Síria: avanços e recuos

Desde 2011. Escaladas de tensões. Milhões de mortes. Acusações mútuas sucessivas. Terror diário. Ameaças permanentes. Eis o panorama que se vive na Síria. A toda a hora. A todo o instante.

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Hoje foi um dia de azar para mim. O dia não foi produtivo, acordei tarde, parti dois frascos, não fiz aquilo que pretendia. A questão é: o que será o azar? Azar, má sorte, infortúnio, o que lhe quiserem chamar. Azar significa rasgar, dilacerar, e mais outras infinitas palavras que se ditam no mesmo comprimento de onda do serem. A segunda questão é: será que tenho azar? E chego à resposta serena que nega a existência desse sentimento, sentido ou coisa. E dito isto, penso na Síria. Não será a Síria um paradigma de infortúnios constantes? De avanços que trazem no seu âmago o retrocesso e que, por isso, acabam só por se tornar em recuos e nunca em soerguimento.

Há uns dias os Estados Unidos (que intervinham no país desde 2014) anunciaram a retirada das tropas norte-americanas do nordeste da Síria. Consequentemente, a Turquia ameaçou avançar sobre o território numa ofensiva militar. Entramos neste dualismo de alegações: uns que dizem que as forças norte-americanas, estando presentes em território sírio, são uma ameaça à soberania. Outros que acreditam no objectivo primário de luta contra os extremistas islâmicos por parte dos EUA, no apoio às tropas sírias. Outros que observam as ambições da Turquia nesta região pela riqueza de recursos. Outros que dizem o mesmo perante os EUA. Outros referem com assertividade as ligações de um ou de outro país às organizações terroristas e a facilitação de entrada às mesmas nos territórios.

A verdade é que na onda destas disputas verbais, ideológicas se assim quiserem chamar, à priori, originam, à posteriori, conflitos constantes territoriais e políticos que nada mais são do que um lesar de forças naqueles que ainda têm o sonho de ver nascer uma nova Síria. Os curdos sofrem, todos sofrem. A Síria é atacada, somos todos atacados. E isso é o azar e a nossa sorte. A nossa sorte porque não somos nós, mas o nosso azar porque são os nossos que ainda que não sejam nossos directamente, estão ligados a nós.

Continuaremos nós a permitir que isto aconteça? O terrorismo avança, a liberdade recua. As ofensivas militares ganham força, as populações perdem. A guerra perpetua-se, a paz elimina-se. O não ser obtém ímpeto, o ser cai na frustração. Seremos alguém para dizer o que deve ou não ser feito? Mas se não dissermos, será justo silenciar-nos? Será correto não permitir que alguém tenha voz? E, afinal, o que é o certo e o incerto? Mas uma coisa eu tenho como verdadeira e precisa: somos todos humanos e não há nada mais importante do que isso, fazendo jus à transcendência que isso acarreta e à responsabilidade absoluta que devemos ter uns perante os outros e de uns para os outros.

Este artigo de opinião é da pura responsabilidade do autor, não representando as posições do desacordo ou dos seus afiliados. 

Escrito por: Patrícia Santos

Editado por: Cláudio Nogueira

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