No Lá Para Dentro desta semana, numa altura em que se chega a meio das fases de grupos das provas europeias, importa perceber, desde já, como se estão a comportar as cinco equipas portuguesas em prova.

Comecemos por analisar a prova do campeão português em título: o Sport Lisboa e Benfica. Os encarnados, tendo em conta a conquista do campeonato português, entraram de forma direta na Liga dos Campeões e, fruto da eliminação do F.C. Porto no play-off de acesso frente ao Krasnodar, são a única equipa lusa a fazer-se representar na “liga milionária”. Foram incluídos, via sorteio, no grupo G juntamente com os russos do Zenit, com os franceses do Olympique Lyon e com os alemães do RB Leipzig. Neste momento, o Benfica ocupa o 4º e último posto do grupo G, somando apenas 3 pontos (fruto da vitória alcançada na última jornada, na receção aos franceses do Lyon por 2-1). No entanto, continua tudo em aberto para os comandados de Bruno Lage, visto que estão inseridos num dos grupos mais equilibrados da prova e, além disso, a desvantagem é de apenas 3 pontos em relação ao líder Leipzig.

Coloca-se, sim, a questão de saber qual é a ambição europeia dos “encarnados”: se por um lado temos o presidente Luís Filipe Vieira a assumir o objetivo europeu, em campo temos um Benfica com uma postura totalmente contrária – más exibições e rotação do plantel são duas características que resumem bem a prova realizada até agora. Em suma, parece que o Leipzig nos próximos jogos irá consolidar a qualificação para os oitavos-de-final da Champions. O 2º e 3º lugar do grupo (que dão acesso aos “oitavos” da Champions e à Liga Europa, respetivamente) serão alvo de grande disputa e o Benfica reúne todas as condições para ambicionar mais e melhor na Europa, sobretudo se tivermos em conta a irregularidade da equipa do Zenit e a forte crise que atravessa o Lyon (ocupa o 17º lugar na liga francesa, tendo inclusivamente mudado de treinador recentemente, com Rudi Garcia a substituir Sylvinho). Um grupo que certamente merecerá a atenção de todos.

Relativamente à prestação europeia do Futebol Clube do Porto, é caso para dizer que começou da pior maneira possível, com uma eliminação surpreendente frente aos russos do Krasnodar, fazendo com que, tal como já foi referido, Portugal tenha apenas um representante na Liga dos Campeões. Consequentemente, os “dragões” disputam o grupo G da Liga Europa, juntamente com os suíços do Young Boys, com os escoceses do Rangers e com os holandeses do Feyenoord. À semelhança do Benfica na Liga dos Campeões, o Porto vê-se incluído num dos grupos mais equilibrados, desta feita na Liga Europa. Neste momento ocupa o 3º lugar do grupo com 4 pontos e está em igualdade pontual com o 2º classificado Rangers (com quem empataram na última jornada, no Estádio do Dragão, 1-1).

O Porto começou da melhor maneira a fase de grupos ao impor a única derrota (até agora) dos suíços do Young Boys (que lideram o grupo G com 6 pontos), mas a derrota em Roterdão e o empate caseiro frente aos comandados de Steven Gerrard complicaram um pouco a qualificação. No entanto, o Porto reúne todas as condições para seguir em frente na prova, tendo um plantel que é largamente superior ao da concorrência. Por isso, se Sérgio Conceição conseguir com que a sua equipa melhore o nível exibicional (não cometendo erros amadores como nos últimos dois jogos) e que aumente a sua taxa de concretização, sem dúvida que os “dragões” poderão voltar a ter o favoritismo que tinham à partida e, acima de tudo, poderão carimbar a passagem à próxima eliminatória.

O Sporting Clube de Portugal, como todos têm conhecimento, atravessa um período bastante delicado, em que os adeptos e a direção não estão, de todo, juntos “a remar” para o mesmo lado. E apesar desse clima de instabilidade, o Sporting soma 6 pontos e ocupa o 2º lugar do grupo D da Liga Europa, com menos um ponto do que o líder PSV Eindhoven. No entanto, importa referir que as exibições leoninas, à semelhança do que acontece a nível interno, não têm convencido. As vitórias alcançadas foram as duas em casa e pela margem mínima (2-1 e 1-0, frente aos austríacos do LASK Linz e frente aos noruegueses do Rosenborg, respetivamente).

