A Missão País é um projeto universitário católico. Junta diversos alunos instigados pela vontade de servir os outros, através da oportunidade de se dedicarem ao voluntariado na comunidade que a missão da sua faculdade ou daquela onde se inscreveram tem como destino, durante uma semana. Várias faculdades por todo o país envolvem-se na Missão País e o ISCSP não poderia deixar de ser uma delas, rumo a um segundo ano na freguesia da Benedita, na semana de 8 a 16 de fevereiro.
A missão realiza-se todos os anos, tendo cada ano um objetivo específico para com a comunidade: o primeiro de acolher; o segundo de transformar; o último de enviar. Ao fim de três anos, o projeto muda para uma nova terra. Este ano foram cerca de 60 missionários para a vila da Benedita. Alguns voltaram a ingressar nesta aventura; outros, novos missionários, estrearam-se nesta descoberta da vila e deste prepósito de servir; alguns provenientes de outras universidades acolhidos pelo grupo de ISCSPianos.
Todos os anos a missão tem um lema diferente. Na missão de 2020 o tema foi “Desce depressa! Eu fico contigo”, baseado numa leitura bíblica, “Zaqueu, cobrador de impostos” (Lc 19, 1-10) – um homem de baixa estatura que cobrava impostos às pessoas e que queria ver Jesus, subindo a um sicómoro. O lema encontra-se presente no hino de 2020 da Missão, que pode ser consultado na página oficial.
A missão tem o propósito de inspirar gerações futuras a viver a fé católica. O catolicismo não é obrigatório, no entanto, é a base principal da Missão País. Dentro destes grupos de jovens há uma diversidade de indivíduos e é um local onde conhecemos pessoas que nos marcam e com as quais criamos uma amizade forte.
A acompanhar os missionários esteve novamente a Mãe Peregrina, uma imagem de Nossa Senhora com o Filho ao colo, com a forma do Santuário do Movimento de Schoenstatt. Ao missionar com a Mãe Peregrina, transportamos as Suas três grandes graças a quem visitamos: a graça do acolhimento, da transformação e do envio. Sendo Ela a grande missionária, acreditamos que faz milagres e que abre muitas portas – não só aos missionários – ajudando-os a abrir as portas do seu coração e a sentirem-se amados por Deus, como também às pessoas da Benedita.

Deixamos alguns testemunhos de alunos que estiveram presentes na missão deste ano.
Simão Pedro, 20 anos, Relações Internacionais:
“Como forma de encerramento da Missão País ISCSP 2020, foi-nos pedido a nós, missionários, que à volta de uma fogueira numa noite fria da Benedita, descrevêssemos a própria Missão numa frase. Não se revelou tarefa fácil pois, se já se torna complicado resumir uma semana comum das nossas vidas, ainda mais árduo fica resumir uma semana de intensa reflexão, oração e trabalho comunitário. No entanto, aceitando o desafio, decidi resumir a Missão País numa “exploração honesta das nossas fragilidades perante Deus e os outros, através de uma procura incessante de respostas.”
Aceitar o desafio de missionar passa, em primeiro lugar, por isso mesmo, ou seja, pela exposição das nossas fragilidades e pela honestidade daquilo que somos e no que acreditamos. Nenhum de nós se apresentou como um grande intelectual cheio de respostas, até porque aceitar ser missionário passa necessariamente por reconhecer em primeira mão a necessidade de ir ao encontro de algo maior do que nós, e de, principalmente, parar e refletir sobre quem e o que está à nossa volta. Apesar de tudo, somos jovens universitários que, à semelhança de qualquer outro homem ou mulher, mais novo ou mais velho, procuram a mesma coisa, ou seja, respostas. A Benedita foi isso mesmo, uma comunidade humilde, alegre e acolhedora que decidiu proporcionar a mais de 60 jovens missionários, pelo segundo ano consecutivo, a oportunidade de se redescobrirem e de se aproximarem de Deus.
Ser-se jovem não é fácil e, hoje, com todos os desafios e lutas diárias, torna-se cada vez mais difícil conhecermo-nos a nós próprios e definir prioridades. A Missão País apresenta-se, por isso, como a base de lançamento e de renovação que muitos de nós precisam para se reencontrarem com Jesus e se conhecerem melhor. Para o fazer, serviu-se de uma comunidade incrível a partir da qual cada um de nós sentiu a presença de Deus todos os dias. Uma comunidade que nos recebeu de braços abertos e nos relembrou o significado de virtudes tão importantes como a entreajuda, a paciência e a alegria do serviço do outro. É, de facto, fantástico, como uma vila simples e modesta assume tanto ou mais o papel de missionário que nós, jovens, que todos os dias aprendiam e reaprendiam novas formas de estar e de agradecer a Deus. Acima de tudo, trata-se de uma prova de fé, uma fé que procurámos trabalhar e fazer crescer em conjunto, conhecendo-nos mutuamente e apresentando-nos uns aos outros como aquilo que somos, despidos de máscaras.
Agradecer a oportunidade que Deus nos deu para estarmos juntos e em comunhão com a comunidade da Benedita, é algo que, entre nós, se tornou bastante claro desde muito cedo devido aos gestos mais simples e honestos. A gargalhada de um idoso, a sinceridade pura de uma criança e o desabafo de um colega nosso foram para nós, missionários, provas claras da presença de Jesus nesta caminhada diária de reflexão pessoal e de procura de respostas. Hoje, regressamos a casa de coração cheio, reconhecendo humildemente que recebemos muito mais da Benedita do que aquilo que procurámos dar. Hoje, unidos por fortes laços de amizade, continuamos à procura de respostas mas com a certeza de que não estamos sozinhos e de que as podemos explorar juntos, com toda aquela alegria, diversão e força que nos caracteriza.
