No passado dia 16 de novembro, André Ventura foi o convidado de Miguel Sousa Tavares numa entrevista em que se reviram todos os aspetos que cingem o líder do Chega! – as presidenciais, o racismo, a comunidade cigana, a justiça portuguesa, os direitos humanos, a homossexualidade e o oportunismo político.

André Ventura marcou o início de uma sessão de entrevistas aos candidatos às eleições presidenciais – que realizar-se-ão em janeiro de 2021 – com a expressão dos Portugueses descontentes e a “voz contra o sistema”, que tanto contesta e descompõe na rede social Twitter.
A entrevista, cujo objetivo era ficar-se a conhecer mais acerca do candidato à Presidência, nomeadamente alguns dos ideais que defende, tombou para um debate com Miguel Sousa Tavares – cheio de ataques individuais, discussões acerca de temáticas inadequadas ao momento, onde não faltou a exposição de argumentos completamente falaciosos.
Sendo representante de um partido com diminuta representação parlamentar, o programa e a atividade política do Chega! e de Ventura são executados em função de uma conjuntura (no sentido de uma vinculação variável), no sentido do descontentamento da população, ao qual Sousa Tavares expõe como o “território de caça” do deputado – por exemplo, com a presença do deputado na manifestação “apolítica” de domingo (dia 15) da restauração e hotelaria.
Os aspetos morais mais controversos que perseguem Ventura e o partido também foram material de questão por parte de Sousa Tavares. A memorável polémica de que a comunidade cigana tem um problema fez com que André Ventura assumisse que não ia gostar de ter uma filha que casasse com um cigano. Com sucessivas generalizações falaciosas, defende o grande problema que é a comunidade cigana, justificando que “há um pendor de considerações que não acho que se pode abarcar a todos, mas que tendencialmente se aplicam a quase todos”, como o desrespeito pelos direitos das mulheres, obrigadas a casar e a sair cedo da escola. Expõe a cultura cigana como errada, mas mostra que um dos maiores impasses é a atribuição (e não a distribuição) dos Rendimentos Sociais de Inserção a esta comunidade, pois promove uma cultura de dependentes e não trabalhadores – “há famílias que não pagam rendas há 18 anos e têm um Mercedes“.
Ainda no campo dos dilemas morais, acompanhado até por uma notícia recente, Sousa Tavares questionou o deputado acerca dos homossexuais, aos quais Ventura se mostra favorável (contradizendo o programa político do partido), afirmando que devem ser equiparados em termos de Direito, e devem ter, “tendencialmente”, os mesmos direitos (patrimoniais, fiscais) que heterossexuais. Em relação aos casamentos, alega que não deve ser um “casamento juridicamente enraizado“, devendo optar por uma união civil.
O polémico momento da noite ocorreu com a discussão do tópico do racismo, que marcou estes últimos meses a atividade política do Chega!. Apesar de explicar como a Esquerda grita que ele e o partido são racistas, André Ventura continua a resistir às acusações, exigindo direitos e deveres iguais para ambos e defendendo “os portugueses comuns que pagam impostos e que trabalham”. Respondendo à questão de Miguel Sousa Tavares, Ventura revela que tem vários amigos “pretos”, com os quais estudou e outros com quem trabalha no partido. No entanto, o que se vê no Parlamento é uma política que não favorece ou apoia o movimento anti-racista.
Para introduzir a aliança entre PSD e Chega! nas eleições nos Açores, Sousa Tavares falou numa “lavagem democrática“, um amolecimento do programa político do partido, de forma a poder trabalhar em conjunto com os sociais democratas. Na causa está uma cláusula, no dito acordo entre partidos, em que direitos, liberdades e garantias universais são assegurados, influenciado pela defesa da prisão perpétua e da castração química dos pedófilos – “mesmo à Direita, todos acham, o CDS inclusive, que isto viola a dignidade da pessoa humana, eu não acho” defende André Ventura, complementando com informações de uma conversa com o Rui Rio, que o entendeu como apoiantes destas políticas e das políticas para combater a corrupção e a subsidiodependência.
O deputado da AR comentou, ainda, acerca do Orçamento de Estado de 2021, incentivando uma revisão do IRS de forma a fixar uma taxa única de 15%, e, com as perdas de capital com que o Estado sofreria, compensá-las com: cortes nos salários dos deputados – de forma a mostrar ao povo “que sofremos com eles”; a abolição do IMI, que considera um imposto “estúpido”; e mais cortes nas fundações e nos rendimentos sociais, “para quem não quer fazer absolutamente nada”. Além disso, criticou o sistema judicial atual, deixando uma mensagem encorajadora ao voto popular, de que, com assento no Governo, iria conservar um legado político com a revisão de todo a Justiça portuguesa – “acho que temos más leis”.
Em último lugar, André Ventura expôs a sua opinião em relação aos seus adversários na corrida para a Presidência da República – como os piores candidatos que o sistema tinha para oferecer -, em especial Ana Gomes, a “candidata cigana“, que irá representar as minorias que não trabalham, mas que querem viver às contas dos contribuintes, e Marisa Matias, a “candidata marijuana” – a representante do partido que quer induzir as drogas aos jovens. E, de acordo com palavras do líder do Chega!, um partido que este assume orgulhosamente como nacionalista e conservador, “agora é altura de campanhas a sério!“.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: João Miguel Fonseca
Editado por: Júlia Varela