Caso de Marega não é isolado – conheça outros tristes casos de racismo e xenofobia no futebol

Nos últimos dias, Portugal tem assistido a um fervoroso e intenso debate sobre o racismo, despoletado por um triste incidente durante um jogo de futebol entre o FC Porto e o Vitória de Guimarães. Durante o confronto, o jogador maliano Moussa Marega, do clube portista, abandonou o relvado depois de ter sido alvo de vários insultos e provocações racistas por parte dos adeptos da equipa rival. Infelizmente, o caso de Marega não é único e isolado. Um pouco por todo o mundo, vários futebolistas são e já foram vítimas de racismo ou xenofobia, tanto dentro de campo como fora dele. Recordemos cinco tristes casos semelhantes aos de Marega, que nunca devem ser esquecidos.

 

Mario Balotelli
Um dos países onde o racismo no futebol tem mais expressão é a Itália e um dos jogadores que mais sofre com isso é Mario Balotelli. O atacante (de origem ganesa) da seleção italiana, que atualmente defende as cores do Brescia, já foi alvo de comportamentos racistas mais do que uma vez. Em diversos jogos, Balotelli foi provocado pelos adeptos das equipas rivais com cânticos e insultos racistas e com sons a imitar guinchos de macacos. Sendo temperamental, quase sempre reagiu às provocações, atirando a bola para as bancadas ou confrontando os seus autores. Muito recentemente, em novembro de 2019, chegou mesmo, tal como Marega, a querer abandonar um jogo contra o Hellas Verona, mas acabou por ser travado pelos colegas. Já este ano, depois de marcar um golo contra a Lazio, voltou a ser alvo de insultos dos adeptos da equipa de Roma, o que levou o jogo a ser interrompido e obrigou o clube a pagar uma coima.

 

Romelu Lukaku
Avançado belga filho de congoleses, Romelu Lukaku já sofreu abusos racistas tanto na seleção como no clube. Em relação aos adeptos nacionais, disse uma vez a seguinte frase: “Quando as coisas estavam a correr bem eu era Lukaku, o ponta de lança belga. Mas quando deixaram de correr bem eu já era Lukaku, o ponta de lança belga de origem congolesa”. Já a nível clubístico, a discriminação agravou-se quando se juntou ao Inter de Milão, em agosto de 2019. Logo no segundo jogo, uma partida contra o Cagliari, ouviu insultos e cantos símios da autoria das bancadas adversárias. Tristemente, o Cagliari acabou por ser absolvido e chegou a ter o apoio dos ultras do Inter, que afirmaram que o racismo não era um problema em Itália e que os cânticos funcionavam como forma de mero apoio. Foi ainda vítima de mais ataques, desta vez por parte dos media, durante o mês de dezembro. O jornal desportivo Corriere dello Sport publicou uma foto sua com Chris Smalling, também negro, acompanhadas das palavras “Black Friday”.

 

Özil e Gündoğan

Özil e Gündoğan não são negros, mas são muçulmanos. O que ainda pode ser pior aos olhos de muitas pessoas preconceituosas.

Em maio de 2018, os dois jogadores – que, apesar de nascidos em Gelsenkirchen, na Alemanha, vêm de famílias turcas – encontraram-se com Recep Tayyip Erdoğan, presidente da Turquia, e com ele apareceram numa polémica fotografia. Isto gerou, obviamente, muita controvérsia e várias críticas, algumas justificáveis, visto que o presidente Erdoğan tem muitas atitudes questionáveis, outras completamente inaceitáveis, por conterem comentários de índole xenófoba.
Mesut Özil (campeão do mundo pela Alemanha em 2014 e cinco vezes jogador alemão do ano) abandonou a seleção poucos meses depois devido à devastadora bola de neve que se gerou em torno da situação. Numa carta aberta, revelou que foi tratado de modo diferente e depreciativo pelo presidente da DFB, Reinhard Grindel, para além de ter recebido de, possivelmente, adeptos alemães, várias chamadas, e-mails, mensagens e comentários ofensivos, ameaçadores e xenófobos. Falou ainda de ter sido vaiado durante jogos do mundial de 2018 e de ter sido vítima de insultos por parte de políticos e homens influentes. Juntamente com a declaração, deixou a seguinte frase: “Sou alemão quando ganhamos mas um imigrante quando perdemos”.
Já Gündoğan, apesar de ter tomado a decisão de não deixar a seleção nacional, sofreu de um mal igualmente grande. Para além de vaiado e assobiado durante as partidas, o jogador chegou a ter o seu carro sabotado por alguns “adeptos”.
Mencione-se, todavia, que a foto com o presidente Erdoğan não foi o que deu início à xenofobia, apenas a agravou, pelo menos no caso de Özil. O médio do Arsenal já tinha sofrido xenofobia desde os seus tempos nas camadas mais jovens, embora de um modo mais brando e subtil. Fora da Alemanha, sofreu uma vez comentários xenófobos proferidos por David Villa, durante uma briga num jogo da Supercopa Espanhola entre o Real Madrid (seu ex-clube) e o Barcelona. Naturalmente, não reagiu da melhor maneira, agredindo o espanhol, o que lhe valeu um cartão vermelho.

