Ode ao coronavírus

Este artigo é bastante diferente daqueles que costumo escrever. Não é um artigo informativo, não é um artigo noticioso, e, de certa forma, também não é um artigo de opinião – pelo menos um artigo de opinião tradicional.

Aqui, trago para o Desacordo algo que não se costuma ver publicado em jornais: um poema. Chama-se “Lobo com pele de cordeiro” e é da minha exclusiva autoria. Irei desconstruí-lo e explicar o porquê de uma das suas possíveis interpretações, ser tratar-se uma “ode ao coronavírus”. Ora leiam:

“Lobo com pele de cordeiro
Cheio, alvo, feio, azedo
Vil, cruel e carniceiro
Carniceiro mas tem medo

Carniceiro mas cobarde
Só ataca os vulneráveis
Dos fortes foge com alarde
Ou então serve-os, alienáveis

Carniceiro mas p’la calada
Porque é omega em vez de alfa
Sorrateiro no fundo da estrada
Com ele a matilha escalfa

Ó lobo com pele de cordeiro
Cheio e alvo como a lua
Por seres assim carniceiro
Eu não podia sair à rua”

Talvez a parte mais óbvia deste poema poder tratar-se de uma “ode ao coronavírus” seja o último verso. Por sua causa nem eu, nem ninguém, pode ou deve sair à rua. Aliás, é esse o impacto mais visível do vírus. Toda a gente está fechada em casa, as ruas estão praticamente desertas e os cafés e os restaurantes estão vazios.

Porém, as outras estrofes também revelam algumas características aplicáveis ao COVID-19. Ele é, sem dúvida, “carniceiro” – já provocou mais de nove mil mortes em todo o mundo – e quase que só mata aqueles que estão mais vulneráveis. Já dos “fortes”, “foge com alarde”, ou seja, uma pessoa com um sistema imunitário forte que contraia o vírus tem, em princípio, facilidade em repeli-lo. Isso provoca “alarde”, pelo menos na comunicação social – quantos de nós já não vimos a circular as boas notícias de que mais um português está curado? Para além disso, para além de fugir dos fortes, o COVID-19 serve-os também, visto que lhes reforça a já boa imunidade que têm.

A própria descrição do “lobo com pele de cordeiro” referido no poema – “cheio, alvo, feio, azedo” – relaciona-se, mais ou menos, com o aspeto do coronavírus. Vejam:

Por fim, mas não menos importante – na verdade, esta parte é até a mais relevante – falemos do próprio título: “Lobo com pele de cordeiro”. Será o COVID-19 um “lobo com pele de cordeiro”? Algumas pessoas dirão que não, que é antes um “cordeiro com pele de lobo” por se tratar de uma “simples gripe” que os media estão a retratar como uma catástrofe iminente. Outras, como eu, dirão que sim, sem dúvida. O novo coronavírus pode perfeitamente ser um “lobo com pele de cordeiro”, pois pode não apresentar sintomas. Assim, uma pessoa que se apresente assintomática pode contagiar muitas outras, sem fazer sequer ideia.

Agora que a desconstrução do poema está feita, irei, finalmente, falar da razão que me levou a escrever este artigo. Foi, nada mais nada menos, o facto do poema ter sido escrito em outubro de 2019 – 2 meses antes dos primeiros casos de COVID-19 terem sido registados na cidade de Wuhan, na China.

Originalmente, “lobo com pele de cordeiro”, foi apenas uma metáfora/perífrase que utilizei para me referir a uma determinada pessoa. Portanto, o que podemos concluir deste artigo? Que há pessoas que são tão tóxicas como alguns vírus e que devemos fazer o possível para, em ambos os casos, não nos deixarmos contagiar, caso contrário acabamos por ficar mal – física e psicologicamente.

Escrito por: Beatriz Gouveia Santos

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