Longe vão os tempos em que assistir a uma partida de futebol ao vivo não era um privilégio. Após o fim de uma época e início de outra, mantém-se um fator comum: os estádios, pelo menos em Portugal, continuam vazios.

Mundialmente, o futebol é possivelmente o espetáculo que mais multidões consegue mover. No entanto, a pandemia obrigou a que estes dois fatores (jogo e público) tivessem de ser separados. Por isso, desde o regresso das competições desportivas, todos os jogos têm sido disputados à porta fechada. Mas está longe de ser a mesma coisa.

Quem o diz são jogadores, dirigentes e adeptos: todos à espera de luz verde por parte das autoridades de saúde para este tão desejado regresso. E apesar de estar a ser feito gradualmente, está ainda longe daquilo que é desejado por todos os intervenientes deste espetáculo.
Todavia, desengane-se quem pensa que este processo está a ser pacífico. Se o futebol, enquanto espetáculo, continua sem público, noutros setores de entretenimento acontece exatamente o oposto. Nalguns casos, as lotações excedem nitidamente aquilo que é recomendado pelas autoridades de saúde. A conclusão só pode ser uma: todas estas medidas apenas reforçam uma marginalização que está a ser feita aos adeptos de futebol (que teve o seu auge em Portugal com a implementação do Cartão do Adepto).

Mas a verdade é que já existiram, no período pós-confinamento, jogos com público em Portugal. O Governo Regional dos Açores entendeu que, no território que governa, já estavam reunidas condições para se voltarem a abrir as portas dos recintos desportivos. Assim, apesar de uma lotação bastante limitada, o público açoriano (e alguns continentais que viajaram no apoio às suas equipas) voltaram a ter um privilégio que, desde o início da pandemia, havia sido exclusivo aos principais representantes do Estado.

Entretanto, foi anunciado que os dois desafios da seleção nacional, no Estádio José Alvalade, teriam público. Alguns ensaios têm também sido feitos em jogos da Primeira e Segunda Liga, após vários pedidos por parte da Liga e dos clubes. O feedback, esse, tem sido bastante positivo. Os cuidados são muitos, mas o público começa, cada vez mais, a voltar à sua “normalidade”. Isto tudo aliado à ajuda psicológica, em que o regresso aos estádios se pode traduzir, ajudando muitos indivíduos a ultrapassar com maior facilidade este momento que se vive, um pouco por todo o mundo.

Com um aumento contínuo de casos positivos de Covid-19 em Portugal (em nada relacionados com os “testes” supramencionados), foi decretado novamente o Estado de Calamidade. Será este um pretexto para se ignorarem todos os progressos feitos até agora ou, a serem necessários alguns retrocessos, não serão exclusivos ao futebol? Esta é a questão que vai na mente de todos os adeptos que, até agora, têm sido discriminados em função de apreciarem um determinado desporto.

Em suma, os espetadores começam a regressar, gradualmente, aos estádios de futebol portugueses. Apesar dos muitos progressos que se têm registado nas últimas semanas, o regresso do Estado de Calamidade ameaça-os seriamente. Será que teremos mais público brevemente ou, em função da evolução da pandemia, tal voltará a ser uma realidade distante? A resposta a esta questão será dada nas próximas semanas. Quanto aos adeptos, estes apenas esperam que seja transversal a todos os setores do mundo do espetáculo.
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do Desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Filipe Ribeiro
Editado por: Gabriel Reis