O segundo dia do Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais abriu às 10:30h, com a conferência “Crise na Venezuela: Consequências político-sociais com impacto económico”. Para esta sessão, o Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais convidou a professora Nancy Gomes da Universidade Autónoma de Lisboa e o Doutor José Nogueira.
A primeira oradora, a professora Nancy Gomes, procurou dar um pequeno contexto da situação e como se chegou ao panorama atual. Assim, explicou que, após o golpe de Estado de 2002, o governo de Chávez, num contexto favorável relativamente ao preço do petróleo, adotou um conjunto de medidas económicas e programas sociais insustentáveis. Ultrapassando as fronteiras, Hugo Chávez estabeleceu relações com outros Estados ideologicamente próximos, como são exemplo as relações com a Rússia e a China.

Desde o início do século XX que a Venezuela apostou forte na indústria do petróleo, ficando, assim, dependente deste recurso energético, tanto que a queda do seu preço nos últimos anos afetou em grande medida a economia monodependente da Venezuela. No entanto, a queda nos mercados internacionais do petróleo não pode ser a única justificativa para a situação que a Venezuela vive hoje, uma vez que outros Estados produtores de petróleo verificam esta mesma dependência e, mesmo assim, continuam a mostrar bons indicadores económicos, esclareceu a professora.
O segundo orador, o Doutor José Nogueira, veio introduzir uma visão mais pragmática através de uma análise geopolítica da Venezuela e da região. Clarificou que a América do Sul sempre teve uma posição periférica no plano internacional, como provam as teorias de H. Mackinder , K. Haushoffer ou S. Cohen. Lembrou, ainda, que a história da região é importante para percebermos a conjuntura atual. Os impérios que colonizaram a região deixaram profundas marcas, visíveis ainda hoje quando analisados fatores culturais ou políticos. Ainda num contexto histórico, o Doutor José Nogueira esclareceu que a região, logo após os movimentos de independência, viu-se influenciada pela doutrina Monroe e pelas linhas da política externa norte-americana, que seguiam uma posição favorável à América independente e livre dos impérios europeus. Desta forma, podemos perceber a noção de que a América do Sul tem sido o “quintal traseiro” dos Estados Unidos pois tem estendido a sua influência na região desde que o Presidente Monroe anunciou a sua ideia para o continente.
Este segundo dia do ENERI ficou preenchido pela conferência “Geoeconomia: nova fonte de poder”. No painel estiveram presentes a Professora Fernanda Ilhéu e o Embaixador José Manuel Duarte de Jesus.

Numa linha muito geral, o foco do painel foi direcionado para o caso chinês e a Belt and Road Initiative. Este projeto chinês foi introduzido pelo presidente Xi Jinping em 2013, revelando-se hoje num mega projeto de investimento direto e desenvolvimento de infra-estruturas que apoiam o comércio entre a China e o resto do mundo, sobretudo no Sudeste Asiático e continente Africano.
O senhor Embaixador esclareceu que a iniciativa funciona sob uma visão a longo prazo dos lideres chineses, a qual traz benefícios imediatos para a China e os seus parceiros, no entanto, os verdadeiros resultados mostrar-se-ão dentro das próximas décadas. Por sua vez, a Professora Fernanda Ilhéu expôs uma brilhante linha comparativa entre o Plano Marshall e a ‘Nova Rota da Seda’. Muitos optam por estabelecer semelhanças entre o empreendimento chinês e o plano de assistência económica no pós Segunda Guerra Mundial dos Estados Unidos , o que fundamenta a preocupação da Professora Fernanda Ilhéu em evidenciar as diferenças e várias características que separam estes dois projetos mencionados.
Escrito por: Manuel Lopez