Em condições normais, poder-se-ia afirmar que os “leões” teriam todas as condições para seguir em frente na prova, mas perante a irregularidade exibicional da equipa orientada por Jorge Silas, parece prematuro atribuir algum tipo de favoritismo. O vice-campeão holandês PSV, por sua vez, parece ter reunidas todas as condições para seguir em frente e o empate caseiro frente ao LASK Linz obriga-nos a retirar uma conclusão: os austríacos querem discutir o apuramento e o Sporting é, neste momento, um adversário mais frágil do que os holandeses. Em suma, neste grupo prevê-se uma discussão a três pelo apuramento para a próxima fase (Rosenborg muito dificilmente seguirá em frente, visto que nos três encontros disputados soma três derrotas). No entanto, a bola é redonda e tudo pode acontecer. Resta-nos aguardar, com expetativa, pelos próximos encontros!

Falemos, agora, daquela que tem sido a maior surpresa portuguesa a nível europeu: o Sporting Clube de Braga lidera o grupo K da Liga Europa, somando 7 pontos em três jogos (fruto das vitórias fora frente aos ingleses do Wolverhampton e frente aos turcos do Besiktas e do empate caseiro frente aos checos do Slovan Bratislava). No entanto, é caso para dizer que a equipa orientada por Ricardo Sá Pinto começou uma brilhante campanha europeia logo nos play-offs, em que eliminou os dinamarqueses do Brondby e os russos do Spartak de Moscovo. Se a nível interno as exibições dos “guerreiros do Minho” não têm convencido (ocupam a 11ª posição da Liga NOS), na Europa tal não acontece: uma equipa lutadora, inteligente e com um contra-ataque fortíssimo é a imagem do Braga europeu, o que faz desta equipa uma forte candidata a qualificar-se para a próxima fase. Se é sabido que o favorito Wolves vai lutar pela liderança do grupo, o mesmo não se poderá dizer do Besiktas que em três jogos soma três derrotas e que, por isso, já está com “um pé de fora” da Liga Europa. Poderá ter uma palavra a dizer o Slovan, mas tudo indica que serão os arsenalistas e os lobos ingleses a seguir em frente.

Por fim, resta mencionar o Vitória Sport Clube que foi, talvez, a equipa portuguesa mais azarada no sorteio europeu (tendo calhado no grupo F, juntamente com os ingleses do Arsenal, os alemães do Eintracht Frankfurt e os belgas do Standard de Liége). Pela mera observação das duas primeiras equipas, seria de calcular que os vimaranenses não teriam grandes hipóteses na luta pelo apuramento (e tal veio mesmo a confirmar-se, visto que o Vitória em três jogos soma três derrotas). No entanto, não se poderá julgar a equipa orientada por Ivo Vieira, que nos três jogos disputados deu tudo o que tinha.

O apuramento é praticamente impossível, mas deve ser enaltecido o esforço que os “conquistadores” fizeram para atingir a fase de grupos da Liga Europa (com destaque para o play-off frente aos romenos do FCSB) e, perante as circunstâncias, não se poderia exigir mais desta equipa que esteve muito próxima de pontuar na última jornada, no Emirates Stadium, em Londres (derrota por 3-2, com Nicólas Pépé a apontar o golo da vitória dos “gunners” apenas aos 90+2). Para concluir, resta mencionar o forte apoio dos adeptos oriundos de Guimarães, que não só criam um ambiente altamente adverso a quem visita o Estádio D.Afonso Henriques, como também fizeram uma deslocação simplesmente incrível a Londres: foram 2.500 os adeptos vimaranenses que esgotaram (por duas vezes) os bilhetes cedidos pelos londrinos.

Em suma, Portugal poderá ter até quatro equipas nas rondas a eliminar das provas da UEFA (infelizmente, consolida-se desde já a eliminação do Vitória de Guimarães – apesar de matematicamente ainda ser possível, na prática tal não nos parece plausível). E tendo Portugal, nesta semana, ultrapassado a Rússia no ranking da UEFA (passando a ocupar o 6.º lugar), torna-se imperativo consolidar a posição alcançada, de modo a que mais equipas portuguesas tenham acesso às provas da UEFA, aumentando o número de vagas para Portugal quer na Liga dos Campeões, quer na Liga Europa. E para consolidar esse mesmo lugar, será de desejar que as restantes quatro equipas consigam o apuramento, pois esse ranking irá variar consoante as prestações das mesmas.

Para concluir a rubrica desta semana, mencionar o feito histórico que se registou na última ronda da Taça de Portugal, em que foram eliminadas sete equipas da primeira divisão por equipas de divisões inferiores (de entre as quais duas que participam em competições da UEFA: o Vitória de Guimarães foi eliminado pelo Sintra Football e o Sporting CP foi derrotado em Alverca). Uma prova de que há qualidade nos escalões inferiores do nosso futebol, o que valoriza não só o espetáculo, como o futebol português na sua globalidade.

Escrito por: Filipe Ribeiro

Editado por: João Rego