The Desacordo Sessions – Ariana Grande em “Positions”: O abandono do universo Pop e a busca da felicidade através do amor, sexo e aceitação pessoal

“Thank u, next” para todos aqueles que esperavam mais um álbum pop de Ariana Grande. O sexto álbum de estúdio da artista norte-americana traz uma sonoridade r&b e conta com participações de Doja Cat, The Weeknd e Ty Dolla Sign.

Depois de uma temporada ausente do olhar mediático, Ariana Grande, surpreendeu os fãs com uma mensagem no Twitter onde anunciava estar de volta. “Mal posso esperar para vos dar o meu novo álbum este mês”, escreveu a estrela pop no passado dia 14 de outubro no Twitter.

Nos últimos três anos, Grande usou a voz para dar palco aos seus traumas e dramas pessoais na sequência de um atentado terrorista, um casamento falhado e a morte de um ex-namorado. Em Sweetener (2018) e thank u, next (2019), a cantora mostra um lado mais humano, frágil e vulnerável, não escondendo os seus medos e fraquezas.

Dois anos mais tarde, Ariana Grande parece estar, por fim, curada e emocionalmente estável com a chegada de um novo amor. O novo álbum da artista acompanha a transição de um período mais difícil e obscuro para a busca da felicidade através do amor, sexo, aceitação pessoal e realização profissional.

Após uns meses afastada da indústria – desde do final da sua digressão mundial The Sweetener World Tour em 2019 – Grande está de volta após um ano marcado por duas grandes colaborações bem conhecidas junto do grande público. Falo de Rain on Me, música em colaboração com Lady Gaga para o seu sexto álbum de estúdio intitulado Chromatica, e Stuck with You – faixa em parceria com Justin Bieber. Ambos os hits chegaram ao topo da concorrida e famosa tabela americana que avalia as faixas mais bem sucedidas da indústria musical, a Billboard Hot 100.

Positions (2020), marca uma reviravolta na carreira da estrela pop. O turbocharger pop parece ter ficado para trás, e o soul, r&b e o pop erudito ganham espaço num álbum que revela um crescimento na esfera pessoal e profissional. Numa descoberta por novas sonoridades, a cantora e atriz surge com um estilo ópera pop, fazendo-se ouvir novos instrumentos como o violino e violoncelo, não deixando de parte os seus tão bem conhecidos vocais agudos.

Lançado oficialmente uma semana antes do álbum, a faixa-título positions assegura o primeiro single oficial do disco, com direito a um videoclipe dirigido por Dave Mayers – responsável também por vídeos como No Tears Letft to Cry (2018), ou God is a woman (2018). Composto por 14 faixas, Positions é o mais recente trabalho musical da artista, que ficou disponível em todas as plataformas digitais e físicas no passado dia 30 de outubro.

Ariana Grande em sessão fotográfica para promover Positions
Fonte: Vogue Portugal

01. shut up

É a faixa responsável pela abertura do álbum e serve como uma espécie de contextualização sobre o seu estado emocional. Depois de uma temporada a cantar sobre os seus problemas pessoais e angústias, Grande parece, finalmente, ter reflorescido desse período mais sombrio: “Todos aqueles demónios ajudaram-me a lidar com as coisas de forma diferente / Então não fiquem triste por mim”.

02. 34+35

Possui uma mensagem subliminar bem sexual. Faça as contas. Sem pudores e tabus, a princesa da pop canta abertamente sobre sexo numa faixa sensual e altamente explícita, tendo sempre o cuidado em não deixar a música cair num contexto mais perverso ou, até mesmo, ordinário. Divertida, mas provocadora, contagiante, mas atrevida, nesta faixa a artista fala sem quaisquer complexos sobre a intimidade sexual com a qual partilha com o seu companheiro, Dalton Gomez. “Podes ficar acordado a noite toda? A fazer sexo até o dia amanhecer”, lê-se no refrão. De acordo com a Universal Music de Itália, 34+35 deverá ser o próximo single para promover o sexto álbum de estúdio da artista.

03. motive feat. Doja Cat

Numa faixa onde os holofotes estão divididos entre dois grandes nomes da música pop, Grande e Cat questionam as verdadeiras intenções dos seus parceiros amorosos, cantam as estrelas da pop em motive: “Eu conseguia perceber alguma merda a quilómetros de distância (não digas)”. Com uma batida soul e um rap adaptado ao que Doja Cat tem vindo a desenvolver ao longo da sua carreira, as duas artistas juntam o melhor de cada uma numa música só. O resultado só poderia ser este.

