
Os Prémios Nobel de 2021 já foram atribuídos! Os laureados foram anunciados entre os dias 4 e 11 de outubro.
Vamos saber quem foi reconhecido este ano nas áreas da Medicina, Física, Química, Literatura, Paz e Economia.
Medicina

O prémio dado, em 1949, ao neurocirurgião português Egas Moniz, foi atribuído, desta vez, ao americano David Julius e ao líbano-americano Ardem Patapoutian.
Julius, de 65 anos e professor na Universidade da Califórnia, interessou-se, na década de 90, pelas sensações de ardor causadas pela capsaicina, componente da pimenta-preta, encontrando um gene capaz de tornar as células sensíveis a esta substância química, através da codificação de um canal com recetores de calor nas extremidades nervosas da pele – o TRPV1.
Patapoutian, que tem 54 anos e é investigador no Instituto Scripps Research, desenvolveu, por sua vez, experiências com recetores ativados pelo frio, que levaram à descoberta do TRPM8. Os sensores que identificou, de uma nova classe, usam células sensíveis à pressão para reagir a estímulos nos órgãos humanos.
“As descobertas revolucionárias dos laureados com o Prémio Nobel deste ano permitiram-nos compreender como o calor, o frio e a força mecânica podem iniciar os impulsos nervosos que nos permitem perceber e adaptar-nos ao mundo” – afirmou o júri. As conclusões de ambos podem, ainda, ser úteis para processos terapêuticos.
Física

Metade dos 10 milhões de coroas suecas (950 mil euros) equivalentes a este prémio foram atribuídas ao italiano Giorgio Parisi e a outra metade foi dividida entre o nipo-americano Syukuro Manabe e o alemão Klaus Hasselman.
Parisi, de 73 anos e professor de Teorias Quânticas na Universidade La Sapienza de Roma, foi distinguido pelas suas “soluções teóricas para uma vasta gama de problemas na teoria de sistemas complexos”. No ano de 1980, descobriu padrões ocultos em materiais complexos desordenados, descoberta que a Real Academia Sueca das Ciências destaca como fundamental para compreender diversos materiais e fenómenos aparentemente aleatórios, não só em física mas também noutras áreas das ciências exatas como a matemática, a biologia e as neurociências.
Já Manabe e Hasselmann contribuíram para modelos do aquecimento global comum modelo físico do clima da terra.
Manabe, de 90 anos e metereologista sénior na Universidade de Princeton, foi o primeiro cientista a estudar interação entre o equilíbrio da radiação e o transporte vertical das massas de ar e descobriu que, quando o nível de CO2 na atmosfera dobra, a temperatura global aumenta mais de 2ºC.
Quanto a Hasselmann, de 89 anos, oceanógrafo, modelador e professor no Instituto Max Planck de Meteorologia, criou na década de 1970 um modelo que liga o tempo ao clima e provou que o aumento da temperatura na atmosfera se deve às emissões de CO2 produzidas pelo ser humano. Também trabalhou com técnicas para identificar impressões digitais impressas no clima pelos humanos e por fenómenos naturais.
Química

Os laureados deste ano nesta área foram o alemão Benjamin List e ao britânico David MacMillan, ambos de 53 anos.
List, dirigente do Instituto Max Planck, trabalhou com enzimas existentes no corpo humano e questionou se seria necessária uma enzima inteira para conseguir um catalisador. Focou-se também no estudo da prolina, um aminoácido, e descobriu que esta, sozinha, era capaz de catalisar uma reação química.
Já MacMillan, que dirige o departamento de Química da Universidade de Princeton, dedicou-se ao estudo de catalisadores metálicos, procurando perceber se seria possível torná-los mais duradouros, visto que são facilmente destruídos pelo ser humano.
“Os catalisadores são ferramentas fundamentais para os químicos, mas por muito tempo se pensou que haviam apenas dois tipos disponíveis: os metais e as enzimas. Benjamin List e David MacMillan são laureados com o Prémio Nobel da Química de 2021, porque em 2000, independentes um do outro, desenvolveram um terceiro tipo de catalisador, chamada organocatálise assimétrica, que permite criar novas moléculas” – constatou a Real Academia Sueca das Ciências.
Com as descobertas destes dois cientistas, moléculas simples conseguem fazer com que sejam evitadas perdas em processos industriais químicos.
Literatura