 

Raheem Sterling
Nascido na Jamaica, Raheem Sterling vive em Inglaterra desde os cinco anos e desde que se tornou famoso que tem levantado a sua voz contra o racismo. Em dezembro de 2017, foi alvo de insultos racistas fora do centro de treinos do Manchester City, clube onde joga. O agressor acabou por ser punido com uma pena de prisão de 16 semanas. Em 2018, voltou a sofrer comentários depreciativos, desta vez num jogo entre o City e o Chelsea. Foi então que, nas redes sociais, partilhou os seus sentimentos e opiniões acerca de toda a situação. Começando por lamentar o comportamento do autor dos comentários, teceu duras críticas à imprensa inglesa, acusando-a de tratar de forma diferente os jogadores negros e citando um caso relativo aos seus colegas de equipa Phil Foden (branco) e Tosin Adarabioyo (negro). Quando ambos compraram casas de dois milhões de libras para as suas mães, a forma como as notícias foram dadas pelos media ingleses foi bastante diferente. Enquanto que, no caso de Foden, o jogador foi apelidado de “estrela do Manchester City” e a situação foi apresentada como positiva, no caso de Adarabioyo a compra foi rotulada como “absurda”.
Sterling afirma que, se voltar a ser alvo de racismo durante um jogo, não abandonará o campo e que enfrentará sempre os agressores de cabeça erguida. Tem sido aplaudido não só por fãs como também por colegas de equipa e até por Lewis Hamilton, célebre piloto negro de Fórmula 1.

 

Dani Alves
Este caso, apesar de igualmente triste teve, digamos, “um final feliz”. Ou melhor, um final engraçado, pela boa disposição com que o lateral brasileiro reagiu às provocações racistas. Em 2014, durante um jogo entre o Barcelona (então clube de Alves) e o Villarreal, um adepto rival decidiu atirar ao jogador uma banana, num comportamento de escárnio. Alves, contudo, em vez de se mostrar incomodado, pegou na banana e … comeu-a.
Em solidariedade para com Alves, Neymar e David Luiz, seus companheiros de seleção, lançaram nas redes sociais o hashtag #SomosTodosMacacos.
O autor do incidente acabou por ser punido, sendo-lhe retirado o seu passe vitalício para assistir aos jogos do Villarreal.

 

Infelizmente, os seis casos mencionados neste artigo são apenas uma amostra muito reduzida daquilo que é um vasto universo de situações igualmente vergonhosas. O futebol é apenas uma forma de dar visibilidade ao assunto mas a verdade é que, todos os dias, várias pessoas de todas as idades e em todos os lugares do mundo são vítimas de preconceito por causa da cor da sua pele ou da sua etnia e origens.

Até quando durará isto? Até quando vão estas pessoas ter de sofrer injustamente por algo que não escolheram e que não podem mudar? O racismo e a xenofobia são dois temas de extrema importância que devem ser discutidos com seriedade. Todos nós devemos aprender, desde pequenos, a respeitar o próximo.

 

 Escrito por: Beatriz Santos

Editado por: Mariana Mateus

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