Há 25 anos decorria um massacre em plena Europa

Há 25 anos, milhares de bósnios muçulmanos eram assassinados no massacre de Srebrenica.

Em 1995, o nosso país já beneficiava há nove anos da integração na União Europeia (então CEE) e quem tivesse menos de vinte anos já quase não se lembrava da guerra colonial. A guerra parecia já uma realidade longínqua e uma coisa do passado e os anos 90 pareciam corresponder a uma altura de desenvolvimento e crescimento económico da nossa nação.

A maior parte dos países europeus pareciam também encontrar-se em tempos de paz, mesmo que a Guerra Fria tivesse terminado há pouco tempo. Mas o mesmo não se verificava nos Balcãs.

No início dos anos 90, com o desmembramento da Jugoslávia, os conflitos étnicos entre as novas nações começavam a ganhar cada vez mais força. Entre 1991 e 2001, decorreu aquilo a que se chamou a Guerra Civil Jugoslava na qual cerca de 140 mil pessoas pereceram e outros 4 milhões ficaram desalojadas.

Um dos incidentes mais trágicos e mortíferos da Guerra Civil Jugoslava foi a guerra da Bósnia, que causou mais de cem mil mortos. Ocorreu entre 1992 e 1995 e confrontou sérvios, croatas e bósnios muçulmanos. E dentro da guerra da Bósnia, o acontecimento que mais chocou a comunidade internacional foi o massacre de Srebrenica.

O massacre iniciou-se no dia 11 de Julho de 1995 e só terminou a 22 de Julho do mesmo ano, ou seja,  há exatamente 25 anos atrás. Dizimou mais de 8000 pessoas e, apesar da maior parte das vítimas mortais serem homens (adolescentes, adultos e idosos), as mulheres não foram poupadas, sendo que muitas foram violadas. É o único massacre desde a II Guerra Mundial que recebeu classificação de “genocídio” por ambos o Tribunal Penal Internacional e o Tribunal Internacional de Justiça.

Os autores da carnificina foram militares comandados pelo general Ratko Mladić, que ainda está vivo, com 77 anos, e a aguardar a decisão de ser condenado por um tribunal da ONU, a prisão perpétua por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Apesar das desumanas ações de que está acusado, Mladić é visto como um herói por muitos sérvios. O mesmo acontece com Radovan Karadžić, influente político sérvio dos anos 90, que está acusado dos mesmos crimes. Prova disto é o facto de um campus universitário em Pale ter recebido o nome “Karadžić” em 2016.

Radko Mladić e Radovan Karadžić

Atualmente, as tensões ainda persistem nos balcãs e, em Srebrenica, bósnios e sérvios vivem lado a lado. O atual presidente da câmara, Mladen Grujicic (de etnia sérvia e que teve o pai morto na guerra jugoslava) nega a classificação de “genocídio” ao massacre ocorrido na cidade e considera que os tribunais internacionais são tendenciosos contra os sérvios. Este tipo de visão vai ao encontro da perspetiva de Milorad Dodik, membro do governo bósnio, que afirma que a chacina se trata de um “mito fabricado”.

Dos 8372 indivíduos que terão perdido a vida no massacre de Srebrenica, apenas cerca 6900 tiveram, até agora, os seus restos mortais identificados, que estão enterrados em mais de 80 valas comuns. Continuam ainda a ser encontradas, em locais distintos, partes dos corpos das vítimas, que foram desenterradas das valas comuns, devido a uma suposta operação que houve para encobrir os crimes.

Ao longo do último ano, foram identificados os restos mortais de nove vítimas, tendo havido um funeral coletivo no cemitério de Potocari.

 

Escrito por: Beatriz Gouveia Santos

Editado por: Mariana Mateus

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