E depois da pandemia como serão as nossas cidades, a utilização do automóvel e a nossa relação com o meio ambiente? A pandemia veio alterar o mundo como o conhecemos até ao ano passado, mas não só. Veio sobretudo alterar mentalidades no que toca a vários aspetos. Por exemplo, veio-nos fazer pensar a forma como perspetivamos as metrópoles – e este é atualmente um debate aberto e aceso, que conta com contributos de todos os campos do saber (de filósofos a geógrafos, urbanistas, ecologistas e arquitetos) para que se dê início à “revolução verde”, que passará pela reabilitação de espaços urbanos e pela substituição do betão por áreas verdes como parques e jardins, privilegiando-se o indivíduo em lugar do automóvel.
Estas não são propostas meramente teóricas. Paris já anunciou oficialmente a transformação dos Campos Elísios num espaço mais verde que faça jus ao seu nome e estatuto. Para além de transformar a grande artéria da capital francesa, iniciar-se-ão trabalhos na zona envolvente à Torre Eiffel. A importância deste grande empreendimento prende-se com o facto de Paris poder vir a servir, num futuro não muito longínquo, de metrópole modelo a outras cidades europeias, com o objetivo de torná-las locais mais aprazíveis e salutares.
Para além do projeto parisiense, estas “políticas verdes” fazem ainda sentir-se em Milão, onde desde 2014 se ergue o imponente Bosco Verticale, edifício revolucionário com as varandas repletas de árvores, que anuncia a atual vontade de se mudar o paradigma arquitetónico até hoje reinante. Em Lisboa trabalha-se no mesmo sentido com obras de transformação da Praça de Espanha num prolongamento dos Jardins Gulbenkian, seguindo-se uma filosofia em que se privilegia o papel da bicicleta em lugar do automóvel, através do alargamento da rede de ciclovias.
Nova Iorque está também em fase de transição, já que há alguns anos se instalaram hortas na cobertura de três edifícios históricos, um deles em Queens e os outros dois no Brooklyn, sendo estes um exemplo da chamada agricultura urbana. Além de produzirem alimentos, as três hortas contribuem ainda para evitar as inundações recorrentes na cidade, uma vez que a terra absorve uma quantidade substancial de água da chuva, e também para evitar o aquecimento que lá se faz sentir devido à enorme quantidade de gases libertados pelo elevado número de veículos da cidade americana.
A primeira ecocidade do planeta a ser construída de raiz deverá estra pronta em 2026 e situar-se-á no México, a 100 quilómetros de Cancún. A cidade contará com 557 hectares de área, projetados para receber 130 mil habitantes e 7,5 milhões de plantas. Ainda no domínio das cidades de futuro contruídas de raiz, encontra-se a futura cidade saudita apelidada de The Line, na província de Tabuk, junto à fronteira com o Egito, que será a primeira metrópole sustentável do reino.
The Line consistirá numa linha reta ao longo de 170 quilómetros que se estenderá das margens do Mar Vermelho ao interior do deserto. A premissa basilar deste arrojado projeto é a inexistência de ruas e automóveis, consistindo numa estrutura de três camadas: uma camada de superfície e duas subterrâneas: a camada de superfície, na prática uma longa avenida de 170 quilómetros, será destinada a pedestres; a primeira camada subterrânea será destinada a albergar os serviços; e a segunda camada subterrânea, a mais profunda, será destinada à circulação de comboios de alta velocidade que ligarão a urbe de ponta a ponta.
Escrito por: Bernardo de Sottomayor
Editado por: Júlia Varela