Obrigado Benedita, restam-nos a saudade e as boas memórias.
E um obrigado especial a todos os missionários que, às vezes sem o saberem, foram o caminho, a força e o exemplo diário do melhor que podemos ser.”
Maria do Mar, 19 anos, Serviço Social:
“Foi o segundo ano de missão na Benedita e foi também o meu segundo ano como missionária. Este ano tive um desafio um bocadinho diferente: estar responsável pela parte espiritual durante a semana de missão. Vivemos uma semana completa com novas perguntas, desafios e amizades, e com tanto vivido temos a certeza que só oferecendo tudo a Jesus e a Nossa Senhora é que conseguimos entregarmo-nos para missionar.
A consequência de uma vida com Deus, de uma luta diária contra o que nos afasta do Seu amor é a alegria plena que cada missionário tinha e por isso, é que a oração é o centro da nossa missão! É a partir daqui que renovamos constantemente o nosso olhar, porque olhar com os olhos de Deus para cada coisa é encher o nosso coração de esperança e de certeza que há um Bem que nasce para nós. E ao percorrer este caminho, crescemos juntos em querer que esse Bem nasça também no outro, e isso é muito bonito de ver.
Foi uma missão exigente, mas com a graça de estar com Jesus não só através das pessoas da Benedita, como também, e de uma forma muito, muito especial, através dos missionários. Tive a graça de perceber que vivo num mundo muito pequeno e que muitas vezes não olho para o lado para conhecer o outro. É muito fácil andar na correria do dia a dia e não reparar em quem está ao meu lado e isso é assustador, o ser indiferente ao outro. E, por isso mesmo, ao longo da semana, em várias conversas, Jesus foi me mostrando a importância de parar e de rezar pelos outros. Conhecer a pessoa, o que ela tem dentro de si e rezar pela sua vida.
Deus precisa de cada um para fazer caminho com o outro, e esta semana de missão foi prova viva disso. Cada momento pode ser um ato de amor muito grande para alguém e é maravilhoso pensar que as “pequenas coisas com grande amor” constroem o projeto de vida autêntico e apaixonado, que dá sentido à minha vida.
Por fim, foi muito bonito experienciar o serviço e a caridade de uma forma tão próxima, apesar de sabermos que o desafio começa agora, onde somos chamados a procurar Jesus, no meio da multidão, como Zaqueu, e a quer que o “vizinho da porta ao lado” seja Santo.
Acabo com uma frase que nos diz muito ao sair desta semana de missão, porque quem é tocado por Jesus por esta experiência não pode guardar para si, dado que nós somos apenas uns instrumentos daquEle que é o Caminho, a Verdade e a Vida:
“Fala de Deus a toda a hora, se for preciso usa as palavras” – São Francisco de Assis.”
Beatriz Gaspar, 19 anos, Relações Internacionais:
“Descobri a Missão País ao longo do meu percurso de fé, quando ainda estava no secundário. Assim, quando entrei na faculdade fui logo procurar informações acerca da Missão País do ISCSP e, chegada a data das inscrições, inscrevi-me sem medo. Fui para a minha primeira missão sozinha, mas depressa descobri que é difícil estar sozinho quando se vive durante uma semana com outros 50 jovens. Vivi uma semana de transformação. Fiz grandes amizades assentes na fé e aprendi a ver Cristo em todas as coisas. O balanço da minha 1ª missão foi mais que positivo, logo, no final da Missão 2019 já ansiava a chegada da Missão 2020.
Passou-se um ano e chegou o tão esperado momento de regressar à Benedita! Que alegria foi viver esta semana e reviver todos os bons momentos ali passados! Este ano, decidi desafiar-me a mim própria e escolhi missionar para um lar. Que jornada tão bonita e que graça poder partilhá-la com a minha comunidade! Missionar num lar foi um desafio, principalmente porque tomei pela primeira vez consciência que num futuro distante (espero eu!) serei eu quem poderá estar no lugar daqueles idosos. Esta realidade chocou-me bastante, porém, deu-me forças para dar o melhor de mim àqueles que mais precisavam. Aprendi que missionar num lar não implica apenas ouvir as histórias dos mais velhos, cantar e dançar, ou dar de comer aos mais debilitados; missionar num lar é também olhar para a instituição como um todo e chegar a todos os que a compõem; é reservar algum tempo para conversar com as funcionárias, é alegrar o dia dos idosos e procurar sempre encontrar Cristo em todos os rostos que passam à minha frente.
No entanto, a Missão País não se resume apenas ao voluntariado. A Missão país é composta por missionários maravilhosos que, apesar de serem muito diferentes, partilham o desejo de alcançar a santidade e viver em plena comunhão com Cristo. O espírito de alegria é contagiante e todos nos adaptamos rapidamente ao estilo de vida comunitária e às poucas horas de sono. É difícil descrever em pormenor a semana de missão, porque tudo é vivido muito intensamente, desde o voluntariado até aos momentos de oração. Estes são um ponto fulcral da semana de missões, já que é neles que refletimos sobre o verdadeiro propósito da missão: “Inspirar gerações que vivam a fé católica em missão”.
Guardo a Missão país num lugar muito especial do meu coração, porque me permite carregar baterias e reavivar a minha fé. Missionar é entregar o meu serviço a Deus, porque, tal como dizia São Francisco de Assis, “é dando que se recebe” e Deus dá-nos sempre muito mais do que estamos à espera.”
Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do Desacordo ou dos seus afiliados.
Escrito por: Rafaela Boita
Editado por: Júlia Varela