Esta peça é da autoria da aclamada dramaturga britânica Caryl Churchill e está atualmente em cena no Teatro Aberto, em Lisboa, contando com encenação de João Lourenço e a participação de quatro atrizes nacionais de referência: Lídia Franco, Márcia Breia, Catarina Avelar e Maria Emília Correia, caras bem conhecidas do público, tanto pela sua longa carreira em Teatro, como em televisão.
A peça apresenta-nos quatro mulheres amigas de longa data que se sentam num jardim a tomar chá e laranjada enquanto conversam sobre temas variados: desde as suas antigas profissões à retrospetiva das suas vidas, medos, as mudanças ocorridas no seu bairro e até uma reflexão sobre aquilo que se vai passando na atualidade.
Cheio de momentos bem humorados e que põe a plateia a rir até às lágrimas de tão absurdas que algumas das situações e diálogos são, esta peça apresenta-se contudo bem mais complexa e cheia de significados escondidos do que aquilo que possa parecer à primeira vista. Na verdade, as quatro mulheres são uma metáfora dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, representados na Bíblia, que vêm anunciar terríveis eventos futuros relacionados com o hipotético fim da civilização humana na Terra em consequência de todos os atos negativos para o ambiente cometidos até hoje, desde o início da era industrial.
Sendo que esta peça tem um caráter algo profético, na medida em que se anunciam eventos futuros, das quatro mulheres o arauto é Regina, (Márcia Breia), que é, de todas, a figura mais misteriosa do primeiro ao último minuto. Ao contrário das outras três amigas, Regina parece não ter história de vida, porque a esse respeito nada partilha ao longo de todo o diálogo, ao passo que as restantes personagens contam quais são as suas fobias e falam abertamente da sua vida pessoal.
Não obstante, quem se levanta repentinamente interrompendo o pacato diálogo várias vezes é a própria Regina, que se aproxima da plateia, deixando as outras três na escuridão, e transmite num tom simultaneamente impactante e ameaçador as profecias, descrevendo o o fim da era dos humanos na Terra, enquanto por trás dela é projetada uma série de imagens apocalípticas com música a condizer.
Os 75 minutos da peça são, sobretudo um momento de reflexão, que põe o espetador a questionar-se sobre o seu papel enquanto parte integrante deste nosso planeta , que tem tanto de belo como de frágil e deve ser preservado sob pena de sermos nós os principais prejudicados com a sua progressiva destruição.
Estreou a 7 de novembro de 2020 e permanecerá em cena até ao dia 29 de janeiro de 2021, às quartas, quintas e sextas feiras às 19h00.
Escrito por: Bernardo Maria de Sottomayor
Editado por: Gabriel Reis