A rubrica desta semana será totalmente dedicada à análise da carreira daquele que é um dos treinadores portugueses mais mediáticos e que, fruto das suas mais recentes conquistas, tem andado nas bocas do mundo. Referimo-nos, claro está, a Jorge Jesus.
Nascido na cidade da Amadora, deu os seus primeiros toques na bola corria o ano de 1970, no clube da sua terra – o Estrela da Amadora. Posteriormente (e ainda nos escalões de formação) representou, também, o Sporting CP, onde começou também a sua carreira profissional. No entanto, mesmo que não tenha sido mediático enquanto jogador, conta com passagens por clubes como Belenenses, União de Leiria, Vitória de Setúbal, Farense e Estrela da Amadora, tendo “pendurado as chuteiras” em 1989, ao serviço do Almancilense.

Logo no ano seguinte, decide iniciar a carreira de treinador, orientando a equipa do Amora. E é caso para dizer que (pelo menos no que a Portugal diz respeito) foi sempre a subir. Destacam-se as passagens pelo regresso às suas origens (teve oportunidade de treinar o Estrela da Amadora por duas ocasiões), assim como por outros históricos do futebol nacional: Vitória de Guimarães, Belenenses e, finalmente, SC Braga.

A passagem pelo SC Braga foi particularmente importante porque foi aquela que o “catapultou” no futebol português, fazendo com que o clube que se seguia fosse um dos denominados “três grandes”: o SL Benfica.
Chegado ao Estádio da Luz com o objetivo de meter um ponto final à hegemonia do FC Porto (recorde-se que os azuis eram tetra-campeões), Jorge Jesus conseguiu com que os encarnados voltassem a ser campeões nacionais (na época 2009/2010) mas, mais que isso, conseguiu com que as águias praticassem um futebol puramente incrível e dinâmico, valorizando jogadores que hoje são de classe mundial (destaque-se, por exemplo, o argentino Angel Di Maria). E com isso, fez com que os adeptos encarnados voltassem acreditar nas suas cores e de que o Benfica de antigamente estava de volta.

Tendo ficado, no total, durante seis temporadas ao serviço do Benfica, destaca-se a conquista de três campeonatos nacionais e a presença em duas finais da Liga Europa em 2013 e 2014 (derrotas frente ao Chelsea e frente ao Sevilha, respetivamente). E desengane-se quem julga que o “mister” teve tarefa fácil no Benfica: recorde-se o fatídico ano dos “92´” para justificar isso mesmo (no espaço de uma semana, o Benfica de Jorge Jesus perdeu todas as provas em que estava envolvido).

No entanto, e fazendo um balanço da sua passagem pelo Benfica, conclui-se que a experiência foi bastante positiva: os títulos começaram a voltar para o Estádio da Luz e os encarnados voltaram a praticar um futebol que fazia recordar os tempos áureos do século passado.

E se o técnico Jorge Jesus é conhecido por se envolver em polémicas regularmente, a maior delas estava reservada para o Verão de 2015, em que anunciou que iria trocar as águias para treinar o rival Sporting.

Numa altura em que se vivia um autêntica “guerra” no seio do futebol português, esta notícia veio abalar ainda mais o futebol nacional tendo alcançado o seu auge após o Sporting CP vencer em pleno Estádio da Luz o rival Benfica por uns esclarecedores 3-0. Mas foi desde a Supertaça (disputada em agosto com vitória do Sporting por 1-0, igualmente sobre o Benfica) que começaram as polémicas entre Jorge Jesus e Rui Vitória (que foi o seu substituto no Benfica). Desde o software roubado à “epopeia” do Ferrari, foram vários os “galhardetes” trocados entre ambos. E se o Sporting era, de facto, a equipa que jogava melhor futebol em Portugal, as polémicas iniciadas não só pelo técnico como pelo então presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, deram a força necessária ao rival para que este conseguisse revalidar o título de campeão nacional, totalmente desacreditado pelos seus adeptos.
Ao serviço dos leões, destaca-se a conquista de uma Supertaça e de uma Taça da Liga. A isto acrescenta-se uma curiosidade: o Sporting fez a maior pontuação da sua história no campeonato português (todavia insuficiente para alcançar a vitória no campeonato).

A estadia de Jorge Jesus em Alvalade durou duas temporadas, tendo acabado em 2018 (muito por força do ataque à Academia de Alcochete, que culminou com uma crise profunda na estrutura diretiva do clube de Alvalade). Seguia-se um novo clube e, quando muitos pensavam que o “mister” iria para um dos outros clubes ditos “grandes” em Portugal ou para um gigante europeu, Jorge Jesus voltaria a surpreender tudo e todos.
Seguia-se o Al-Hilal, da Arábia Saudita. E apesar de a experiência a nível de resultados ter corrido bem, o “mister” não se conseguiu adaptar e concluiu que abandonar o clube era a melhor opção, mesmo sendo venerado pelos adeptos locais (recorde-se a frase que se tornou viral pelos adeptos “I love you, Jesus”). Não tendo terminado a época, conseguiu, mesmo assim, conquistar um troféu: a Supertaça da Arábia Saudita.

Por fim, Jorge Jesus atravessa o Atlântico até ao Rio de Janeiro para assumir o comando do Flamengo, numa decisão que “chocou” muitos adeptos por ser, à semelhança de algumas anteriores, totalmente inesperada.
Assumindo o clube numa posição delicada em que a pressão dos adeptos era constante (tendo o técnico sido alvo dessa mesma pressão), a verdade é que a sua passagem pelo Brasil foi histórica: a conquista do Brasileirão (a quatro jornadas do final) e da Taça dos Libertadores (a prova mais importante de clubes da América do Sul) culminaram uma época de sucesso. Se antes existiam várias dúvidas quanto à qualidade do treinador português, os resultados falam por si com o técnico a ser regularmente ovacionado e louvado pelo seu trabalho.

Em suma, conclui-se que por onde Jorge Jesus passou, equipas desacreditadas em si mesmas voltaram a jogar bom futebol e, na maioria dos casos, conseguiram regressar aos títulos. Com o Brasileirão prestes a terminar e com o Mundial de Clubes aí à porta, Jorge Jesus poderá escrever novamente o seu nome na história do clube Carioca. Depois disso, o futuro do “mister” é incerto. Continuará no Flamengo? Irá treinar um grande europeu? Irá regressar a Portugal? São as perguntas que todos colocam mas que, para já, terão de ficar sem resposta.
Escrito por: Filipe Ribeiro
Editado por: Cláudio Nogueira