Esta segunda feira (30), João Ferreira, representante do Partido Comunista Português, foi entrevistado por Miguel Sousa Tavares, onde o Congresso do PCP, as eleições dos EUA, a pandemia e a União Europeia foram o alvo de discussão e confronto – “Um horizonte de esperança”.

Pela primeira vez nesta sessão de entrevistas aos candidatos à Presidência da República, tivemos uma prestação sem o auxílio de notas e papéis. João Ferreira, o candidato apoiado pelo PCP, defendeu aquilo em que acredita – “Fixemos no presente e no futuro de Portugal os valores de Abril e o seu horizonte de fraternidade, liberdade, igualdade e esperança!“.
Eurodeputado desde 2009 e vereador da Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira foi o primeiro dos entrevistados de Miguel Sousa Tavares a mostrar o correto exercício da retórica e oratória. Com o objetivo de inverter a tendência de maus resultados do PCP nas presidenciais (os 3,95% de Edgar Silva em 2016), Ferreira apela ao voto dia 24 de janeiro na esperança de combater esse costume.
Sousa Tavares iniciou a discussão interpelando o candidato a Belém da realização do Congresso do PCP – entre os dias 27 e 29 – e a repercussão que teve dado o infausto período que Portugal enfrenta, devido a pandemia. João Ferreira – que durante o evento foi promovido à Comissão Política do Comité Central (podendo vir a ser o sucessor de Jerónimo de Sousa) – revela que “era imprescindível fazer aquele congresso” para que a luta pelos direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, que sofrem devido à “praga da laboração contínua”, seja um sucesso. Assegurou também que todas as medidas de proteção foram cumpridas – “muitos (trabalhadores) não tem as condições essenciais para garantir a sua proteção”.
Acerca da candidatura de João Ferreira ao cargo de Presidente, MST apelida-o “o Homem dos Sete Ofícios do Partido Comunista”, devido às suas inúmeras candidaturas a vários órgãos de soberania – nomeadamente o Parlamento Europeu. Ao qual João Ferreira responde realçando a importância do PR se orientar pelo “defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição”, não por um simples “formalismo”, mas como um poder decisivo de orientar a Nação. Acusa, ainda, o Governo e o PR atual do mau cumprimento da Constituição Portuguesa, no que toca à desregulação de horários de trabalho, do SMN “empurrar” funcionários para o desemprego – “despedidos mal começou a pandemia sem qualquer compensação”.
Miguel Sousa Tavares questionou o candidato, colocando-o imediatamente na posição de Chefe de Estado, se aprovava a tomada de posse dum Governo de Direita, principalmente com o partido Chega! no poder (“vai usar sistematicamente o veto?”). Contudo, Ferreira mostra-se favorável ao cenário apresentado, caso este Governo assegurasse “a necessária valorização do trabalho, dos trabalhadores, que a Constituição aponta“.
No que toca à situação pandémica e à renovação do Estado de Emergência, o candidato comunista revela que o primeiro EE foi inútil, dado que as medidas pedagógicas que o Governo impôs foram adotadas pelos Portugueses voluntariamente, justificando, assim, a abstenção do PCP na sua declaração. Acusa ainda o Governo do apoio insuficiente que este concedeu aos trabalhadores, dando uma especial atenção aos jovens, e do reforço módico e atrasado de especialistas para o SNS – “não é por causa do Estado de Emergência que nós podemos concluir que houve diminuição dos números (de infetados)”.
Abordou-se, ainda, as problemáticas da política externa e das relações internacionais que Portugal, segundo o candidato, deve estabelecer. João Ferreira apresentou o seu ponto de vista relativamente às recentes eleições nos EUA, nomeadamente à eleição de Joe Biden: “não creio que Biden seja igual a Trump“, contudo, de pé atrás quanto à posição norte-americana enquanto “polícias do mundo”, o que “alimenta algumas inquietações”.
A entrevista a João Ferreira termina com a exposição da sua opinião relativamente à União Europeia, enquanto eurodeputado há quase 12 anos. Planifica que a perda de soberania de Portugal, em relação à UE, é um facto, o que tem vindo a ser prejudicial. Um exemplo de “submissão europeia” é a imposição de restrições ao mercado de importações europeu que se afasta da máxima da luta pelo interesse comum. Aponta o desfavorecimento do mercado interno português a favor do interesse da União, como por exemplo com a TAP – “plano da TAP é de abdicação” – e critica a “deriva antidemocrática” da Hungria e da Polónia.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do Desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: João Miguel Fonseca
Editado por: Júlia Varela