André Ventura: “Eu não vou ser o Presidente de todos os Portugueses”

Manuel Luís Goucha inicia hoje, dia 7 de janeiro, a ronda de entrevistas frente a frente, olhos nos olhos e sem rodeios aos candidatos Presidenciais 2021, no seu novo programa das tardes da TVI “Goucha”.

Fonte: Instagram – Goucha TVI

André Ventura, líder partidário do Chega! foi o primeiro convidado a marcar presença no programa do “Goucha” onde se pretende fazer uma fusão entre o entretenimento e a informação.

O fascismo é muitas vezes associado a André Ventura e, portanto, Manuel Luís começou exatamente por essa questão “O Senhor é ou não é Fascista?”. Em resposta, André Ventura, afirmou que não é fascista, e acrescentou que “é curioso chamarem-me fascista e saudosista quando eu nem sequer era nascido” e que o Chega! é um partido “democrático antissistema”.

Não poupou as críticas à “Direita Travesti”, apelidada pelo próprio, afirmando que é o único que diz o que os Portugueses sentem.

O principal alvo do partido e do seu líder são as minorias envoltas em várias polémicas graças às suas intervenções sobre as mesmas. “Eu não vou ser o Presidente de todos os Portugueses” foi talvez a frase mais marcante desta entrevista que pode eventualmente demonstrar algumas das posições do candidato. As comunidades cigana, LGBTQI+ e os emigrantes foram as destacadas nesta conversa.

André Ventura desmente a cigano-fobia de que é acusado com regularidade, dizendo que é contra o grande nível de subsídio dependência desta fatia da população e salvaguarda-se no exemplo de um militante do partido que diz votar em André Ventura por concordar que muitos dos seus pares acomodam-se aos subsídios e não trabalham. As soluções apontadas são escassas e a única efetivamente proferida pelo candidato presidencial era de reconhecer que a comunidade cigana é um problema.

Relativamente à emigração, André Ventura diz que quer acabar com o mito de que o Chega! não tem emigrantes inscritos no partido afirmando que uma grande parte da sua militância é afrodescendente.

Quanto à comunidade LGBTQI+, Manuel Luís Goucha pergunta de forma direta se a sua orientação sexual e o facto de viver com um homem há vários anos incomodam André Ventura. Responde dizendo que é completamente indiferente pois tem vários amigos homossexuais, algumas das pessoas mais inteligentes que conhece são homossexuais e diz ter um enorme respeito pela orientação sexual dos outros. Defende um enquadramento diferenciado para o casamento homossexual não em matéria fiscal e de heranças por exemplo, mas enquanto instituição.

Fonte: Twitter – André Ventura

Quando confrontado com o tweet (supracitado) direcionado a José Castelo Branco o professor de Direito responde – “Não se safaria com aquele estilo piroso, pindérico e pouco coerente que ele tem” – e acrescenta uma promessa, “Mas se eu ganhar o país vai acordar de tal maneira do ponto de vista civilizacional que aquele estilo já não vai ter lugar em Portugal”. Depreende-se, portanto, que com André Ventura no comando deste país não terá lugar a diferença e a liberdade dos cidadãos.

“Vamos lutar contra este regime até ao fim até vencer ou perder”, diz que não vivemos numa democracia e promete “uma democracia em que os que trabalham não sejam penalizados como o que acontece no nosso país e uma democracia em que a justiça funcione”.

O fim da entrevista é marcado por uma abordagem mais pessoal à vida do candidato onde se fala dos seus amores, dos pais, do seu animal de estimação, da sua crença e do seu percurso.

“Precisamos de gente com firmeza e fora da caixa”, ao invés de “políticos mornos” no que toca à governação. Admite, ainda que Deus lhe deu a missão de “transformar Portugal”. 

Ao longo da conversa com André Ventura, apesar de tentar manter ao máximo sua imparcialidade, o descontentamento de Goucha foi evidente e o apresentador chegou a tecer algumas críticas à conduta do deputado. “O seu estilo é de política trauliteira e brigona. O senhor cavalga sobre o descontentamento das pessoas. Você diz as verdades que as pessoas querem ouvir. O senhor sabe perfeitamente que ganhou um palco e que está a jogar para as legislativas”, disse.

O populismo e as verdades absolutas, que não passam de generalizações completas para provocar a exaltação de quem as ouve, são as marcas evidentes do discurso de André Ventura que pouco se esforça para expor o seu programa eleitoral e as suas propostas, fala apenas em hipotéticas mudanças no sistema.

Cita a bíblia e diz-se profundamente católico, aliás chega a mencionar o chamamento católico, que não parece nada mais do que um álibi e uma acreditação para quem o segue. Na entrevista citou uma passagem bíblica “Porque não és nem quente nem frio, mas morno vomitar-te-ei da minha boca” que demonstrou uma vez mais que para André Ventura ou se é verde ou vermelho não existe laranja. Daí surgirá a sua confusão com o posicionamento do seu partido.

Não se utilizam eufemismos nas críticas e opiniões controversas e maliciosas, mas sim relativamente ao que o partido representa.

Se olharmos para o passado nenhum partido surgiu fascista, mas o poder deu-lhe oportunidade para tal afirmação. Na sua maioria chegaram lá de forma camuflada e a convite da direita governante.

Em jeito de nota final gostava apenas de apelar ao voto consciente, pois é o melhor exemplo que podemos demonstrar enquanto cidadãos de um sistema democrático. E também um apelo à tolerância e à paz, não é o momento de nos dividirmos e de exaltarmos as nossas diferenças, mas sim de cooperar e trabalhar na mudança em conjunto.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do Desacordo ou dos seus afiliados.

Escrito por: André Nogueira

Editado por: Inês Conde

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