a versão de “Something In the Way” de Nirvana, que foi muito bem escolhida para o filme.
Outro elemento que não nos passa despercebido é a componente visual do filme. Reeves é um cineasta que prima por bons universos a nível visual e isso é visível em The Batman com um incrível trabalho de fotografia de Greig Fraser. Posso ainda dizer que há uma cena de luta que foi gravada sem movimento da câmara, numa completa escuridão e criou um efeito visual que me agradou e surpreendeu. Irão perceber assim que virem o filme.

Por último, é importante ainda referir que, apesar de toda a atmosfera pesada, é possível soltar um sorriso ou até gargalhadas. Os momentos cómicos não estão colocados de maneira propositada como temos sido habituados nos blockbusters, mas a verdade é que The Batman não é um blockbuster, a comédia está presente de forma subtil.
The Batman é um filme longo, com muita informação, sem pressa na contrução da narrativa, algo que permite que o espetador o perceba bem e não o deixará indiferente. Recomendo esta obra e garanto que vão ficar com vontade de voltar ao cinema para ver o fime pela segunda vez.
Nota: 8/10
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Rafela Boita
Editado por: João Miguel Fonseca