“To be conservative, then, is to prefer the familiar to the unknown, to prefer the tried to the untried, fact to mystery, the actual to the possible, the limited to the unbounded, the near to the distant, the sufficient to the superabundant, the convenient to the perfect, present laughter to utopian bliss.”
(Michael Oakeshott, 1962)
O pensamento político contemporâneo, ramificação advinda da teoria política, tal como o nome indica, estuda e analisa profundamente o pensamento dos mais diversos teóricos políticos da contemporaneidade. É uma área de estudos essencial para um mais completo conhecimento e saber político, dado que diversas teorias e análises políticas relevantes na atualidade política advêm precisamente deste ato de formulação e desenvolvimento do pensamento.
Partindo da importância desta área do conhecimento para a política contemporânea, decidi ser importante redigir um pouco acerca da vida, obra e pensamento de um teórico político contemporâneo tão interessante e pouco falado quanto este. A minha pequena intromissão na vida de Michael Oakeshott inicia-se, portanto, aqui.

Michael Oakeshott, considerado por Jesús Silva-Herzod Márquez como um aventureiro do conservadorismo, nasceu no dia 11 de dezembro do ano de 1901 em Chesfield, condado de Kent, na Inglaterra. Foi o segundo filho entre três irmãos que cresceram numa casa nem muito abastada, nem tampouco pobre, regida por uma mulher enfermeira de nome Frances e por um homem, de nome Joseph, que trabalhava como funcionário público para a Inland Revenue.

A sua mãe Frances, uma mulher reconhecida na sociedade por ser bastante religiosa e comummente efetuar donativos para a caridade, conseguiu influenciar Michael na sua forma de pensar, apesar de o mesmo se considerar agnóstico. O seu pai, Joseph, fazia parte de uma sociedade socialista não-radical de nome Fabian Society. Deste modo, apesar de não pertencer a uma família muito abastada ou sequer burguesa, tal como referido anteriormente, Michael cresceu num seio familiar em que a cultura, a política e a educação eram consideradas ferramentas essenciais para o desenvolvimento pessoal de cada um dos três irmãos.
Em 1912, Oakeshott deu início aos seus estudos no Colégio de St. George, em Harpenden, uma escola não convencional e bastante progressista em que o diretor, um reverendo de nome Cecil Grant, acreditava que o ensino acerca de Hegel ou Kant era mais importante do que o ensino religioso, tão típico no ano que se vivia. Este método de ensino foi útil para o desenvolvimento do pensamento de Oakeshott, que explorou estes importantes filósofos e baseou, inclusive, grande parte do seu trabalho nas obras de outro grande filósofo: Hobbes.
Ainda na sua juventude, em 1920, ingressou na Faculdade de Gonville & Caius, em Cambridge, onde estudou até ao ano de 1923, quando se licenciou na área de estudos de Ciência Política. Após a sua licenciatura tornou-se membro filiado da faculdade onde estudou, mas decidiu viajar e ingressar num intenso estudo de teologia nas cidades de Marburgo e Tubinga, na Alemanha, adquirindo um certo apreço por autores como Nietzche ou Holderlin. Após um pequeno período temporal como professor de Literatura Inglesa numa escola de gramática em Lancashire, Oakeshott decide regressar às suas origens de estudo e torna-se Professor de História na Faculdade de Gonville & Caius.

