Dia 25 de abril: A liberdade na educação

Hoje celebra-se o dia em que Portugal saiu de um período de ditadura que afetou o nosso crescimento e do qual ainda estamos a recuperar, mesmo que o que tenha vindo depois não tenha sempre representado uma grande ajuda a esse desenvolvimento. No entanto, tendo a corrupção presente, assim como outros crimes e cunhas à mistura, a eleição daqueles que nos representam é livre e a possibilidade de criticar é uma realidade. Está nas nossas mãos, com esta liberdade, fazer de Portugal um país cada vez melhor.

Passaram 47 anos e muito mudou. A qualidade de vida é certamente melhor hoje, com mais direitos garantidos, a liberdade de nos expressarmos, de criticar e procurar fazer o país crescer com isso. Não vivemos em medo há 30 anos, e, por vezes, alguns cidadãos esquecem-se de como isso é bom, outros apenas tomam por garantido face ao desconhecimento do que é viver num período dessa natureza. Confesso o óbvio, sendo jovem, eu não sei o que é viver numa ditadura, apenas sei através das palavras daqueles que viveram nela, curiosamente muito diferentes dependendo do seio familiar em que estavam inseridos, das posses que tinham e da sua posição geográfica. Mais uma prova de que a informação era claramente manipulada e o direito a ela não se verificava. Além disso, também me informo nos livros, na disciplina de História A que tive no secundário, que ensinou e alimentou a curiosidade para saber sempre mais com toda a pesquisa que está ao nosso alcance através de um clique. É certo que ver e ler não é o mesmo que sentir, mas podemos concordar que o conhecimento nos dá uma maior noção de que este não é um período que queiramos repetir, tendo inclusive este dia para nos lembrar sempre disto.

O conhecimento, a aprendizagem, a educação são muito importantes para que possamos antecipar erros e pensar num futuro melhor. Com corrupção ou sem corrupção, há que lutar contra ela em liberdade, porque sem a liberdade não há crítica, não há ideias diferentes, não há possibilidade de julgamento do que muitas vezes se quer ver ocultado.

Atualmente celebrados a alegria daquele dia, a emoção e a liberdade. As músicas na rádio, os cravos, os militares, uma revolução que foi feita maioritariamente em paz. Porque digo maioritariamente? Porque também houve vítimas que devem ser lembradas. Fazem parte da História. Os seus nomes são referidos na obra de Fábio Monteiro, “Esquecidos em Abril – os mortos da Revolução sem sangue”, uma investigação jornalística num livro que resgata a memória de quem morreu no período que antecede o 25 de abril e de quem morreu neste dia. Os nomes daqueles que morreram na Revolução dos Cravos são João Guilherme de Rego Arruda, 20 anos, estudante de Filosofia; Fernando Luís Barreiros dos Reis, 23 anos, soldado na 1.ª Companhia Disciplinar de Penamacor; José James Harteley Barneto, 38 anos, escriturário do Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria e Fernando Carvalho Giesteira, 17 anos, natural de Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar, empregado de mesa na boîte Cova da Onça, em Lisboa. Houve mais mortes para além destas e Fábio afirma ainda ao fumaça.pt que “Na história do 25 de Abril, distantes dos olhos da população, os mortos da Rua António Maria Cardoso fizeram desabar qualquer possibilidade de a PIDE/DGS continuar. Mesmo assim, estas vítimas foram esquecidas, tratadas como peças de dominó insignificantes.” Daí relembrá-las neste dia e relembrar que a sua morte também teve um significado na nossa liberdade.

No dia de hoje, em que o mundo mudou tanto, relembro o passado, mas não me limito a ele. Sinto que o 25 de abril pode ser relembrado não só como o dia da restauração da liberdade, mas um dia em que refletimos em como preservar essa liberdade, e é por isso que dedico a minha reflexão do dia 25 de abril à educação, porque penso que só somos verdadeiramente livres quando informados e providos de conhecimento.

A educação dá muito poder, poder este que pode ser usado de maneira a influenciar outros, mas que pode ser igualmente combatido com o poder do conhecimento. Poder para ser melhor, poder para fazer melhor, poder para construir uma sociedade melhor. Hoje apelo a uma maior aposta na educação ao nível de perceber as diferenças na nossa sociedade, porque são as crianças e jovens de hoje que podem mudar pontos de vista, que podem aprender a não concordar, mas a respeitar expostos à diferença. Apelo também a um maior investimento no ensino das artes e da cultura, que tiveram um papel decisivo no 25 de abril, porque apenas assim podemos salvar este setor que faz parte das nossas vidas, que conta histórias, que pode criticar de forma divertida, que dá sorrisos.

Apelo também a um maior investimento no ensino da História, uma disciplina que se revela como algo essencial para refletir no que acreditamos, no que somos, um repensar no que se está a fazer mal, no que se pode fazer melhor, para evitarmos um caminho de avanços e retrocessos. Temos cidadãos, muitos deles alunos, que não conhecem bem os maiores crimes da humanidade e da nossa História e que muitas vezes vão com o rebanho, mas é preciso saber para resolver. O ensino da nossa língua também é muito importante, para saber falar corretamente, argumentar, para que possamos discutir de forma interessante, eficaz e pouco ruidosa, porque o simples insulto não muda ideias, é oco, apenas deixa o outro mais na defensiva. Procuremos argumentar em liberdade, e argumentar bem.

A importância da educação toca a todos aqueles que defendem a democracia e a liberdade, que deve ter o respeito e o debate incluído nesta. E atenção, somos humanos e contra mim falo, nem sempre consigo colocar tudo isto em prática, mas o importante é ter uma atitude que nos faça crescer e aprender todos os dias.

O 25 de abril não é propriedade de ninguém, é de todos e todos devemos de ter a missão de preservar a liberdade conquistada.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados

Escrito por: Rafaela Boita

Editado por: Gabriel Reis

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