Decorreu durante a tarde de hoje, via Zoom, o evento que resulta da parceria entre o Núcleo de Ciências da Comunicação e o Núcleo de Ciência Política do ISCSP- Universidade de Lisboa, que aliou os conceitos de fake news e populismo fazendo uma revisão da ética no que toca à verificação de fontes jornalísticas e do fact-checking.

Política é de facto comunicação. Vivendo numa democracia, estes dois conceitos apresentam inúmeras semelhanças aliadas à ideia de comunidade. As fake news têm um poder crescente numa era que é apelidada de digital, onde os fenómenos circulam na Internet e essencialmente nas redes sociais a uma velocidade incontrolável. Como tal, traz consigo consequências que passam não só pela desinformação, ou seja, informação que induz em erro, dando uma falsa imagem da realidade. Por outro lado a contrainformação, apresenta-se como uma ação estratégica para impedir o acesso a informações verdadeiras, através da divulgação falsas indicações.
A equipa responsável pela organização e logística deste debate procurou responder a objetivos específicos que passam por esclarecer a sua audiência sobre o peso das fake news no panorama político mundial. É essencial compreender que as fake news podem ser uma ferramenta para a corrupção das democracias modernas e uma forma para contornar este flagelo, passa por invocar o papel dos politólogos e dos jornalistas no combate às fake news. Os convidados foram selecionados tendo em conta a importância de cada um no panorama político e comunicacional. Rita Dimas, aluna do terceiro ano de Ciências da Comunicação, juntou-se à equipa no papel de moderadora.

Licenciada em Comunicação Social pela Universidade Católica Portuguesa e jornalista da RTP há praticamente vinte anos, Diana Palma Duarte abriu o debate fazendo referência à exponenciação das redes sociais nos últimos anos e por conseguinte, os perigos eminentes que esse crescimento traz consigo e representa.
Por ser jornalista televisiva de um canal público, Diana Palma Duarte argumenta que, relativamente às fontes de informação, tem de haver um cuidado redobrado. Por outras palavras, é necessário pelo menos uma confirmação das fontes e só depois avançar para a publicação, enfatizando que no que toca às noticias de “última hora” há uma maior pressão para dar a notícia e consequentemente, uma maior tentação de cair em erro e em fontes de informação duvidosas.
A jornalista confessa trabalhar numa estação que se rege pelo provérbio “não se dar à morte” uma vez que, editorialmente não querem correr riscos ao avançar com noticias que não tem a certeza.
É de salientar duas referências de leitura feitas pela convidada Diana Duarte, uma de autoria nacional e outra internacional:
- A fábrica de Mentiras: Viagem ao mundo das fake news de Paulo Pena, sendo um pensamento crucial acerca do jornalismo e a sua função de mediação numa sociedade que vai ao encontro da manipulação, do ódio e da mentira.
- 1984 de George Orwell é um romance escrito em 1949 que faz referência a uma sociedade altamente vigiada no ano de 1984.

Cristina Sarmento é licenciada em Direito e em História, Mestre em Geoestratégia e Relações Internacionais, Pós-graduada em Ciência Política e em Filosofia e Doutora em Ciência Política e Relações Internacionais, na área de Teoria Política. É Professora no ISCSP-UL e leciona nas áreas de Pensamento Político Contemporâneo, Teoria Política, Ética e Deontologia.
De que forma é que a ética e deontologia atuam em casos de fake news? Qual o papel da lei nestes casos? Cristina começou por referir que a lei visa cobrir toda a atividade social e tem sempre um aspeto normativo. Nesse ponto de vista, o principio da verdade é evidente e tem de estar sempre presente sendo que no entanto, no que toca à política, esse princípio acaba por se tornar menos visível comparando a necessidade de eleger, de convencer ou até de vender.
Deste modo, faz uma ligação das várias questões debatidas, ou sejam entre o sistema político, a instrumentalização que os políticos tendem a fazer do material noticioso, a necessidade que o jornalista tem de verificar a notícia e de produzir notícias com impacto. Argumentou ainda que, ao vivermos numa sociedade cada vez mais tecnológica, temos uma maior possibilidade de aceder a canais noticiosos que não são filtrados, podendo por fim, induzir a erros em matérias importantes.

O terceiro e último orador, Gustavo Sampaio é Licenciado em Jornalismo pela Universidade de Coimbra e Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa. Já passou pelas redações d’O Independente, da revista Sábado, do Jornal Económico e é desde setembro de 2019 diretor adjunto do Jornal Polígrafo.
Gustavo Sampaio realça que a preocupação relativamente às fake news deve estar mais associado mais à Internet nas sociedades democráticas, onde vigora a liberdade de expressão e de imprensa. A partir do momento em que se criam bolsas de desinformação e falsidade, em que se interfere na circulação de informação verdadeira com indicações incorretas, acontece uma interferência grave na saúde do regime democrático. Alertou também para o perigo do voto que pode estar agregado a julgamentos e opiniões sustentados erroneamente por matérias que circulam nas redes sociais.
O crescente volume de notícias online contribui, segundo o jornalista, para a confusão entre aquele que é ou não conteúdo credível. Sublinha que esse tipo de informação que aparece cada vez mais rápido nas redes sociais cria uma vulnerabilidade nos novos jornalistas que têm o objetivo de produzir em massa e não de forma específica e criteriosa.

O debate desenrolou-se em torno do que cada um dos convidados considera crucial relativamente às fontes e às reações do público no que toca às fake news. Note-se que, com dois jornalistas ativos presentes, houve um foque no cerne da questão sendo a liberdade de informar e as questões daí envolventes. Já no que toca a Gustavo Sampaio, direcionou-se ao que considera o ponto fulcral da questão, sendo neste caso as redes socias e a desinformação daí proveniente, que acontece cada vez mais atualmente. Foram então relacionadas competências ligadas com a compreensão sistémica do fenómeno da comunicação e da atividade política numa sociedade democrática.
Foram mais de 80 pessoas, incluindo alunos e outros interessados, que se juntaram à conversa, tendo cada uma recebido um certificado de participação.
Escrito por: Rita S. Fernandes
Editado por: Miguel Brejo da Costa