Foi no ano de 1927 que se casou pela primeira vez, casando com uma mulher de nome Joyce Fricker, com quem teve o seu primeiro filho, Simon, no ano de 1931. No entanto, Michael sempre foi considerado um bon-vivant, sendo reconhecido pelos diversos casos extraconjugais e inclusivamente por ter um filho fora do casamento, de nome Sebastian. Oakeshott casou três vezes e durante esses casamentos manteve diversas amantes, entre as quais estudantes, esposas de amigos e colegas, e inclusive uma namorada do seu filho Simon. Iris Murdoch, filósofa e romancista britânica, foi a mais famosa de todas as suas amantes.
De extrema importância para a carreira de Michael Oakeshott, em 1933, é lançado o seu primeiro livro, Experience and its Modes, onde inicia a sua escrita proeminente na filosofia idealista. Sendo um aventureiro conservador e um autêntico camaleão de interesses, em 1936 torna-se coautor de um livro em que o tema abordado se revolve em torno da escolha do cavalo vencedor em corridas de cavalos. Assim se denota que Michael tanto conseguia escrever um ensaio filosófico como algo bastante diferente de toda e qualquer filosofia existente. Camaleão de interesses e de amores, divorcia-se da primeira esposa em 1938, casando logo de seguida e no mesmo ano com a sua segunda esposa, Katherine Alice Burton. Um ano depois, em 1939, publica um novo livro, desta vez com o título The Social and Political Doctrines of Contemporary Europe.
Apesar de ser considerado um filósofo político com os pés assentes na terra, Michael precisou de colocar a sua carreira como professor e escritor em pausa devido à Segunda Guerra Mundial, onde serviu no Exército Britânico como parte de uma Unidade de Inteligência.

Retornou da guerra em 1945, regressando a Cambridge, onde entre os anos de 1947 e 1954 foi designado para diretor-geral do Cambridge Journal. Foi também em Cambridge que publicou um dos seus mais famosos ensaios, Rationalism in Politics, no ano de 1947. A compilação Rationalism in Politics and Other Essays apenas foi lançada em 1962, com a inclusão de outros ensaios, entretanto já redigidos. Seguiu-se uma breve incursão no Nuffield College, em Oxford, mas o reconhecimento devido surgiu quando começou a exercer a profissão de Professor de Ciência Política na London School of Economics and Political Science (LSE). Nesta incursão universitária o seu pensamento filosófico foi quase que colocado de parte, focando-se na área política e desenvolvendo afincadamente o seu pensamento político. Professor ativo até ao ano de 1980, foram vários os papers e ensaios publicados durante esse período temporal, contribuindo bastante para o estudo nos campos do pensamento político e da filosofia da História.

Oakeshott, amante das coisas belas como a poesia, o amor, as conversas, a filosofia e a amizade, reformou-se no ano de 1968 e optou por aproveitar a sua reforma num recanto mais calmo, mais precisamente na vila de Acton, situada no sul da Inglaterra. Em Acton viveu com a sua terceira e última mulher, Christel Schneider, uma artista abstracionista, com quem casou em 1965. Continuou envolvido na vida académica da LSE enquanto Professor Emérito, mas escolheu distanciar-se da vida política, rejeitando inclusivamente um prémio de honra oferecido pelo governo de Margaret Thatcher.
Nos seus últimos anos de vida escreveu e publicou diversos livros, entre os quais a sua magnum opus, publicada no ano de 1975: On Human Conduc’. Para além da sua magnum opus, Oakeshott publicou no mesmo ano um conjunto de ensaios nomeados como Hobbes on Civil Association. O seu último trabalho foi publicado em 1989: Michael escreveu uma coleção de ensaios acerca da educação liberal, dando-lhe o título de The Voice of Liberal Learning.

Michael Oakeshott viria a falecer no dia 19 de dezembro de 1990 em Acton, lugar onde decidiu viver os seus últimos anos de vida. Considerado um homem simples que apreciava o bom viver, Michael permaneceu sempre com um ideal íntegro e despretensioso. Oakeshott deixou o mundo terreno com muita bagagem literária por publicar e é por isso que após a sua morte vários foram os livros lançados acerca deste peculiar pensador, assim como réstias de notas, seminários, ou até mesmo cartas e vastas linhas de pensamento.
Trinta e um anos após a sua morte, Oakeshott continua a ser vastamente estudado e extremamente vivo através do seu legado, como a Michael Oakeshott Association, uma associação que bienalmente proclama conferências acerca da sua vida e obra.
Escrito por: Madalena Caldeira Batanete
Editado por: Rafaela Boita