
“Miss” é o filme que promete quebrar tabus neste ano tão atípico e marca o regresso do realizador Rúben Alves às longas-metragens depois da comédia de sucesso “A Gaiola Dourada” (2013).

O filme estreou-se na 21ª edição da Festa do Cinema Francês e está já em exibição um pouco por todo o país. Trata-se de uma comédia dramática protagonizada por Alexandre Wetter, modelo andrógino, que assume aqui o papel de um rapaz cujo sonho de vida era concorrer ao concurso Miss França. Um filme que retrata o choque cultural, desafia os padrões estabelecidos na sociedade atual e promove uma reflexão e evolução de mentalidades. Todavia, está longe de ser um simples filme dramático, aqui ri-se e chora-se, “como na vida” diz Rúben Alves.
Wetter é um consagrado manequim francês, que utiliza a sua beleza para quebrar algumas barreiras de género num mundo tão competitivo e dividido como o da moda. Este é o seu primeiro grande papel como ator.
O realizador em entrevista à NIT diz ainda: “O Alexandre é uma personagem que me fascinou. Como ele tem coragem de assumir tudo, com um sorriso, tem uma parte feminina e faz disso a sua arte. Desde pequenino que faz performances, está no mundo da moda, onde o descobri, a desfilar em alta costura como mulher. Fiquei super intrigado. E quando o encontrei ele tinha o cabelo comprido, a parte andrógina ainda era mais desenvolvida. E tinha um ar de rapaz e depois tinha um toque feminino. Achei essa ambivalência muito interessante, muito da nossa época. Ele não quer ser mulher, mas trabalha com o seu feminino. É a fluidez de género, o não querer entrar numa caixa em que a sociedade nos diz a todos como temos que ser.”

Este filme retrata o velho ditado “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Rúben confessa que não estava à espera desta boa recetividade por parte do público e em particular pelos homens. “Achava que se calhar ia mexer com a virilidade de alguns mas afinal eram eles que pegavam no microfone nos debates no final do filme. “Não sabia o que vinha ver, a minha mulher disse-me que vínhamos ver um filme de um homem que quer ser Miss, e estou aqui rendido. E o Alexandre é muito bonito”, diziam, com a mulher ao lado, e punham toda a gente a rir. É uma história universal mas fui surpreendido como o homem com este lado mais macho recebe o filme com muito carinho.”.
A Sinopse e o Trailer servem de aperitivo para este filme que desde já parece um sucesso.
“Alex é um menino delicado de 9 anos que não sabe ainda bem se se sente menino ou menina, tem um sonho: ser um dia eleito Miss França. Quinze anos depois, Alex perdeu os pais e a autoconfiança e sente-se estagnado numa vida monótona. Um encontro imprevisto vem despertar esse sonho esquecido. Alex então decide concorrer ao título de Miss França, escondendo a sua identidade masculina. Beleza, excelência, camaradagem… Ao longo das etapas de um concurso implacável, ajudado pela sua pitoresca família que muito o apoia, Alex parte à conquista do título, da sua feminilidade e, acima de tudo, de si mesmo.”
Aconselho ainda a leitura do site da CIG aqui (Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género) para saber mais sobre todas as questões da identidade de género, legislação, fóruns e campanhas de sensibilização.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do Desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: André Nogueira
Editado por: Inês Conde