“Dois Perfeitos Estranhos”: meia hora de realidade face à intolerância

A Netflix bate recordes e ganha na categoria de Melhor Curta-Metragem na noite de óscares 2021 com Dois Perfeitos Estranhos. Os 30 minutos de vídeo impressionaram e chocaram os espetadores e críticos com a história de Carter James, um cartoonista afro-americano que acorda na cama de uma mulher desconhecida, sem ter noção do pesadelo incessante que o vai perseguir.

Desde o dia 9 de abril que está disponível na plataforma de streaming Netflix, a curta-metragem Dois Perfeitos Estranhos, que retrata a violência policial e o racismo nos Estados Unidos da América. A curta-metragem tem a duração de meia hora e desenvolve-se em loop, reforçando a ideia de que o racismo e abuso de poder são acontecimentos recorrentes e normais no quotidiano dos norte-americanos.  

O rapper Joey Bada$$ dá vida à personagem principal que tem como único objetivo despachar-se para conseguir chegar a casa e ir passear o cão, após desfrutar de uma noite com uma mulher. No entanto, sempre que tenta sair do apartamento, um polícia branco aborda-o enquanto fuma o seu cigarro. O preconceito e intolerância acabam por falar mais alto e o agente policial acusa o jovem de vender drogas e agir agressivamente. O polícia tenta então detê-lo, sem qualquer fundamento, e age com extrema violência, acabando mesmo por matar o cidadão. Várias são as referências a acontecimento reais que acompanham o desenrolar da história, com destaque para o assassinato de George Floyd e a inesquecível frase “I can’t breathe”. 

A sequência repete-se: acorda, tenta sair de casa e morre. Infelizmente, a única coisa que difere nas inúmeras tentativas de chegar a casa é a forma como o polícia age e assassina o cartoonista. 

A mensagem de Dois Perfeitos Estranhos é forte e realista, fazendo sobressair a ideia de que, independentemente do que um indivíduo afrodescendente faça, a sua cor parece sempre comprometer a sua vida. Acresce, ainda, a consciência coletiva da maneira como estas situações acontecem repetidamente no tempo, quer através do loop quer pela lista de nomes que surge no final da curta-metragem, referente aos cidadãos afro-americanos que morreram injustamente devido a atitudes racistas. 

A curta de Travon Free foi nomeada e vencedora na categoria de Melhor Curta Metragem nos Óscares 2021. “(…) A polícia dos EUA mata, em média, três pessoas por dia, o que perfaz cerca de mil mortes por ano. Essas pessoas tendem a ser pessoas negras. Só vos peço que não sejam indiferentes Não sejam indiferentes à nossa dor”, apela Travon Free no seu discurso na noite de entrega de prémios. 

Travon Free durante o seu discurso na noite de Óscares 2021 | Fonte: Entertainment Weekly

Escrito por: Maria Santos

Editado por: Mariana Mateus

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