Cinco anos após a estreia de “Maléfica”, a Disney abraça de novo a história da Bela Adormecida, desta vez abrindo novos caminhos na narrativa do conto de fadas.
Se no filme de 2014 vemos o crescimento de Aurora desde bebé até completar os 16 anos de idade (altura em que se deixa cair num sono profundo derivado da maldição da personagem que dá nome ao filme), em “Maléfica: Mestre do Mal” presenciamos uma rapariga determinada e capaz de governar Moors, o reino do qual é rainha.
Não é por não ter sido o beijo de Philip, príncipe de Ulstead e amado de Aurora, a acordar a Bela Adormecida do seu sono profundo, que a personagem é incapaz de amar, pelo contrário. O matrimónio que este propôs comprova o sentimento que cresceu ao longo dos cinco anos que passou ao lado de Aurora. Todas as fadas se demonstram entusiasmadas, com exceção de uma, a mais poderosa de todas, Maléfica.
A dificuldade em aceitar o casamento é compreensível para todos aqueles que viram o filme que antecede este. A mágoa deixada pela ganância do rei Stefan fez com que fosse impossível para Maléfica acreditar na inocência dos atos de Philip. “O amor nem sempre acaba bem, ferazinha”, adverte. Mas os conselhos daquela que a criou pouco servem pois nada consegue travar esta união, uma união que se revela ser muito mais do que uma simples celebração da relação dos dois jovens.
A verdade é que ao ligar as duas famílias estaria a ser quebrada uma guerra que há muito durava. A tensão entre seres mágicos e humanos poderia cessar com dois simples “aceito”. E parecia estar tudo a correr bem. Maléfica parecia ceder e confiar na sua protegida e a família do príncipe esforçava-se para que tudo corresse suavemente. Ou assim parecia.
A imagem de Maléfica é manchada, quando, num jantar de celebração do futuro matrimónio, Ingrith (mãe de Philip) a incrimina e acusa de amaldiçoar o Rei. Aurora, incapaz de ver o plano orquestrado, acredita na versão da história da mãe do príncipe. Maléfica foge mas ao fugir a mão direita da rainha tenta matá-la (numa tentativa falhada). É aqui que somos introduzidos a todo um outro mundo – Maléfica não é a única da sua “espécie”. Descobrimos um abrigo onde todos os seus vivem escondidos com medo das ações dos humanos. Mas estariam escondidos por pouco tempo pois o casamento tornou-se o desencadear de uma acesa batalha que viria a estabelecer, de novo, a paz entre os dois reinos.

A premissa da narrativa é um pouco tensa, pois reaviva o conflito entre humanos e seres mágicos, como foi previamente referido. No entanto, as novas personagens animadas, em particular uma com o nome de Pinto, trazem momentos engraçados e completam o toque “Disney” do filme.
“Maléfica: Mestre do Mal”, acaba por mostrar também um grande desenvolvimento da história face à do que o antecede. Neste filme, vemos uma maior independência face à sua base, a história da Bela Adormecida. Esta afirmação pode levar o leitor a questionar: “Essa independência não estava já lá?” De certo que estava, pois “Maléfica” é uma grande reinvenção da narrativa base, tendo em conta que a personagem principal é a vilã, vista de uma outra perspetiva. Todavia ainda temos uma grande referência a essa base e neste filme focamo-nos novamente na paz entre criaturas mágicas e humanos, mas também na origem da protagonista e como esta poderá evoluir ainda mais.
O elenco é notável, desde a protagonista Angelina Jolie, que já nos tinha provado no primeiro filme que era perfeita para o papel de Maleficent, à mãe do príncipe Philip, a rainha Ingrith, interpretada por Michelle Pfeiffer, uma atriz com uma carreira ilustre e preenchida, que nos consegue, através da sua personagem, aspirar os sentimentos de tremenda raiva e indignação. Os atores mais jovens, com destaque para Elle Fanning que dá vida a Aurora, também são essenciais para um excelente trabalho.
A imagem do filme tem mudanças de cor conforme o plano, mas a sua qualidade está muito bem conseguida, especialmente o CGI e todos os seus efeitos especiais que trazem a magia ao filme. Esta magia envolve a própria e todos os seres de Moors.
A Disney tem feito uma grande aposta em recriações live action dos grandes clássicos, como é caso do Dumbo e Aladdin, mas Maléfica destaca-se dos outros. Em vez de seguir fielmente o enredo original, este, para além de se focar na personagem que nos foi apresentada durante toda a vida como sendo a antagonista, transmite também a mensagem de que para cada história existem duas (ou mais) versões. E se “Quem conta um conto acrescenta um ponto” a Disney conseguiu, de uma forma original e cativante, trazer um novo encanto à história da Bela Adormecida.
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Escrito por: Rafaela Boita e Mariana Mateus
Editado por: Mariana Mateus