A 21 de Fevereiro de 2022, o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu a independência dos oblasts ucranianos separatistas de Donetsk e Luhansk, na região de Donbass. Três dias depois, a 24 de fevereiro, iniciou-se a invasão da Ucrânia por parte de tropas russas. Donetsk e Luhansk assumem um papel relevante no conflito, estando do lado do invasor.

Fonte: CNN Portugal
O nome “Donetsk”, provavelmente, não é estranho para grande parte dos europeus. Donetsk é a cidade natal do clube de futebol Shakhtar Donetsk, presença habitual em competições europeias. Porém, desde 2014 que a equipa está sediada em Kiev. Paulo Fonseca, técnico português que treinou o Shakhtar de 2016 a 2019 e que se encontrava na Ucrânia no início da atual invasão, chegou mesmo a admitir que nunca esteve em Donetsk.
Donetsk, que se autoproclama como República Popular de Donetsk, e Luhansk, que se autoproclama como República Popular de Luhansk, declararam a sua independência da Ucrânia em 2014, após protestos separatistas que ocorreram no seguimento da anexação da Crimeia pela Rússia e referendos não reconhecidos como legítimos pela comunidade internacional. Ao contrário das regiões da Ucrânia ocidental, cuja população é, na sua maioria, ucraniana e defende uma aproximação com a União Europeia – que levou ao chamado Euromaidan, onda de protestos pró-Europa entre 2013 e 2014 – nestas repúblicas populares a maioria étnica é russa.

Fonte: The Wall Street Journal
Desde então, ambos os estados autoproclamados são governados por forças pró-Rússia – uma espécie de governos fantoche, como o que existe na Bielorrússia. Porém, embora sejam independentes de facto (na prática), continuam a pertencer à Ucrânia de jure (pela lei/na teoria), já que todos os estados membros da ONU, exceto a Rússia, as reconhecem como parte do território soberano da Ucrânia. São também reconhecidas pelos estados separatistas da Abecásia e da Ossétia do Sul, independentes de facto e pertencentes à Geórgia de jure.
As declarações de independência de Donetsk e Luhansk, para além de terem tido reconhecimento muito limitado, contribuíram para o início da Guerra em Donbass – um conflito entre a Rússia e a Ucrânia precedente ao atual – visto que, como resposta à turbulência pró-russa, o governo ucraniano iniciou uma “operação anti terrorista”, com o objetivo de recuperar as zonas ocupadas. O interesse nas regiões passa pelo facto de terem uma grande riqueza mineral, uma relevante produção industrial de aço e carvão e uma posição estratégica, perto do mar negro.
Nos últimos oito anos, estes locais têm estado altamente militarizados, com fronteiras muito reforçadas e sendo palcos de grande tensão armada. Embora já tenha havido mais de trinta acordos para cessar fogo – incluindo os Acordos de Minsk, que proíbem armas pesadas perto da linha de contacto – estes são constantemente violados por ambas as partes, tendo já levado a mais de 14 mil baixas, entre militares e civis, e ao deslocamento de 1.5 milhões de pessoas das suas casas.

Fonte: Getty Images

Fonte: Getty Images

Fonte: Antropofagista
Aquando da atual situação, Donetsk e Luhansk lutam ao lado da Rússia – Donetsk com a Milícia Popular de Donetsk e Luhansk com o exército do Sudeste – com a NATO contra si.
Escrito por: Beatriz Gouveia Santos
Editado por: Renato Soares
Um pensamento sobre “Donetsk, Luhansk e a Guerra em Donbass – precedentes da invasão à Ucrânia”