04. just like magic

A quarta faixa do disco traz uma sonoridade familiar, que nos faz viajar no tempo para álbuns como thank u, next. Em jeito mais de pop, mas com uma batida r&b, Grande retrata o dia-a-dia na vida de uma super estrela, “Meio dia, tenho uma reunião com a minha equipa, depois vou meditar por volta das 13h30 e depois eu vou para o estúdio ouvir algumas coisas que escrevi”, canta a artista num dos versos. Realizada profissionalmente, a música fala também sobre como o meio onde a cantora está inserida é altamente competitivo e tóxico, onde o ego e a ambição desmedida podem ser traiçoeiros – “Juro que é complicado estar no topo e manter o ego baixo (…) Estou a perder amigos a torto e a direito”.

05. off the table feat. The Weeknd

É já a segunda colaboração de Ariana Grande e The Weeknd, depois do super hit “Love Me Harder” em 2014 para o segundo álbum de estúdio de Grande intitulado My Everything. A faixa tem como pano de fundo as dúvidas e inseguranças da artista sobre o possível começo de uma nova relação: “Nunca pensei que fosse tão difícil de substituir [de amor]”, reforça Ariana. Nesta faixa, The Weeknd interpreta o papel de namorado da cantora, em que assegura esperar o tempo que for preciso até esta se sentir preparada e curada de um amor antigo. Apesar do entusiasmo, nas redes sociais os fãs consideraram que a parceria podia ter sido melhor aproveitada, na medida que, a música ficou aquém das expectativas.

06. six thirty

Depois de uma faixa marcada pelos medos de voltar a amar, nesta música, a artista conhecida pelo seu ponytail, questiona-se sobre a efemeridade do amor e quais os seus limites. Quase como um desabafo, Grande levanta questões como “E se eu apenas precisar de um amigo?”, ou “Sou suficiente para manter o seu amor?” e “Quando eu estiver velha e limitada, ainda estarás apaixonado?”.

07. safety net feat. Ty Dolla $ign

Com uma sonoridade melancólica, a música combina o estilo r&b de Sign e os fortíssimos vocais agudos da princesa da pop. Estrategicamente posicionada no meio do álbum, a faixa mostra Grande apaixonada por uma nova pessoa mas com os mesmos receios evidenciados nas músicas anteriores. Com medo de se precipitar, a romântica receia voltar a cair num precipício e dar um passo maior que a perna – “Faz-me tropeçar, cair, sem rede de segurança” – canta a artista no refrão. As angústias provocadas pela chegada de um novo amor assumem o tema central das músicas, propositadamente, escolhidas para o meio do álbum.

08. my hair

Podia ter sido perfeitamente um super hit dos anos 90. Com uma batida suave, descontraída e relaxante, Grande faz uma analogia entre o toque e o seu famoso rabo de cabelo, grande imagem de marca da cantora. Com o seu gigante ponytail ancorado à sua imagem enquanto artista, Ariana canta sobre ter saudades que lhe toquem no cabelo, “Vem passar tuas mãos pelo meu cabelo”. Com uma produção minimalista, a cantora e atriz norte-americana tem sido bastante elogiada nas redes socais pelos seus whistles tones. Numa tradução livre para português, significa algo como um registro de apito em que consiste atingir as notas mais altas possíveis, chegando a ser, por vezes, impercetível ao ouvido humano. Esta técnica ganhou destaque no mercado da música em 1970, com a cantora Minnie Riperton, em 1991 com Mariah Carey e agora com Ariana Grande.

09. nasty

Ligeiramente mais subtil do que em 34+35, Grande despe-se de preconceitos e volta cantar abertamente sobre sexo. Depois de algumas faixas centradas nas inseguranças de voltar a amar, a estrela da pop regressa com mensagens sensuais e explícitas entre os seus versos: “Aposto que fico bem em cima de ti/ Abro a minha mente para ti”, refere Grande no final da segunda estrofe. Nasty era uma das músicas mais aguardadas pelos fãs, depois da artista ter partilhado um excerto da faixa em março deste ano na sua rede social Instagram.

10. west side

Na faixa mais curta do álbum, Grande expressa a pressão que sente com a chegada de um novo amor – “Tu sabes que eu não tenho pressa/ Deixa manter isso real”. Apaixonada, porém pressionada pelo medo de voltar a entregar-se à pessoa errada, a artista mostra-se vulnerável e tenta abstrair-se desse universo através do foque apenas nos seus sentimentos – “Há mais amor se tu seguires as tuas emoções” – canta Grande. Depois de um casamento falhado, a artista tem-se mostrado mais reservada em relação à sua vida amorosa, contudo em west side, conseguimos perceber que Grande continua a seguir o seu coração e os seus sentimentos em busca da felicidade plena.

