No mercado de transferências mais conturbado da história, o Sport Lisboa e Benfica assumiu papel de destaque. Depois de perder o campeonato e a Taça de Portugal para um dos seus eternos rivais, o F.C. Porto, era necessária uma mudança que, na ótica da direção encarnada, passava por um “ataque” à Europa.
O primeiro passo desta mudança passou pelo regresso de Jorge Jesus: depois de vencer o Brasileirão e a Libertadores ao serviço do Flamengo e de ter encantado os adeptos brasileiros, o técnico português, – conhecido por recuperar equipas em maus momentos – regressava a Portugal, e especificamente a uma casa que bem conhece.

Encontrado o sucessor de Bruno Lage, era altura de reforçar o plantel. E as duas primeiras contratações foram bem sonantes: Jan Vertonghen, defesa-central de 33 anos que estava ao serviço do Tottenham, que é ainda titular na seleção belga, ingressava no clube da Luz com o objetivo de colmatar as deficiências defensivas evidenciadas ao longo da segunda metade da época transata; Luca Waldschmidt, avançado de 24 anos contratado ao Freiburg, da Bundesliga, é um dos pontas de lança mais entusiasmantes do futebol alemão sendo, inclusive, chamado regularmente à seleção do seu país.


Apesar destas duas contratações, Jorge Jesus ainda não estava satisfeito e pedia mais reforços a Luís Filipe Vieira. E é aqui que surge a “novela” que marcou a última edição do mercado de transferências. Foram meses a especular o possível ingresso do ponta-de-lança uruguaio Edinson Cavani – em fim de contrato com o PSG -, nos “encarnados”. O negócio acabou por não se realizar, e o avançado acabou por, posteriormente, assinar pelo Manchester United. As atenções viravam-se agora para Darwin Núñez: avançado de 21 anos que atuava no Almería, de Espanha, e que, na época transata, havia sido o terceiro melhor marcador da La Liga 2. E, como se costuma dizer, “há males que vêm por bem”… mas já lá vamos!

A par de Darwin, foi contratado também Everton “cebolinha”: o extremo esquerdo que atuava no Grêmio era muito cobiçado internacionalmente e o Benfica conseguiu, definitivamente, contratar um jogador de grande qualidade e com uma excelente margem de progressão.

Depois de uma pré-época razoável, o primeiro jogo oficial era para a terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões. Pela frente, o PAOK, equipa grega que, à data, era orientado pelo português Abel Ferreira. Jorge Jesus dizia que tinha uma equipa para “arrasar”. Dado o contexto atual, o jogo seria disputado apenas a uma mão e ditou a sorte – ou azar dos lisboetas – que o encontro tivesse lugar em solo grego. E, como é sabido, o jogo acabaria por correr da pior maneira. Apesar das águias terem tido uma boa primeira parte, não conseguiram encontrar o caminho da baliza. Na segunda metade, a equipa foi mostrou-se completamente apática, e o PAOK aproveitou. Venceram por 2-1, acabando assim, de forma muito embrionária, com uma das maiores ambições da equipa lusa para a época 2020-2021.

Depois deste “desastre” europeu, Rúben Dias saiu para o Manchester City, num negócio que envolveu o regresso do defesa-central argentino Nicólas Otamendi ao futebol português – entre 2010 e 2014, o jogador representou o F.C. Porto. Um negócio muito contestado pela massa adepta das “águias”, que criticaram o facto de o atleta já ter representado um rival direto, a idade, e os valores que envolveram o negócio.

Como já anteriormente referido, Jorge Jesus é conhecido por ser um “recuperador” de equipas. Se o percurso europeu começou da pior maneira, internamente verificou-se o oposto: 5 vitórias nos 5 primeiros jogos. Uma equipa que já se revelava mais coesa, dinâmica, e em que os reforços começavam a ganhar algum protagonismo: Waldschmidt a marcar golos, Darwin a assistir e Everton revelava bons princípios de criatividade ofensiva. Mas tudo mudou no jogo do Estádio do Bessa.

Na deslocação ao reduto do Boavista, a equipa de Jorge Jesus sofreu uma pesada derrota (3-0) e, desde então, nunca mais conseguiu recuperar a sua melhor forma. O conjunto encarnado registou apenas uma vitória, por 0-1, frente ao Paredes, a contar para a Taça de Portugal. De resto, conta com a derrota caseira frente ao S.C. Braga (2-3) e dois empates frente aos escoceses do Glasgow Rangers (3-3, na Luz e 2-2, no Ibrox Stadium). Importa salientar que, nos últimos 5 jogos, o Benfica sofreu 11 golos. Demasiado para uma equipa que investiu tanto. As exibições são apáticas, a coesão é praticamente nula e até a posição de guarda-redes já começa a ser alvo de experiências por parte do técnico: Helton Leite foi titular na baliza no empate em Glasgow – que, entenda-se, não deve ser considerado um resultado negativo dada a qualidade evidenciada pela equipa de Steven Gerrard ao longo da época.

Em suma, uma equipa que investiu milhões com o intuito de dominar o panorama interno e de “brilhar” na Europa encontra-se em 3º no campeonato e a 4 pontos do líder, Sporting. A disputar a liderança do grupo D da Liga Europa com o Glasgow Rangers ,podendo assegurar a qualificação para a próxima fase, na próxima jornada se, pelo menos, empatar com o Lech Póznan. Os adeptos, por sua vez, estão impacientes e pedem urgentemente resultados, perguntando-se constantemente onde anda aquela equipa que ia “arrasar” nas mais diversas frentes. Veremos qual será a solução encontrada por Jorge Jesus para dar a volta a uma situação que se revela cada vez mais delicada.

Para terminar a rubrica desta semana, é imperativo homenagear um dos grandes nomes do futebol, que nos deixou durante esta semana. Diego Armando Maradona faleceu na passada 4ª feira, aos 60 anos de idade. O futebol ficou mais pobre, mas é certo que mais um “D10S” do futebol acaba de se juntar a uma bela jogatana que já conta com grandes nomes no Olímpo. Descansa em paz, “El Pibe”!

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Filipe Ribeiro
Editado por: Gabriel Reis
Um pensamento sobre “Lá Para Dentro: Benfica – Quando os milhões não são suficientes para arrasar”