A semana que agora termina foi histórica para o FC Porto após ter ultrapassado a Juventus, em Turim e, deste modo, ter assegurado a passagem aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. No entanto, a equipa orientada por Sérgio Conceição está longe de conseguir transpor a qualidade de jogo que apresenta na principal competição de clubes da Europa para as competições domésticas. Por isso, o Lá Para Dentro desta semana analisa aquela que tem sido a fórmula para o sucesso continental, mas que não se tem revelado eficaz em território português.

Inicie-se a análise pelo seu lado mais positivo. Até à presente data, um percurso impecável por parte da equipa azul e branca no que à Liga dos Campeões diz respeito. Em oito jogos disputados, os “azuis” somam apenas duas derrotas. No entanto, derrotas que em nada devem ser consideradas “escandalosas”: em Manchester, frente ao “City” de Guardiola; em Turim, frente à Juventus (que, como sabe, foi uma derrota que até “soube bem”).
Apesar deste percurso em que os “Dragões” somam cinco vitórias em oito jogos, o plano defensivo tem sido merecedor de destaque: na fase de grupos, apenas três golos sofridos (curiosamente, todos no primeiro jogo em Manchester). Em dois jogos frente à “Vecchia Signora”, o FC Porto sofreu três golos, tendo marcado outros três (passou por ter mais golos enquanto visitante). No entanto, a opinião é unânime: foi a organização defensiva da equipa de Sérgio Conceição que garantiu a passagem aos “quartos” da Champions, salientando-se as “exibições de gala” de Pepe (que, mesmo com 38 anos, continua a revelar muita solidez nas tarefas defensivas) e de Marchesín, que teve um conjunto de intervenções de grande qualidade.

Se na “liga milionária” tudo corre de feição, internamente o cenário é diferente. A equipa de Sérgio Conceição ocupa o 3º lugar no campeonato (a dez pontos do líder Sporting CP) e já foi eliminada nas outras duas competições em que esteve envolvida, tendo caído em ambas nas meias-finais. A meu ver, tal acontece devido às abordagens distintas que os jogos das diferentes competições carecem.

O FC Porto tem uma defesa muito sólida, em que consegue aliar juventude e experiência. No entanto, em jogos contra adversários que adotam uma postura mais defensiva, é necessário que a defesa também participe no processo de construção de jogo e que suba, deste modo, as suas linhas. Mas um dos maiores problemas evidenciado pelos “Dragões” é, precisamente, a organização ofensiva: ritmo baixo e falta de criatividade são os principais problemas que se apontam.
Este dado fica “camuflado” nas competições europeias dada a qualidade dos diversos adversários, que não se remetem apenas a tarefas defensivas. O FC Porto tem uma equipa excelente para o contra-ataque, atendendo à velocidade dos defesas laterais, bem como dos jogadores que atuam em pontos mais avançados do terreno de jogo. A defesa, por sua vez, também joga com as linhas mais baixas, não concedendo tantas oportunidades aos adversários de colocarem a bola nas costas.
Em suma, o principal obstáculo ao FC Porto prende-se com a sua formação tática. O sistema adotado por Sérgio Conceição não contempla uma boa organização ofensiva para jogos contra adversários teoricamente mais fracos e que, por esse fator, se remetem mais a tarefas defensivas e apostam muito no contra-ataque. Na Liga dos Campeões, acredito que a tática em nada deva ser alterada: o poder azul e branco em realizar transições ofensivas com rapidez e eficiência tem dado frutos, numa campanha europeia que, até à data, está a ser memorável.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados
Escrito por: Filipe Ribeiro
Editado por: Gabriel Reis