Num mundo com recursos finitos e necessidades de consumo infinitas, a Economia Circular é a melhor alternativa para diminuir o impacto humano no ambiente e garantir assim o equilíbrio da espécie humana com o Planeta.
Atualmente, encontramo-nos numa fase da sociedade humana e do sistema económico global que tem tornado a relação da espécie humana com a natureza cada vez mais insustentável. O crescimento populacional e o aumento global dos padrões de vida associados com um capitalismo focado no consumo e um modelo de Economia Linear fazem com que cresça cada vez mais o consumo de energia, a extração de recursos naturais e a produção de resíduos que contaminam o ambiente.
Neste contexto, a Economia Circular surge como uma forma de conciliar o desenvolvimento económico com a preservação ambiental, atendendo às necessidades das gerações atuais e garantindo a existência de recursos para as gerações futuras.
Mas afinal o que é a Economia Circular? Em resumo, é o oposto do atual modelo linear (extrair, produzir, desperdiçar). O conceito de retroalimentação já estava presente em várias correntes filosóficas derivado da observação do funcionamento dos ecossistemas naturais. A ideia volta a ser estudada após a Segunda Guerra Mundial nos países mais industrializados. Em 1966, o economista britânico Kenneth Boulding, num artigo intitulado The Economics of Coming Spaceship Earth, fala na “economia fechada do futuro” ou “spaceman economy”, comparando o Planeta a uma nave espacial com recursos limitados que devem ser usados de forma otimizada e reaproveitados o tanto quanto possível, enquanto os resíduos e a poluição gerada são tratados. Livros como The Performance Economy de Walter Stahel, Cradle to Cradle de William McDonough e Michael Braungart e A Handbook of Industrial Ecology de Reid Lifset e Thomas Graedel apresentaram grandes contributos para a operacionalização do tema nas décadas de 80 e 90 em países como a Alemanha e os Países Baixos.
A ideia central é diminuir o impacto antropológico sobre o ambiente. Neste sentido, a diminuição da utilização de recursos, do consumo e perda de energia, das emissões e da criação de resíduos são fundamentais.

Os princípios da Economia Circular
São três o princípios da Economia Circular: a preservação do capital natural, o fechar dos ciclos e a perspetiva sistémica. O primeiro contempla a diminuição da extração de recursos naturais e da pressão exercida pelo homem sobre os ecossistemas para assim permitir que os mesmos se recuperem dos impactos já causados. O segundo considera a necessidade da reorganização do sistema económico, passando a uma lógica cíclica onde os produtos têm o seu uso e ciclos de vida alargados através da reutilização, da reparação, da renovação e, por fim, da reciclagem dos materiais, mantendo os recursos dentro de uma economia tendencialmente fechada que se retroalimenta. Esse sistema económico baseia-se em dois ciclos diferentes, porém complementares. No Ciclo Orgânico, observado à esquerda, os materiais decompõem-se através de processos naturais. Já no Ciclo Técnico, observado à direita, os materiais são reaproveitados através de processos industriais.

O terceiro princípio, o da perspetiva sistémica atende à necessidade de se alterar toda a forma como pensamos a nossa economia atualmente, da origem até o fim de vida dos produtos, alterando toda a cadeia de produção desde:
- O design – Produtos e serviços devem ser repensados para que possam ser economicamente viáveis e ecologicamente eficientes.
- A produção – Adoção de processos mais eficientes que possibilitem uma produção mais limpa.
- A distribuição – Cadeias de distribuição mais otimizadas e eficientes com a escolha de formas de transporte mais sustentáveis que diminuam as emissões.
- A utilização – Maximização da vida útil do produto e otimização da sua reparação e reutilização.
- O “fim” de vida – Dinamização de redes de retoma, reuso, remanufatura ou reciclagem. Foco no upcycling – processo de reconversão de resíduos em novos materiais ou produtos de maior valor acrescentado – ou no downcycling – processo de reconversão de resíduos em novos materiais ou produtos de menor qualidade e/ou funcionalidade reduzida.
As vantagens da Economia Circular
A Economia Circular permite que a sociedade humana possa recuperar o status de equilíbrio com o ambiente há muito perdido. Existem várias vantagens não só para o ambiente como para empresas e para a população geral. Quanto às empresas, este tipo de economia possibilita o aumento da competitividade e inovação, uma maior segurança quanto à escassez de materiais e a variação de preços, uma otimização da gestão de resíduos e uma poupança energética. Para a população geral, os produtos tornam-se melhores e mais duráveis, existem novas oportunidades de trabalho e promove um acesso a um ambiente mais saudável e estável. Para o Ambiente, uma clara diminuição do impacto humano, a possibilidade da regeneração e recuperação ambiental.
A atuação da União Europeia
Com uma tradição de pioneirismo em questões ambientais, a União Europeia lançou o Plano de Ação para a Economia Circular em 2015. A Comissão Europeia apresentou um projeto ambicioso com medidas que iam desde a produção até a gestão dos resíduos.
Em 2020, no âmbito do Pacto Ecológico Europeu, a Comissão Europeia apresentou um novo Plano de Ação para a Economia Circular que engloba temas como a conceção dos produtos, a diminuição de resíduos gerados e a capacitação dos consumidores. Neste novo plano foi dada especial atenção a setores com utilização intensiva de recursos, como o da eletrónica e das Tecnologias de Informação e Comunicação, os plásticos, os têxteis e a construção.
De acordo com a Comissão Europeia, a Economia Circular na Europa pode, até 2030, gerar um aumento adicional de 0,5 % do PIB da UE e levar à criação de cerca de 700 000 novos postos de trabalho.
Escrito por: Núcleo Académico para a Proteção Ambiental (Yegho Rodrigues)
Editado por: Mariana Mateus