11. love language

Com uma batida semelhante ao estilo de uma faixa do seu quarto álbum de estúdio – Sweetener – Grande mostra uma evolução trocando os tradicionais arranjos musicais pop, por uma sonoridade mais soul e r&b. Mais madura do que nunca, a artista mostra-se feliz e apaixonada, sem medos de assumir a paixão que sente dentro de si, “Vou reivindicar que tu és meu / Todo meu”, salienta Grande. Metaforicamente, a artista canta sobre a capacidade de amar e compreender a língua do seu companheiro através de outros elementos que não as palavras – podem ser sons, gestos ou outros sinais, “Ensina-me a amar-te, estou a desaprender o que não é certo / Quero que continues a falar a minha linguagem do amor”.

12. positions

Sonoramente a música mais pop e catchy do álbum, esse pode ter sido um dos motivos depreendidos pela escolha do single que representa o resto do disco – mais disperso e em busca de novos géneros musicais. Na faixa, a cantora continua a mostrar o seu lado apaixonado e desta vez, capaz de fazer coisas em prol do amor que antes não seria capaz, “Mudando as posições por ti / Isto é uma coisa que eu geralmente não faço”.

No videoclipe, Grande representa como a sociedade machista exige que as mulheres a assumam um papel multitask, sendo que essa exigência não é esperada da mesma forma para os homens.

Sendo o primeiro single oficial do álbum, a faixa-título Positions, conta já com mais de 80 milhões de streams no Spotify e estreou-se no topo da parada americana Billboard Hot 100, ocupando o primeiro lugar da tabela pela terceira vez consecutiva este ano, depois de Stuck with You e Rain on Me.

13. obvious

Na penúltima faixa do álbum, Grande volta a cantar sobre a chegada de uma nova paixão – Dalton Gomez – e como isso fez-lhe voltar a acreditar no amor. Num dos versos, a cantora fala que nem sempre foi fácil cativar a sua atenção e faz inclusive, uma referência aos seus amores passados que, ao contrário de Dalton, tiveram de a conquistar de verdade: “Outros que tive tiveram que me impressionar antes”. Com uma batida suave, Ariana Grande parece estar mais apaixonada do que nunca e essa mensagem é nítida através de canções como obvious.

14. pov

Depois de um álbum marcado pela estreia da artista no r&b, Ariana Grande encerra o seu sexto disco com um regresso às suas origens musicais, uma balada marcada pelos seus vocais arrepiantes. POV (point of view), em portugês – ponto de vista – fala sobre a exaltação do amor e o poder deste alterar as perceções das imperfeições uns nos outros, “Eu adoraria ver-me do seu ponto de vista”, conclui a artista. O amor cego, no bom sentido, e a paixão pura aniquilam todos os defeitos que Grande e Gomez veem um no outro. Numa balada onde as inseguranças e as angústias parecem ficar para trás, Grande conclui o álbum apaixonada e com uma mensagem de esperança para todos aqueles que já sofreram e desistiram de encontrar o amor.

Madura, apaixonada, cautelosa, humana e vulnerável assumem o estado de Ariana Grande. Reflorescida de um período difícil, Grande afasta-se de uma narrativa triste, melancólica e de vítima, para dar espaço ao amor e à esperança de viver.

Positions parece culminar num trabalho discográfico que apesar de, mostrar novas influências musicais, não deixa de parte os seus vocais agudos tão bem conhecidos em Yours Truly (2013), ou o seu trap pop, presente em 7 rings (2019). Otimista e feliz, Positions marca um abandono de um estilo pop puro, comercial e por vezes facilmente desprezado, dando lugar a um pop ópera, r&b e soul.

À procura de uma nova identidade musical, e sem medo de mostrar as suas fragilidades, que são na verdade uma força, Ariana Grande não deixa de surpreender mesmo ao fim do terceiro álbum num espaço de dois anos e meio, corrompendo todos os padrões standard de uma estrela do pop, que descrita como pop torna-se agora, bastante redutor e ingrato.

Classificação TDSessions – 9/10

Ouça qui, Positions na integra:

Escrito por: Tiago Malheiro

Editado por: Miguel Brejo da Costa

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