
Creio, com os olhos cheios de esperança enquanto escrevo, que a democracia corre mais intensamente se alguém desejar viver tal destino, se ansiar perceber as ações que estarão diante o dia em que ocorrem os votos.
Aquela que vos escreve já esteve numa observação no passado mês, pela Eslováquia, com um time de mais um observador e uma intérprete. O meu distrito foi Banská Bystrica, uma cidade com ar montanhoso, que me presenteou com a primeira neve que pude assistir. E, se pudesse alavancar a minha influência sobre algum ponto, seria para que cada um que agora me lê pesquisasse sobre missões de observação e as entidades que as oferecem. Ter esta oportunidade, para mim, foi reavivar ao mundo com uma importância ainda mais elevada e profunda ao que considero o ato de garantir a nossa voz e nosso posicionamento numa urna; e o que isso exala exatamente de nós, como humanos. Levar o comportamento de cada cidadão em conta é tentar entender a situação futura dos partidos escolhidos e o que vem com eles: os seus projetos, discursos, ideologias e o que será implementado.
Dito isto, a minha primeira percepção, ao chegar ao país, após treinamento, com materiais disponibilizados e sessões com especialistas já na capital, foi de que estava num lugar que as minhas gerações passadas não imaginariam estar, e parecia, naqueles cenários da imaginação, que eu estava a mostrar tudo para cada um dos meus familiares. Foi o impacto da educação e da curiosidade que me permitiram caminhar e escutar o que escutei. É através das nossas perguntas que tentamos escalar aos avanços. Foi assim que a visita ao Parlamento da Eslováquia foi o ápice para que a minha mente deslumbrasse os anos: na fachada, um prédio antigo e acizentado, datando da época da URSS, e por dentro se abria em tapetes vermelhos, em espelhos pelo teto e pinturas fascinantes em pedaços de madeira.
No dia em que tinha de ir à minha área de observação, tive um conjunto de filmes centenários – aquelas janelas abafadas, o ferro já corroído, assentos estranhos e marrons, portas de correr. Ao chegar, preparei-me no dia seguinte relendo avisos e passos importantes, em que tinha de acordar cedo e garantir uma boa caminhada para que observasse todos os processos. E, nessas eleições parlamentares em que participei, tinha de estar na abertura de um local de voto, observar pelo menos dez locais durante o decorrer do dia e chegar à minha última estação antes do fecho da votação para que ficasse até ao contar dos votos. Tudo, em si, me deu a visão do acesso (se havia transparência ao votar, se alguém estava a fazer voto em conjunto, se o que estava na lei era respeitado, se os membros do local eleitoral agiam corretamente), ao que também considerava se as estações determinadas para as eleições eram acessíveis para todas pessoas, se o (a) presidente da Comissão era mulher ou homem e se era jovem (porque uma importante componente da minha missão era olhar a participação da juventude nesses processos).
A minha herança, agora, depois desse longo dia decisivo que me prendeu em questionários e conversas, em informações e mais inspiração, só me fascina a abrangência e a complexidade que é instalar um local eleitoral e garantir que cada cidadão não manipule e não seja manipulado, diante de qualquer pessoa que estiver inserida na sala do voto. Foi certo que, diante desse direito humano de votar e ser votado, representado em eleições periódicas, era preciso que a atmosfera dos locais de voto tivesse a função de trazer um procedimento calmo e de fácil acesso para cada pessoa que ali circulasse. Se tal condição foi respeitada é outra história a ser contada. No entanto, a minha própria consciência alerta que há algo maior: aquela imensidão de tentar achar similaridades nos locais, similaridades em comportamentos, e saber, mais uma vez, que tal oportunidade me transformou numa pessoa que se questiona mais e mais (do que se passa no mundo, mas também do que se passa dentro de mim).
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do Desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Thays Moreira
Editado por: Beatriz Duarte