Nascido em Zanzibar, o galardoado com o Prémio Nobel da Literatura deste ano, chegou ao Reino Unido em 1968 como refugiado, depois de uma perseguição aos cidadãos de origem árabe no seu país. Chama-se Abdulrazak Gurnah e tem 72 anos.
Atualmente reformado, foi durante muitos anos professor de literatura inglesa e pós-colonial na Universidade de Kent. Sendo, curiosamente, um autor relativamente pouco conhecido, tem apenas um livro publicado em Portugal – o romance “Junto ao Mar”, que narra a história, na primeira pessoa, de dois imigrantes árabes que saem dos seus países rumo ao Reino Unido, onde se conhecem.
Até à data, tem dez romances e vários contos publicados, que geralmente abordam os temas do racismo, do preconceito, do colonialismo, do imperialismo e da experiência de ser refugiado ou de uma minoria étnica.
Destacou-se “pela sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes”.
Recorde-se, também, que este prémio já teve um vencedor português – José Saramago, em 1998.
Paz

O Nobel da Paz deste ano foi conquistado por dois jornalistas – a filipina Maria Ressa e o russo Dmitry Muratov. Foram galardoados “pelos seus esforços de salvaguarda da liberdade de expressão, uma pré-condição para a democracia e paz duradoura”.
Ressa, de 58 anos e opositora de Rodrigo Duterte, criou a popular e influente (New York Times) Rappler, uma plataforma digital que promove, segundo a mesma, “os standards, a ética e a missão do jornalismo” e tem o objetivo de denunciar a violência relacionada com a campanha antidroga promovida pelo regime das Filipinas. Sendo a primeira filipina a ganhar o Nobel da Paz, tem-se empenhado na luta contra a desinformação, o que já lhe valeu vários ataques na internet. Dedicou o prémio a todos os jornalistas.
Quanto a Muratov, de 59 anos, foi o criador do jornal “Novaya Gazeta” que, segundo o Comité, é “o jornal mais independente da Rússia, com uma atitude crítica em relação ao poder”. O jornal tem-se debatido com perseguição, ameaças, violência e assassínios por parte dos que se lhe opõem. Desde a sua criação, que seis dos seus trabalhadores foram mortos – inclusive Anna Politjovskaya, que escreveu sobre a guerra na Chechénia.
Desde 1935 que este galardão não era atribuído a pessoas com esta atividade profissional.
Economia

A única categoria do Prémio Nobel não criada por Alfred Nobel e atribuída pelo Banco Central da Suécia e a Academia Real Sueca das Ciências teve como laureados de 2021 o canadiano David Card, “pelas suas contribuições para a economia do Trabalho”, e o israelo-americano Joshua Angrist e o holandês-americano Guido Imbens, “pelas suas contribuições metodológicas para a análise de relações causais”. Embora trabalhem os três em campos diferentes, todos se interessaram pelo estudo de fenómenos causa-efeito e utilizaram uma abordagem com base em “experiências naturais”.
Card, investigador na Universidade de Berkeley, desenvolveu estudos económicos na área do emprego, nomeadamente para tentar perceber o impacto do salário mínimo, dos movimentos migratórios e da educação no mercado de trabalho. Como destaca a Academia, chegou a conclusões inovadoras como a questão do aumento do salário mínimo não levar, necessariamente, a menos empregos, o facto dos residentes de um país serem mais beneficiados pela imigração do que os próprios imigrantes e o facto dos recursos escolares serem muito mais importante para o sucesso profissional futuro dos estudantes do que antes se pensava.
Já Angrist e Indems, professores no MIT e na Universidade de Stanford, respetivamente, questionaram, por exemplo, se seria possível tirar conclusões acerca das consequências do aumento da escolaridade obrigatória por um ano, e estudaram outras situações em que, devido à impossibilidade de se obter resultados do efeito de algo num grupo de acordo com métodos científicos estritos, se recorre à observação e análise de um fenómeno natural.
Os vencedores receberam os prémios nos seus países de origem, visto que a habitual cerimónia não se realizou por conta da pandemia de COVID-19.
Escrito por: Beatriz Gouveia Santos
Editado por: João Miguel Fonseca