Segundo um inquérito feito pelo Portal da Construção Sustentável, por ano, centenas de portugueses morrem devido ao frio a que estão submetidos dentro das suas próprias casas.
Portugal é conhecido pelo seu clima ameno. Tanto no verão como no inverno, as nossas temperaturas não são tão rígidas como no resto da Europa. Também é importante referir que as temperaturas no interior do país acabam sempre por ser mais rígidas do que no litoral.
No interior do Alentejo as temperaturas médias no inverno encontram-se entre 1 e 10 graus. No entanto, a sensação térmica dentro de casa acaba por ser mais baixa do que as médias apresentadas, causando imenso desconforto e incómodo. Este Inverno poderá não ser o melhor exemplo, tendo em conta a seca e as altas temperaturas registadas nestes últimos meses, consequências evidentes das alterações climáticas, uma vez que foram registados 20 graus no inverno (a temperatura mais alta no país foi registada na Amareleja, com aproximadamente 22 graus).
Em abril de 2021, foi publicado um inquérito feito à população portuguesa nos meses de fevereiro e março sobre o conforto térmico que sentiam nas suas casas. Segundo o inquérito, 88% dos inquiridos não sentem conforto térmico, nem no inverno (casas muito frias), nem no verão (casas muito quentes) e apenas 12% afirma viver numa casa com temperaturas confortáveis. No entanto, para tal conforto acontecer, é necessário gastar energia na regulação das temperaturas e aqui vemos que 94% dos participantes afirmam ter um aumento significativo na fatura da luz. Infelizmente, esta realidade não se aplica apenas a uma região do país, mas sim a todas as regiões, sendo um problema geral.
O Governo lançou, no ano passado, um número de medidas que visam combater a pobreza energética através de vales do Estado concedidos às famílias mais carenciadas que são usados para a compra de fogões, aquecedores, equipamentos que ajudam a arrefecer as casas e/ou na instalação de painéis fotovoltaicos para autoconsumo. Estes mesmos vales também podem ser usados para melhorar a eficiência energética da casa.
Porém, através do inquérito, percebemos que mais de metade dos participantes recorrem a mais roupa, para pouparem dinheiro em aquecimento (74%).
Com isto coloca-se a seguinte questão: como é que o Governo vai combater a pobreza energética fornecendo aquecedores e equipamentos de arrefecimento, que são equipamentos que gastam imensa energia, se os portugueses não têm dinheiro para tal? Somos o 8º país da Europa com a energia mais cara, mas os nossos salários são demasiado baixos. Os portugueses não têm capacidade económica para pagar a fatura da luz no final de um mês de inverno severo, então, recorrem a mais roupa.
Aproximadamente 1,2 milhões de portugueses gasta mais de 10% do seu salário na fatura energética e, ainda assim, não conseguem manter as suas casas confortáveis. Outro aspeto revelado pelo inquérito é a falta de conhecimento sobre os materiais utilizados na construção dos edifícios e como esses materiais afetam a existência ou não de conforto térmico.
Nos últimos três meses de 2020, o Governo abriu candidaturas através do Fundo Ambiental, que se destinavam a financiar a sustentabilidade das casas portuguesas em diversos aspetos. Foram disponibilizados cerca de 4,5 milhões de euros para as candidaturas aprovadas, mas apenas 1% dos participantes recebeu o apoio. Este 1% afirma que o dinheiro foi maioritariamente utilizado na colocação de painéis fotovoltaicos que, como sabemos, leva à redução da energia utilizada, consequentemente baixando o valor da fatura mensal. No entanto, poucos investimentos foram direcionados para a reabilitação das casas em si – pouco foi investido no isolamento, na substituição de janelas e noutras soluções definitivas para este problema, investimentos estes que iriam melhorar as condições das casas e aumentariam a eficiência energética sem colocar novos equipamentos.
A melhor maneira de proteger os portugueses do frio das suas próprias casas seria investir na reabilitação das casas em si. Esta é uma forma sustentável, duradoura, que não falha e que devia ser uma prioridade do nosso Governo. 44% dos inquiridos afirmam ter isolamento em casa, porém 28% não tem conhecimento disso. Se o isolamento for insuficiente pode perder-se entre 30% a 60% de energia térmica. Vãos envidraçados e portas desadequadas podem causar uma perda de 25% a 30%.
Carlos Dias, diretor do departamento de epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge, afirma que temperaturas muito extremas têm um grande impacto na nossa saúde e originam problemas respiratórios e cardiovasculares, explicando que o nosso coração tem de trabalhar mais para bombear mais ar que esteja poluído, com menos oxigénio ou mais frio. Isto leva ao agravamento de doenças como a bronquite, a asma e vários outros problemas respiratórios. Carlos Dias também confirma a correlação entre as condições precárias das casas portuguesas e o aumento de mortes durante o inverno.
Cerca de 40% da energia consumida na Europa provém de edifícios, logo tornar estes edifícios mais eficientes é urgente para reduzir o consumo de energia, para melhorar a qualidade de vida das pessoas e reduzir a emissão de gases com efeitos de estufa. É necessário reabilitar as casas dos portugueses, desenvolver consciência ambiental, apostar no que é sustentável e duradouro.
Escrito por: Núcleo Académico para a Proteção Ambiental (por Laura Galvão)
Editado por: Joana Horta Lopes